Thursday 3 June 2021

CRISTIANISMO E INTELECTO

Uma das razões porque o mundo cristão está repleto de ateus, agnósticos, céticos, indiferentes, materialistas, etc., está nessa infeliz tendência dos teólogos de quererem demonstrar intelectualmente as verdades supremas do Universo e da vida humana. Mas essas tentativas, por mais deslumbrantes, estão condenadas a falhar, e como muitos cristãos não conhecem outro meio para conseguir certeza real e suficiente sobre Deus e a vida eterna, ficam sem essa certeza, e, portanto, sem um alicerce sólido para a sua vida ética. Chegam a ponto de pensar que os fatos sejam tão duvidosos como os argumentos.

A certeza não vem das provas ou demonstrações chamadas científicas. A verdadeira certeza do mundo eterno é inteiramente independente de qualquer prova intelectual ou científica. Um Deus cientificamente demonstrável ou demonstrado não é Deus, é um pseudo deus, um ídolo, um fetiche criado pela inteligência e por ela adorado. Quem adora um Deus intelectual e cientificamente demonstrado é um idólatra, um fetichista, praticamente um ateu!

Que diferença há entre o fetichismo de um povo que ainda está no estágio de adorar seu ídolo de madeira ou de barro - e o fetichismo de um cristão científico que adora um ídolo arquitetado por sua inteligência? A diferença está apenas no material de que é confeccionado esse ídolo: o idólatra físico faz o seu deus de matéria física - o idólatra mental faz o seu deus de matéria mental - mas tanto um como o outro é fetichismo, idolatria.

Quando, nos tempos de Constantino Magno, o Cristianismo saiu das catacumbas e fez a transição do Evangelho para a teologia, da experiência espiritual de Jesus, para a erudição intelectual do Cristianismo, foram abertas as portas para esse fetichismo da escola de Aristóteles, cujo aborto macabro se chamam Cruzadas, Inquisição, perseguição a ferro e fogo, matança de infiéis, hereges e dissidentes e todos os outros males criados pelo intelecto satânico não espiritualizado. Mais tarde, o protestantismo, que parecia retomar o trilho do puro Evangelho, acabou por sucumbir grandemente ao impacto da mesma escola de Aristóteles, mudando apenas o rótulo externo, mas conservando a substância interna. O Protestantismo se vangloriava de ter abolido os dogmas de Roma, quando, na realidade, é tão dogmático como Tomás de Aquino ou Gregório VII.

O Cristianismo não é uma teologia que se deva entender - é uma realidade que se deve viver! Quem não vive o Cristo é analfabeto espiritual, embora seja doutor em todas as teologias e conheça profundamente a Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse.

Se Satanás tivesse experiência pessoal de Deus, em vez de apenas crer nele teoricamente, deixaria de ser Satã e se tornaria um Cristo.

O satanismo intelectual-teológico da escola aristotélica, tanto católico como protestante, tem sido e é ainda um veneno sutil no corpo do Cristianismo. É mais fácil converter a Cristo um homem simples, ignorante em matéria de Cristianismo, do que um cristão intelectualizado que identifique a sua teologia com o Evangelho. O apóstolo Paulo fundou uma cristandade florescente no meio da libertinagem sexual de Corinto - mas não conseguiu fundar uma igreja cristã no meio do orgulhoso intelectualismo de Atenas. Parece que os escravos da luxúria eram menos adversos ao Evangelho do que os demônios do orgulho intelectual.

Texto revisado extraído do livro Evangelho ou Teologia?

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