A maioria das pessoas sofrem de um notável vazio interior, a despeito da agitação de suas vidas.
Quando lhes faltam praças públicas, avenidas, cinemas, teatros, praias, cassinos e outros entretenimentos, e não sabendo o que fazer, vagueiam por todos os lugares bocejando e suspirando de tédio em uma tentativa de acelerar a marcha do tempo. E para escapar da monotonia de seu deserto interior, inventam todos os dias, novas e mais excêntricas distrações.
Nestes tempos de isolamento e distanciamento social, são vastas as ideias e os artifícios que o ser humano descobre para preencher o vazio que pensa estar sofrendo. Notadamente social, o homem não pode deixar de estar se relacionando com seus semelhantes, porém nisso, não está implícito, o seu relacionamento moral e ético, pois os incidentes de violência que surgiram em todas as sociedades, além de suicídios, da desobediência civil e todos os outros sintomas mórbidos da falta de autoconhecimento, são alarmantes, mostrando claramente, o surgimento de uma nova forma de pandemia de diferente dimensão, a da saúde mental, pois se o corpo humano apresenta uma resiliência formidável, a mente humana desaba imediatamente quando é arremessada para fora de sua zona de conforto.
Na verdade, não é tarefa fácil para alguém se tolerar a si mesmo, quando não possui ao seu redor, um mundo centrado ao qual poderia gravitar em silêncio por um longo período de tempo; porque esse mundo periférico não é exatamente o mundo verdadeiro, é apenas o mundo do ego, e não faz parte do Eu verdadeiro.
Há uma escuridão silenciosa - e há uma luz silenciosa.
Há um silêncio passivo - e há um silêncio ativo.
Há um silêncio que é um vazio - e há um silêncio que é uma plenitude.
Há um silêncio triste como a morte - e há um silêncio tão eufórico como a vida.
Todas as grandes coisas são silenciosas, porque elas são intensas e de plena exuberância: a trajetória das estrelas e dos átomos, o crescimento das plantas, o épico da luz, os mistérios da eletricidade, as maravilhas do pensamento, a grandeza do espírito, a vida eterna da Divindade - tudo isso é dinamicamente silencioso e abundantemente fértil.
O homem sofre de uma hipertrofia deplorável de ruído e uma atrofia fatal de silêncio. Mesmo quando, por algumas horas ou dias, parece querer fugir da vida profissional e dos ruídos da cidade, tenta canalizar para o silêncio da natureza, pelo menos alguns dos ruídos e leva consigo toda uma parafernália eletrônica da vida moderna para se distrair, ou então é levado a conversas superficiais e desnecessárias com outras vítimas da mesma enfermidade.
O ruído foi sempre o inseparável companheiro do homem incompleto, desde os gritos estridentes do homem do passado, até os gritos e histerias do homem moderno. O homem só começa a sentir o desprezo do ruído quando se distancia da análise mental e se aproxima da intuição espiritual – e no zênite da experiência íntima impera o silêncio absoluto, fecundo, creador, o silêncio-plenitude.
Deus é infinitamente silencioso, e quanto mais o homem se aproxima de Deus, mais silencioso se torna.
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