O verdadeiro educador deve ser um homem altamente “realizado”; deve ter realizado em si os seus mais profundos valores humanos; só assim poderá servir de guia e mentor a outros, não tanto pelo que diz ou faz, mas sobretudo pelo que é. Deve ser plenamente educado, para que possa educar.
Ser educado não
quer dizer apenas ter bons modos sociais; e sim que deva ter despertado em si
os valores da natureza humana. “Educar” vem do verbo latino educare,
derivado de educere, que quer dizer “extrair”, conduzir para fora, ou
seja, despertar no homem aqueles elementos positivos que nele se acham
dormentes, como verdade, honestidade, justiça, amor, benevolência,
solidariedade, etc. O educador é alguém que deve extrair do seu educando o que
nele dormita de melhor e mais puro. Educar não é injetar, forçar, mas sim
extrair e desenvolver o que já existe na alma do educando, assim como a luz
solar desperta e desenvolve na semente, a planta que nela existe
potencialmente.
Mas, como poderia
alguém despertar nas outras pessoas, os bons elementos, se no educador esses
elementos não estivessem plenamente despertados?
Para que alguém
possa extrair o que há de bom em seu educando, ele mesmo deve se achar
firmemente consolidado nesse plano do bem, ao qual quer direcionar seu pupilo.
Quem tenta “empurrar” em vez de “atrair” não é educador, por isto, o educador deve
ir na vanguarda do ser bom, e não ficar na retaguarda do ser mau, tentando
empurrar o seu educando para a vanguarda das alturas, onde ele mesmo não está.
Em última análise,
todo esse problema educacional se resume na questão da verdade e da absoluta sinceridade
que o educador deve ter para consigo mesmo; quem não é 100% aquilo que
apresenta aos outros, em palavras e atitudes, não pode ser educador, não pode
dar exemplos; não pode ser a seta indicadora e consequentemente não pode tentar
extrair o que potencialmente existe de mau em seu pupilo, porque o educador,
ele mesmo, não se acha isento do mau.
Ser educador
equivale a um tremendo desafio para ser integralmente verdadeiro e honesto
consigo mesmo. Quem não está disposto a aceitar o desafio da verdade absoluta,
não se exponha a essa perigosa e gloriosa aventura de querer educar os outros.
De maneira que o
problema da educação culmina no problema central da auto-realização do homem.
Para que alguém seja um verdadeiro educador não basta estudar a psicologia
periférica e superficial que vem exposta na maior parte dos livros sobre
educação – é necessário que desça aos mais profundos abismos da sua
centralidade, seu próprio Eu, entrando em contato direto com o alicerce cósmico
da sua natureza humana, daquilo que ele “é”, e não apenas daquilo que ele
“tem”, pois o homem comum só se interessa pelo “ter”, pelas quantidades – ao
passo que o homem mais consciente de sua realidade, se entusiasma pelo “ser”,
pelas qualidades.
A educação total
exige a realização do homem integral.
Mas quem dará
esses homens integrais?
Não há governo no
mundo que os possa criar ou decretar – é necessário que o indivíduo desenvolva
dentro de si esse homem integral.
E isto é possível
porque dentro de cada ser humano existe algo de grande e melhor do que aquilo
que existe fora de nós. O homem é muito mais aquilo que pode vir a ser e deseja
ser do que aquilo que ele é no nível histórico da sua vida. O homem é a sua
permanente e silenciosa atitude interna, e não os seus ruidosos atos externos e
transitórios. O homem é a sua eterna potencialidade, e não apenas a sua
dinâmica temporal.
Homem, procura ser
no teu externo existir aquilo que és no seu interno ser!
Homem, materializa
a tua divina essência – e serás ótimo educador, por seres plenamente educado!
Texto revisado e
extraído do livro Novos Rumos para a Educação, págs. 16 a 19.
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