Quando os fariseus arrastaram aos pés de Jesus a adúltera – eles tiveram um momento de gozo supremo, porque não há para o fariseu delícia maior do que remexer latas de lixo – em casa alheia.
Expor em praça pública, as fraquezas do próximo! Pois quanto mais raquítico e depauperado é o caráter de alguém, tanto mais sente a volúpia de fazer estatística dos pecados alheios e catalogar as suas próprias virtudes.
É fácil esquecer que censurar as imperfeições alheias é um direito que só o homem perfeito possui. Mas, no entanto, o homem perfeito é tanto mais indulgente com os outros – quanto mais austero consigo mesmo!
“Mestre – dizem os sepulcros caiados das sinagogas – esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés mandou que apedrejássemos semelhantes mulheres. E tu – que dizes?”
Antegozando os cruéis apuros do profeta galileu, na resposta, os maldosos censores riam disfarçadamente. Pois, se Jesus a absolvesse, contradiria a Moisés – se a condenasse, contradiria a si mesmo, à sua doutrina de indulgência e perdão.
Ou Cristo contra Moisés, ou Cristo contra Cristo – dilema fatal!
Tão bem armada estava a armadilha, que a incauta avezinha não fugiria à catástrofe. E os maldosos caçadores se põem à espreita, ansiosos por ver a avezinha pisar no fatídico alçapão.
Após uma pausa de estranha atitude e gestos, o Rabi galileu respondeu sereno e calmo: “Quem dentre vós for sem pecado ... que atire a primeira pedra”.
A adúltera deve ser apedrejada – Cristo com Moisés. Mas por mãos puras, pois não convém que pecadores castiguem uma pecadora – Cristo acima de Moisés.
Perplexos, esses traidores se entreolham pois se voltou contra eles, a armadilha que à avezinha armaram ... E, antes de caírem vítimas da própria armadilha, retiraram-se, confusos, cabisbaixos, derrotados...
Não teria Jesus, escrito nas areias os pecados dos acusadores da pecadora?
Por demais clarividentes eram as pupilas do Nazareno – penetravam a superfície daqueles homens, os chamados “doutores da lei”, vestidos com roupas enfeitadas, verdadeiros sepulcros caiados e descobriam a podridão interior.
Ele conhecia a alma dessa “geração adúltera” ... Desses hipócritas profissionais – escandalizados por uma fraqueza casual.
Ficaram somente a adúltera e Jesus – a pecadora e a misericórdia ...
Lá estava, pois, o homem que a ela podia lançar a primeira pedra – a primeira e a última ...
O “homem sem pecado ...”
Mas, como podia a infinita pureza deixar de ser o supremo amor? Como podia um raio solar deixar de ser suave e benéfico?
E, em vez de lançar à pecadora pedras mortíferas – a lançou palavras de perdão e de vida: “Nem eu te condenarei; vai-te em paz e não tornes a pecar ...”
Texto revisado extraído do livro De Alma Para Alma
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