Na parábola do semeador, Jesus afirma que é necessário semear a Verdade e o Bem, seja qual for o resultado, tratando-se, portanto, da região moral do livre arbítrio humano. E nesta região o resultado da semeadura depende do homem. No terreno do livre arbítrio, o homem é Deus - e é também anti-Deus; é ele, e só ele, que determina o seu destino.
Apesar das Leis Cósmicas exercerem absoluta jurisdição sobre o livre-arbítrio, elas respeitam a liberdade dos homens, tanto dos bons como dos maus, liberdade essa que os direciona aos seus próprios destinos, que podem ser diametralmente opostos, como opostos são a vida eterna e a morte eterna.
Quem se harmoniza com a alma do Cosmos, participa individualmente da eternidade da alma do Universo e quem se opõe às leis cósmicas se exclui, aniquilando-se, nulificando-se, reduzindo-se ao Nada existencial.
Pelo livre arbítrio o homem participa do Infinito positivo, do Todo universal - ou então do Infinito negativo, do Nada. Um ser livre pode tanto integrar-se existencialmente no Todo como pode também se desintegrar no Nada existencial. A realidade é que o Nada da existência é o Todo da essência, mas não deixa de ser o Nada individual da creatura. Nenhuma creatura pode ser reduzida ao Nada da essência, mas sim ao Nada da existência individual, como são todas as creaturas da natureza. A imortalidade é a permanência do homem na existência individual, ao passo que as creaturas mortais da natureza não humana, quando morrem, possivelmente podem perder a sua existência individual e recaem na essência Universal. Mas nesse caso, se fala de hipóteses apenas, pois o que o homem sabe é apenas uma gota d’água no oceano de sua ignorância; provavelmente algumas dessas inteligências possuem sua individualidade, pois são manifestações do Supremo Eu, do Uno Imperecível.
Todo homem é potencialmente imortal e pode se tornar imortal. A imortalidade dinâmica - bem como a liberdade dinâmica - são uma conquista da consciência, mas não é um presente de berço.
Certos cientistas modernos negam a liberdade humana, que chamam de mito ou ilusão. Quase todos eles se baseiam em previas experiências de laboratório. Esquecem-se, porém, de que a imensa maioria da humanidade não conquistou liberdade dinâmica, mas possui apenas liberdade potencial. Provavelmente, todas as creaturas que passaram por seus laboratórios e foram submetidas aos testes, não eram dinamicamente livres, e a conclusão generalizada referente à não-liberdade do homem em geral, é fundamentalmente errônea. Se a vida de um Buda, de um Jesus, ou de um Gandhi tivessem sido testadas, bem diferente teria sido o resultado apurado por esses cientistas nada profundos em suas superficiais pesquisas.
Um homem adulto normal, que não dinamizou a sua liberdade potencial cria culpa por não ter dinamizado esse potencial, por mais sutil que seja essa culpa, pois o destino do homem na terra é evolucionar em todos os campos, principalmente na única coisa necessária, o seu crescimento espiritual. Se esse homem não é dinamicamente livre, ele é o único culpado dessa falta de liberdade - e toda a culpa gera sofrimento. O mal é o eco da maldade, é a reação das Leis Cósmicas contra a maldade humana.
As três classes de obstáculos enumerados por Jesus, que frustraram o desenvolvimento da semente se referem todos ao ego humano; o homem-ego abusou de seu livre arbítrio, não o desenvolveu até à maturidade do seu Eu espiritual, e por isto a semente da palavra de Deus não frutificou. E esse ego é chamado o diabo, o mau, Satanás.
Apenas uma pequena parte da semente produziu fruto, porque apenas uma diminuta parcela da humanidade chegou à plena maturidade do seu livre arbítrio, oferecendo terreno ideal para a frutificação da semente divina.
Existe na filosofia ocidental uma palavra sânscrita chamada falasanga, que quer dizer mania de resultados, à espera de resultados, prêmios. Todo homem-ego sofre dessa mania: só trabalha por amor a algum resultado palpável. Trabalhador sem esperança de resultado, é para o ego puro absurdo e estupidez. Alguns, não esperam resultados materiais, dinheiro, propriedade, etc., mas esperam resultados de caráter social, mental ou emocional, como aplausos, reconhecimento, gratidão, um nome de benfeitor, ou perpetuação da sua beneficência em forma de uma estátua no meio de uma praça qualquer, de uma placa comemorativa, etc. Outros egoístas que se julgam altamente sublimados, nada esperam disto no mundo presente, mas trabalham na certeza de que, no outro mundo sejam recompensados por Deus em forma de eterna gloria e felicidade. Quase todos homens virtuosos fazem essa negociata, tentando enganar a Deus.
Somente o homem capaz de semear o bem sem nenhuma segunda intenção, sem especular com retribuição alguma, nem antes e nem depois da morte, esse deixou de ser egoísta, totalmente liberto das tiranias do ego, manifestas ou camufladas.
A parábola do semeador tende a conduzir o homem a essa libertação total, a semear a semente da Verdade e do Bem sem a menor esperança de assistir a uma festa de colheita.
Mas se a semeadura falhar 100%, que finalidade teria ainda esse trabalho?
Teria a finalidade suprema de uma completa auto-realização, que vale mais que todo o Universo, porque um único valor vale mais do que todos os fatos.
Além desse valor supremo da auto-realização do próprio semeador, liberto de qualquer egoísmo, essa atitude transbordaria energias imensas para outros seres, porquanto nenhuma energia se perde, todas as energias se transformam. Esta lei física da “constância das energias” vale também para a metafísica. O modo ideal de fazer bem para a humanidade consiste em ser bom, isto é, plenamente liberto de qualquer resquício de egoísmo.
A parábola do semeador convida o homem a ser incondicionalmente bom, a semear a Verdade e o Bem sem nenhuma segunda intenção de obter resultados objetivos. Basta-lhe a consciência de ter cumprido o seu dever de auto-realização ou aperfeiçoamento da sua essência divina.
Texto extraído do livro Sabedoria das Parábolas
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