Até hoje, a cristandade não compreendeu devidamente o significado da misteriosa parábola do pão e do vinho, porque Jesus conseguiu dramatiza-la muitíssimo bem.
Na sinagoga de Cafarnaum, ele havia se referido a esse paralelo: a relação entre o alimento e a vida, por um lado – e, por outro, a pessoa física do Jesus humano e o espírito do Cristo divino.
Através de uma parábola esotérica, Jesus mostra que a essência vitalizante do espírito do Cristo só pode ser assimilada pela alma humana por meio da fé.
Mas o que se entende por fé?
A palavra latina fides é o radical de fidelidade, harmonia, sintonia. Este substantivo latino não tem verbo; de maneira que a Vulgata latina recorreu a um verbo de outro radical, credere, crer, em vez de “ter fé”, e com isto começou a tragédia milenar das interpretações e traduções, contribuindo para que todo o espírito do Cristianismo primitivo fosse contaminado pela ignorância do elemento humano.
Crer, no sentido usual, nada tem que ver com ter fé. O substantivo grego pistis, que figura no original do Evangelho do primeiro século, tem o verbo pisteuein, que se pode traduzir por “ter fé”.
E ter fé significa estabelecer perfeita fidelidade entre a alma humana e o espírito de Deus. O conhecido tópico “quem crer será salvo” não se aplica; mas “quem tiver fé (fidelidade) será salvo”, é perfeitamente lógico!
Quando o homem, no plano físico, vitaliza o seu corpo pelo alimento, ele não transfere para o seu organismo a substância material que ingere, mas, pelo processo da digestão e assimilação, os nutrientes, as “calorias” são extraídas da substância material do alimento. E caloria é, segundo a ciência, a alma imaterial da matéria.
A caloria é a energia solar que, pela fotossíntese foi armazenada na substância comestível, e que, pela digestão, é extraída do alimento e transferida para o organismo humano.
Caloria, a energia do calor e da luz solar é algo relacionado com a vida. Essa energia solar vitaliza o corpo e lhe dá força, beleza, alegria. Se o organismo não tivesse fidelidade vital com a energia solar, não poderia assimilar a vibração do sol. Um corpo morto embora exposto à energia solar, não a assimila, mas se decompõem; somente um corpo vivo é capaz de assimilar a energia solar; só ele tem fidelidade, afinidade com o sol; só um corpo vivo é fiel à alma solar; só ele é vitalizado pelo calor e pela luz do sol.
Vida é luz altamente potencializada, vida é luz vitalizada, e, por esta razão a vida não pode assimilar a matéria grosseira como tal, mas somente a alma cósmica da matéria, que é luz ou caloria imaterial.
Os homens altamente intuitivos sabiam, e sabem, a partir da visão intuitiva interior, o que outros procuram descobrir através de laboriosas análises intelectuais. Antecipam verdades que a ciência descobre séculos e milênios mais tarde. Cerca de 3500 anos antes de Einstein, Moisés escreveu que, no primeiro Yom (período), Deus creou a luz, e que da luz vieram todas as outras coisas. Só no século 20 é que Einstein, esse cientista visionário que combinou suas análises lógicas com a intuição e a mística, conseguiu provar que a luz é a base dos elementos químicos e de toda a matéria.
Voltando à questão do equívoco e do mistério referente à alegoria simbólica do pão e do vinho, do corpo e do sangue, Jesus mesmo a explicou, quando proferiu que: “As palavras que vos digo são espírito e vida, a carne nada vale”. É pela fé no Cristo, espírito e vida, que o homem comunga o seu corpo e sangue.
Passados mais de 2000 anos, as igrejas cristãs não tiveram a habilidade de enxergar esta grande verdade. As igrejas se agarraram ao símbolo material do pão e do vinho, do corpo e do sangue do Jesus humano e não compreenderam o símbolo espiritual do Cristo divino, como se o corpo e o sangue de Jesus, fisicamente ingeridos, fossem um elixir da redenção, e que pudessem espiritualizar a alma. Para assimilar o espírito do Cristo não é necessária nenhuma ingestão física, mas sim a sintonização metafísica, a fé, a fidelidade entre a alma humana e o espírito do Cristo.
A mais importante parábola de Jesus é, sem dúvida, esta, a do pão e do vinho, embora a vasta maioria da cristandade não esteja ainda em condição de compreende-la. É que o cristianismo teológico, foi desde o princípio, padronizado para uma humanidade espiritualmente infantil – e que até hoje, não ultrapassou ainda esse padrão primitivo.
Nem mesmo os discípulos mais próximos de Jesus, conseguiram compreender esse símbolo, pois após toda a tragédia do Calvário, cometeram os atos mais vergonhosos e anticríticos: um deles consumou a traição planejada, um outro o negou descaradamente, rogou pragas e afirmou que não era discípulo dele, e os demais fugiram covardemente, com medo de represálias, à exceção de um só.
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No ano 33 do nosso século, Jesus foi traído e condenado à morte pelo beijo de um de seus discípulos - mas muitos ignoram que o mesmo Jesus, no ano 313, foi assassinado pelo beijo de outro “discípulo”, o primeiro imperador chamado cristão, Constantino Magno. O beijo de Judas matou
Texto revisado e em parte extraído do livro Sabedoria das Parábolas
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