Friday 19 February 2021

DAR OU RECEBER?

É fácil fazer o teste da profanidade ou da sacralidade do homem: basta medir a intensidade do seu desejo de querer receber ou de querer dar.

Quem deseja e necessita de alguma coisa prova que é um necessitado, um pobre mendigo, que ainda necessita de escoras e muletas para amparar a vacilante, insaciável e fragmentada personalidade do seu ego tirânico, que só deseja e quer e que, no entanto, depois de satisfeito, continua em seu angustioso dilema... agonizante em busca de novos horizontes, em busca de algo distante, mas que ainda desconhece em função da multipolaridade da mente vislumbrada e anestesiada pelas externalidades da vida. Desconhece que só quando o silêncio dominar os vazios das vidas agitadas, é que a alma humana irá descobrir em sua intimidade, o seu Eu, pois por mais paradoxal que pareça, o ego é o pior inimigo do Eu, mas que o Eu é o maior amigo do ego, e esse, num futuro próximo ou distante, reconhecerá que perderá a soberania para o Eu essencial e divino.

Mas quem se liberou do ego tirânico e egoísta, é livre, rico de sabedoria, moral e eticamente sadio, dispensando qualquer necessidade. Quando o Eu divino do homem desperta e faz contato direto com o Infinito, o seu ego humano funciona como um canal distribuidor dos bens que recebe da Fonte; distribui na horizontal o que recebeu da vertical.

O homem que recebe verticalmente do Infinito, por ser receptivo, pouco necessita da ajuda de seus semelhantes. Esse homem vive quase sem nada; o problema da subsistência, que atormenta os profanos, quase que desaparece. Quanto mais o homem é alguém pelo contato com o Infinito, tanto menos deseja ter algo, no mundo dos finitos. Ele é um milionário Teo-suficiente!

Mahatma Gandhi, ao morrer, deixou de herança, somente um relógio barato, uma caneta-tinteiro, um par de óculos, dois pares de sandálias, uma tanga e quase nada mais; para a sua subsistência diária lhe bastavam alguns centavos de rupias. No entanto, supervisionado pelas mãos desse pobre homem, passavam imensas fortunas - milhões e milhões – passavam apenas e nada ele reservava para si mesmo.

O ego é tão inseguro na vida que se cerca de toda espécie de “seguro de vida” - e continua inseguro em sua vida ...

O Eu é tão seguro de si mesmo que não necessita de nenhum seguro alheio; habita na fortaleza da sua divina individualidade, que lhe garante perfeita segurança, e por isto dispensa trincheiras e fortificações fictícias.

Texto revisado e acrescentado, extraído do livro Roteiro Cósmico

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