Dentre os quase 100 livros escritos por Huberto Rohden, consta uma coleção chamada Mistérios da Natureza, que compreendem quatro livros de caráter ficcional, místico, talvez utópico, mas profundamente realista, por mais paradoxal que seja ... Esses livros expõe os mistérios da Natureza, em diálogos hipotéticos onde Rohden interagia com algumas creaturas não humanas!
Lembramos o leitor, que Rohden, nos anos de 1945 e 1946, recebeu uma bolsa de estudos em ciências na Universidade de Princeton, onde pode nesse período, conviver com Albert Einstein, esse grande cientista-místico, universal, humanista, visionário e pacifista, e que a partir desse contato, Rohden escreveu o livro Einstein, o Enigma do Universo, que não trata de mais uma biografia do ilustre cientista Premio Nobel, mas um ensaio sobre o homem Einstein, sua identificação filosófica, suas visões místicas e do empenho em exercitar o silêncio, a música, que o fizeram desenvolver ainda mais a força de suas intuições.
Nessa coleção, existe um volume de 120 páginas chamado “Maja, aventuras de uma abelha”, onde em um inteligente diálogo entre Rohden e uma abelha, eles debatem e exploram a vida e a sociedade das abelhas, descobrindo nelas, as maravilhas da inteligência instintiva, que nos não humanos é o reflexo da grandeza da Inteligência Cósmica.
É um diálogo que até parece utopia!
Utopia? Não... Se isso é possível na Natureza - por que não pode ser possível entre os seres humanos – a assim chamada coroa da creação? Por que as discussões e debates entre os humanos quase sempre terminam em conflitos de interesse, brigas e guerras?
Mas por que abelhas, o leitor perguntaria?
Porque estes himenópteros fizeram parte ativa da vida de Rohden, que nas suas horas de lazer gostava de criar abelhas e trabalhar de carpinteiro amador. Ele era estudioso em Apiologia e profundo conhecedor dessa fascinante sociedade, participando inclusive de congressos internacionais sobre o assunto.
A inspiração de Rohden para traduzir do original alemão e adaptar a estória em português, se originou a partir da obra de Waldemar Bonsels (1880-1952) em seu mais famoso livro (Die Biene Maja und ihre Abenteuer), de 1912. A obra em português foi editada em princípios de 1940, com o título “Maja, aventuras de uma abelha”, com excelentes e coloridas ilustrações, sendo o que mais impressiona e intriga na ideia do autor é que, antes de ser uma publicação infantil, como o livro sugere, ele tem uma conotação, profundamente mística, social e política, mostrando a unidade de toda a creação e sua relação com o Deus creador.
A partir do livro original, a obra de Bonsels recebeu diversas adaptações no mundo inteiro e em diversas línguas ... em brinquedos, filmes, documentários, revistas infantis, uma ópera, jogos de vídeo, cinema e na TV em um seriado animado de produção japonesa para o público infantil, sendo ainda em nossos dias, amplamente transmitidos!
Abaixo, um curto e inteligente diálogo entre uma abelha e um ser humano!
“- Maja, me diga por favor, o que representa a Natureza para você e sua comunidade?
E a pequena Maja, pousada entre as flores de um jardim magnifico, assim se expressou diante do curioso humano Rohden:
- A Natureza é um grande livro que o Creador desdobrou diante dos olhos do homem, para que o lesse, interpretasse e compreendesse. Em tempos pré-históricos, antes que no homem despertasse o intelecto dormente, não existia inimizade entre o mundo dos seres humanos e o mundo dos não humanos. Depois do despertar do intelecto o homem começou a se divorciar da Natureza - e com isso se originou um estado de beligerância, latente ou manifesta, que vigora até hoje entre o homem e sua irmã Natureza. O homem intelectualizado é tirano e explorador dela, inclusive escravizando-a, ação que obriga a Natureza a responder com hostilidade, implícita ou explicita.
No estágio atual de sua evolução, o homem, em geral, considera a Natureza simplesmente como objeto de exploração para proveito individual. Para o homem profano, os seres da Natureza são como as letras, maiúsculas e minúsculas, de um livro aberto diante dos olhos de um analfabeto: o que ele vê não passa de um caos de letras de formas variadas, enigmáticas, sem sentido.
O homem espiritual, porém, o verdadeiro iniciado, deixou de ser analfabeto e lê deliciosamente as grandes verdades veiculadas pelas letras, maiúsculas e minúsculas, de todos os seres da Natureza; para ele, o mundo deixou de ser opaco e se tornou transparente, e, através dos símbolos materiais, o iniciado percebe espontaneamente o simbolizado espiritual.
Para o homem espiritual, a Natureza é um grande devocionário, através do qual ele presta o seu culto ao Creador, de mãos dadas com seus irmãos não humanos, na linguagem poética e profundamente verdadeira de um dos mais avançados leitores desse grande livro, Francisco de Assis.
O estudo e a meditação das grandezas do Universo tornam o homem sereno, amplo, feliz, humilde, porque o faz ver que ele não passa de um átomo diante dessa incomensurável magnitude. A Natureza faz o homem se inspirar em uma sagrada reverência diante da majestade de um Poder Infinito e de uma inteligência sem limites. Esse homem, nunca mais poderá ser intimamente infeliz, apesar de todos reveses da vida, uma vez que se compenetrou dessa grande verdade.
O contato com a Natureza, o conhecimento desta admirável ordem e harmonia, o conduz para uma mais profunda compreensão da revelação de Deus, pois ninguém pode negar que o Universo é a manifestação de uma assombrosa potência, de um intelecto e de um gênio estético que eclipsa todas as maravilhas da arte, poesia e beleza que a humanidade engendrou. Todos os prodígios da ciência e da técnica são, em última análise, apenas tímidos ensaios, tentativas mais ou menos felizes ou infelizes para imitar a Natureza, esse magnifico original das modestas cópias criadas pelo homem.”
Homem ... conhece e ama o Creador do mundo - e conhecerás e amarás o mundo do Creador!
Texto com introdução, revisado e extraído dos livros: Isis e Maravilhas do Universo.
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