Thursday 18 February 2021

O DEUS-MONSTRO

A mais monstruosa blasfêmia que as igrejas cristãs estão cometendo, há séculos, é a afirmação de que os males da humanidade são a expressão da vontade de Deus.

Fulano morreu em um acidente ... um de câncer ... outro de paralisia infantil ...

“Paciência! Foi a vontade de Deus ...”

Uma criança inocente nasceu cega, surda, muda, deformada, idiota ...

“Seja feita a vontade de Deus! ...”

Ocorre que essas blasfêmias são o fruto de errônea interpretação, pois todas as divinas mensagens enviadas do alto, quando pousam nas mãos dos homens, se tornam irremediavelmente contaminadas.

Se essa fosse a vontade de Deus, qual o sentido da petição ensinada por Jesus: “Pai, seja feita a tua vontade assim na terra como nos céus.” Nos céus, a vontade do Pai é feita com perfeita saúde, alegria e felicidade, sem sofrimento nem lágrimas – mas aqui na terra a estória é outra; e por que ela não é feita assim também aqui na terra? Impossível? Então, por que essa petição, se o seu conteúdo é irrealizável?

Jesus admite a possibilidade de o homem cumprir, aqui na terra, a vontade de Deus com perfeita saúde e felicidade; se assim não está acontecendo, não é por culpa de Deus, nem por que Deus tenha mudado de opinião, ou porque não queira o bem para todos os seus filhos. A diferença vem da humanidade - não necessariamente do homem individual que sofre o mal, mas da humanidade, da consciência coletiva, que Jesus chama de “o príncipe deste mundo”, “o príncipe das trevas”, “esta é a vossa hora e o poder das trevas.”

Joel Solomon Goldsmith, no seu livro, “A Arte de Curar pelo Espírito”, desenvolve maravilhosamente este tema: Os nossos males não vêm de Deus, nem sempre vem do indivíduo A, B ou C, que sofre, mas vem da humanidade como de um todo orgânico, cuja solidariedade se manifesta tão bem no mal como no bem. Mas, como até o presente momento, prevalece na humanidade a mentalidade luciférica do ego tirânico, e não da espiritualidade crística do Eu, o ambiente geral é de sofrimento.

O sofrimento vem do ego pecador coletivo, da sua tendência separatista, como Moisés fez ver no Gênesis, e Gautama Buda explanou nas Quatro Verdades Nobres da sua profunda filosofia.

Nas palavras de Jesus, essa mentalidade-ego é satã (adversário), o diabo (opositor). Simão Pedro, dominado pelo seu ego, que se opôs à ideia do sofrimento voluntário de Jesus, foi chamado de “satã”. Judas Iscariotes, que ia trair o seu Mestre, também sob a influência de seu ego, é apelidado de “diabo”; tanto um quanto o outro, agem em nome do “príncipe deste mundo”, da consciência coletiva do egoísmo humano.

O Evangelho afirma que: “E não devia ser solta desta prisão, esta que é filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás a tinha presa com problemas nas costas?”

Quando o povo tenta deter Jesus, ele declara que deve destruir também nas outras cidades da Galileia, “as obras de Satanás”, referindo-se aos males dos homens, doenças e pecados, que nascem da mesma fonte do ego coletivo.

Os seres humanos estão habituados a glorificar a cruz como símbolo sagrado; entretanto, a cruz foi fabricada pelos pecadores, e não por Deus. O que é glorioso é a atitude de Jesus em face da cruz dos pecadores; mas gloriosa não é a cruz em si mesma, como produto do pecado.

cruz telúrica, do Calvário, é a quintessência do pecado – “maldito seja quem pende do madeiro!” Somente a cruz cósmica, dos céus, é que é gloriosa, símbolo de suprema libertação. A cruz telúrica, com a haste mais longa, presa à terra, é sinal de sofrimento, que nasceu da culpa dos pecadores - a cruz cósmica, com as quatro hastes iguais, livremente suspensa no espaço, é o símbolo da libertação, da glória e da vida eterna.

Texto revisado e ampliado, extraído do livro Roteiro Cósmico

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