Sunday 21 March 2021

A ALMA DE TODAS AS RELIGIÕES

Era uma vez um homem que acreditava profundamente em seu pensamento religioso e, devido a essa sua honesta sinceridade, avançou tão longe que, finalmente, se viu acima de todos os dogmas e além de todos os ritualismos da sua igreja organizada; verificou com surpresa que ele era mais universal do que sectário. Verificou que, nessa sua longa peregrinação ascensional, estava seguindo a seta de encontro ao seu Eu divino.

Um dia, esse homem religioso encontrou-se com outro homem, que vinha de diferente setor das igrejas. Se cumprimentaram, trocaram sorrisos, discutiram ideias – e verificaram que pertenciam a uma mesma religião, que eram ambos crentes num divino encontro com o seu Eu individual e que se haviam encontrado junto ao altar da perfeita harmonia e fraternidade.

Os seus velhos rótulos religiosos, as algemas e as clausuras impostas por guias cegos de falsas religiões, tinham ficado para além de uma fronteira longínqua, porque esses rótulos pertenciam ao conjunto de dogmas arcaicos de sistemas doutrinários ultrapassados, e não mais pertenciam à alma divina da Religião Universal.

Caminhando lado a lado, os dois foram seguindo viagem, falando das suas experiências com Deus quando chegaram a uma encruzilhada e encontraram outro homem que a eles se associou. E em conversa, descobriram que ele vinha de uma outra distinta ideologia religiosa, mas, através de muitas experiências e sofrimentos, se havia libertado das doutrinas de seu grupo. Juntos nessa peregrinação, acabaram verificando que ambos eram discípulos e adoradores do mesmo Deus, em espírito e em verdade. O que os separava no passado, lá nos níveis inferiores das suas espiritualidades, era apenas o corpo mental e verbal das suas doutrinas, definíveis e analisáveis, mas o que agora os unia era a alma espiritual da vasta e profunda experiência de Deus encontrada na Religião Universal.

E continuaram os três caminhando, alheios ao tempo e espaço e das ilusões do mundo externo das quantidades objetivas – quando, subitamente, viram um vulto sereno e majestoso se aproximando, e no meio de um grande silêncio ouviram estas palavras:

“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estou no meio deles...”

                                                            * * *

A verdadeira religião ou a Filosofia Cósmica não tem por finalidade defender ou atacar este ou aquele corpo de doutrinas teológicas, as quais, na melhor das hipóteses, são obra da arquitetura humana, são como os andaimes de um edifício inacabado.

Depois de completada a construção do edifício, ninguém deixa em pé os andaimes, porque o que ontem foi um auxílio hoje é um empecilho. Nenhuma borboleta arrasta consigo o seu casulo, ainda que seja de seda pura; agradece os bons serviços que o casulo lhe prestou, no tempo da sua evolução, dando-lhe proteção e segurança, mas agora as asas da borboleta são muito mais eficientes do que, no passado, o estreito e estático invólucro do casulo.

Parte dos homens mais evolvidos espiritualmente, estão na fronteira de um novo mundo, ou melhor, estão vendo o velho mundo das suas crenças teológicas através de novo mundo de experiências espirituais. O homem profano de ontem e hoje, passará a ser o homem sacro de amanhã. E esse homem conseguirá estabelecer com uma certa clareza que, dentro do que ele acredita, ainda está dormente, a sua sapiência, que só despertará quando o seu Eu divino for despertado.

Vai anoitecendo o ocaso da crença e amanhece a alvorada da sapiência...

A verdadeira filosofia não se manifesta diante da estrutura ruidosa e às vezes histérica das religiões – mas procura realizar no homem a alma silenciosa da Religião. Procura despertar o homem para a grande realidade que dormita nas profundezas dele, e que, uma vez acordada, pode transformar a vida e tornar o homem poderoso, harmonioso, bom e feliz.

O homem identificado com a Infinita e Absoluta Realidade, não dá importância às coisas individuais e finitas que governam a vida do homem comum, manipulado pelo ego tirânico, como marionete. Louvores ou críticas, sucesso ou insucesso, vivas ou vaias, amores ou ódios, simpatias ou antipatias - nada disto afeta e desequilibra a mente do homem que se harmonizou com a suprema Realidade, com o invisível Creador, o Sem Nome, que permeia todos as creaturas visíveis do Cosmos. E o que há de mais paradoxal e maravilhoso é que esse equilíbrio entre os extremos opostos não faz do homem cósmico um homem indiferente e insensível, mas o torna sereno e benévolo para com todas as creaturas de Deus.

Essa Presença divina no homem não mais exige dele as preocupações dos dramas e dilemas existenciais, pois todos os acontecimentos se superam por si mesmos. A aceitação do cotidiano, mais do que a superação, é a chave que leva esse homem a viver com intensidade, paz e entusiasmo, tudo o que a vida a ele oferece. Quando a âncora dessa Presença se manifesta e se fixa em seu viver, nada mais faz falta... ele só aprecia e gratifica. Mesmo seu passado se tornou uma ilusão da imaginação passageira e nunca mais voltará a ter significado, pois nada se perdeu e tudo se tornou um ganho.

Reconciliação é a palavra que estabelece no homem esse momento e sua liberdade. A reconciliação consigo mesmo e com seus irmãos humanos e não humanos, no conhecimento de si mesmo, em sua auto realização. Nesse estado de consciência, ou não consciência, libertam-se todas as amarras que antigamente prendiam o homem, pois conhecedor da verdade, vive a liberdade!

E essa é a mensagem crística enviada pelo maior dos mestres espirituais que a humanidade conhece.

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