O alvo principal do mestre espiritual não está nos resultados visíveis da sua atividade externa, mas sim na invisível realidade da sua santidade interna. Ser é mais importante do que fazer. São bem mais numerosos os homens que põe maior ênfase nas atividades externas do que na atitude interna, dificilmente compreendendo que a atitude interna é mais importante.
A atividade social não tem valor autônomo em si mesma, se não brotar da atitude mística do homem. Pouco importa o que o homem faça ou diga – o que verdadeiramente importa é o que o homem é. Podem todos as suas obras serem boas e louváveis, mas se não forem a manifestação espontânea da atitude interna, nada valem!
Há nas atividades externas, quando dissociadas da realidade interna, dois gravíssimos perigos:
1- Essas atividades, dão ao seu autor, uma falsa segurança, criando nele uma autossuficiência diante dos resultados colhidos, impedindo-o de passar para além daquilo que já realizou, ou julga ter realizado. Essa auto ilusão e suficiência são o maior desastre espiritual para o homem externamente ativo e internamente passivo, porque o fazem entrar numa zona de estagnação espiritual. Ai do mestre espiritual plenamente satisfeito com as suas obras externas! O único fator que pode preludiar a sua redenção é uma profunda insatisfação consigo mesmo, pois incomparavelmente mais importante que os gloriosos trabalhos no nível horizontal é a intensificação do ser vertical. Pouco vale o fazer, o dizer e o ter no mundo dos objetos quantitativos, se no mundo do sujeito qualitativo não existir um profundo ser.
2- Que esse mestre julgue influir sobre seus discípulos com o que faz e diz – quando é impossível promover a verdadeira conversão de uma outra pessoa, se o próprio mestre não é um genuíno e autêntico convertido, ou alguém intimamente unido a Deus. Só o meu ser é que pode influir sobre o ser dos outros; mas, se o meu ser é fraco, não pode dar força aos fracos. Só um poderoso positivo é que pode atuar sobre os negativos; se o mestre não for 100% positivo, por uma intensa e profunda experiência de Deus, não poderá exercer influência real sobre os outros negativos.
Os discípulos podem admirar e aplaudir o mestre; mas não se sentirão com forças para abandonar o mundo das suas misérias morais e entrar no mundo da virtude e santidade, porque não enxergam esse mundo concretizado no mestre. E mesmo no caso favorável que julgassem esse mundo divino realizado nele, não se converteriam realmente a Deus, pois não são as aparências que atuam, mas sim a realidade, realidade essa que, nesse caso, estaria ausente do mestre. Ele pode dizer com grande eloquência que o mundo do espírito é grandioso e belo, e, na melhor das hipóteses, acreditarão nessas palavras – mas do crer ao ser vai distância enorme. Crer é uma teoria longínqua e vaga – ser é uma realidade próxima e concreta. É muito difícil a transição do crer para o ser, e se o discípulo não enxergar esse ser concretizado no mestre, não se converterá pois não enxerga o mestre convertido!
O mestre convertido é aquele que pode verdadeiramente dizer: “Eu e o Pai somos um ... já não sou eu que vivo, o Cristo é que vive em mim”.
As palavras de um falso mestre, podem dar alguma luz aos discípulos; mas falta força, que não vem das palavras, mas da realidade espiritual do mestre, no qual o “Verbo” se tenha feito carne e habite substancialmente nele, “cheio de graça e de verdade”.
Há uma realidade infinitamente mais importante do que qualquer obra externa – é a plena realização crística do mestre, para o qual as obras são como meios para um determinado fim. A atividade externa deve ser um transbordamento espontâneo da plenitude interior. Se essa plenitude não existe, o que é que pode transbordar? Alguma vacuidade camuflada em plenitude, ou uma grande mentira apresentada como sendo verdade? ... Um fogo pintado numa tela de pintor não fornece luz nem calor – ao passo que a menor parcela de fogo real pode atear incêndios e iluminar mundos inteiros.
Pouco importa o que o homem diga, faça ou tenha – importa o que ele é. O que ele é refere-se à qualidade do seu íntimo Eu – o que ele diz, faz ou tem, refere-se às quantidades de seu externo ego.
A caridade social muito produz - mas só o Amor espiritual realiza o homem.
Onde quer que exista um homem plenamente realizado no Amor, ali serão realizadas grandes obras, fecundas e benéficas; mas onde não há realização pelo Amor, mas apenas caridade, ali se realizarão ruidosas obras externas, que, por melhores que sejam, correrão perigo de colapso e desintegração, por falta da qualidade do que é sagrado e que habita no homem.
Pouco importa o que o homem realiza no mundo externo dos objetos – o que importa é o que ele realiza em si mesmo. Uma única auto-realização supera todas as realizações externas.
Texto revisado extraído do livro Assim Dizia o Mestre
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