Na tentativa de buscar uma ideia universal de ética para os nossos dias, veio à intuição de Albert Schweitzer, o conceito de “Reverência pela Vida,” enquanto viajava de barco pelo rio Ogooué, na antiga África Equatorial Francesa, hoje Gabão; fazendo desse conceito, o princípio básico de uma filosofia ética desenvolvida por ele e colocada em prática durante seu trabalho, vida e convivência junto às populações carentes da vila de Lambaréné e com os demais seres vivos que se aproximavam dessa comunidade. Para ele, esta viagem, esta peregrinação foi a mais proveitosa de todas na sua vida, porque foi empreendida na procura da revelação da verdade.
Segundo Schweitzer, a responsabilidade da noção de ética não é nada mais que a Reverência pela Vida, que é o princípio fundamental de moralidade; que o bem consiste em manter, assistir, assegurar e melhorar a vida de todos os habitantes deste planeta, pois da única coisa que temos certeza é que todos os que vivem querem continuar vivendo.
Na Terra, todos os seres viventes são entidades integrantes de uma simbiose universal, onde cada ser depende do outro para manter o equilíbrio harmônico da vida. Portanto, somos irmãos e irmãs de todas os seres vivos e devemos a todos o mesmo cuidado e respeito que desejamos a nós mesmos.
No que diz respeito ao homem e às suas distintas culturas, em cada momento da história existem duas classificações: primeiro, quem classifica, os ditos civilizados, os poderosos, quem comanda e governa, quem detém o poder econômico, financeiro e industrial, as oligarquias, os magnatas da mídia, enfim, todos aqueles com a vantagem da decisão, portanto, unilateral e não universalista, tornando enganoso o princípio democrático, falso, inexistente... aqueles que falam piedosamente de dignidade e direitos humanos, mas ao mesmo tempo ignoram a dignidade e os direitos do segundo grupo, isto é, aqueles que não estão na mesma condição, a grande maioria que também tem a forma humana, mas que sofre sob o látego dos “civilizados”; estes são os que mais lutam e menos têm o direito de decidir seus destinos .
Considerar o homem como coroa da creação é desdenhar a importância que os outros seres vivos têm no conjunto dessa mesma creação. O ser humano que não ama, considera, respeita e reverencia as vidas dos não-humanos, não pode ser considerado um ser humano em plena razão, e sim, possuidor de uma ética e moral fragmentados, pois tão pouco se sabe sobre os não humanos e se ignora o muito que oferecem. É desprezar que no olhar de um não humano que não consegue se expressar por palavras, existe todo um discurso que só o espírito sábio tem a habilidade de compreender.
Esse princípio de igualdade e reverência pela vida, inclusive à dos vegetais, era particularmente demonstrado também, por Ramana Maharshi, um dos mais conhecidos sábios videntes da humanidade. O seu amor e afinidade pelos não humanos só podia ser comparado a Francisco de Assis. Todos os animais se aproximavam dele, e suas linguagens silenciosas eram conhecidas por ele, e quando falava, eles entendiam e o obedeciam; arbitrava as brigas entre os macacos, e era também conhecido por conversar com os tigres e as cobras selvagens; todo o reino da natureza o aceitava como seu guardião e defensor.
Todos os animais do eremitério espiritual de Maharshi sentiam a sua graça e agiam com inteligência diante de sua presença. Ele considerava toda e qualquer forma de vida como seu igual, e todos os animais que se aproximavam mereciam seus espaços e recursos. Dizia que eles eram os donos da terra, todo tempo e que nós os homens viemos ocupar o que a eles pertence, e que também podiam falar e exigir seus direitos. A despeito disso, ele mantinha a ideia de que, desde o homem até o menor dos animais, eram a mesma manifestação do Supremo Eu, do Uno Imperecível, e que até mesmo eles, podem progredir espiritualmente e em algumas raras ocasiões atingir a libertação.
E isso foi demonstrado através da vida de uma vaca que o acompanhava por mais de 20 anos, seu animal de estimação de nome Lakshmi, que exibia uma rara devoção ao Maharshi e apresentava uma inteligência em todos os assuntos, e ela reciprocava essa devoção gentil. Dizia que o verdadeiro ensinamento acontece em perfeito silêncio, por meio da mente profundamente introvertida, mas isso não quer dizer que ensinamentos verbais não possam ser dados, e que embora tenha autorizado a prática de diferentes exercícios espirituais, ele, entretanto, enfatizava a prática do caminho da auto indagação.
Recentes estudos científicos mostram que muitos dos seres não humanos têm a habilidade de mostrar consciência individual particular - pois a alma do Universo se faz presente em todos os seres da creação - e uma razão que está condicionada ao seu estágio de evolução existencial. Assim, também apresentam estados mentais, sentimentos, emoções, ações intencionais, inteligência, personalidade, espírito, livre-arbítrio, amor, intuição, compaixão, sentimento de culpa, de perda e de posse, e de território.
De acordo com especialistas em ciência quântica, alguns são capazes de se comunicar conosco através de mensagens visuais de diferentes caracteres, incluindo reclamar por seus direitos. Eles são nossos iguais, dividindo nosso mesmo Universo, mas espalhados em diferentes aspectos.
Para citar um exemplo apenas, as funções do cérebro de um cão labrador submetido a ressonância magnética, apresentou as mesmas e exatas funções que parte do cérebro humano apresenta. Como os mamíferos, de forma geral, evolucionam da mesma forma que o ser humano, apenas apresentando características físicas diferentes é de se supor que do ponto de vista comportamental, eles tenham os mesmos atributos.
As pessoas que amam e cultivam a convivência com os animais, em particular com os cães - com os quais temos quase 15 mil anos de relacionamento - se observarem com atenção, verificarão que as várias espécies são portadoras de qualidades que consideramos quase humanas, como pela prudência, paciência, disciplina, obediência, sensibilidade, inteligência, improvisação, espírito de serviço, vigilância e sede de carinho, infundindo-nos a ideia de que, quanto mais perto se encontram das criaturas humanas, mais semelhantes ficam; aperfeiçoando paulatinamente seus instintos na busca da inteligência da mesma maneira que os humanos aspiram alcançar algum dia, preparando-se para o próximo estágio de uma evolução maior.
E o cão é apenas um exemplo... muitos outros não humanos, dentre todas as formas de vida, têm mostrado surpreendentes particularidades da inteligência universal habitando em seus corpos.
A Reverência pela Vida é o princípio básico do amor, pois nada foi creado sem uma função determinada. A Inteligência Cósmica não estabeleceu coincidências no nível da creação, pois o Universo é um grande pensamento, e nada por acaso aconteceu, pois, aceitar o acaso, é, ingenuamente, negar a causa! O homem, com o acentuado livre-arbítrio de mente analítica, julga possuir o poder da vida e da morte, e conseguindo com isso mostrar que a única distonia na sintonia universal, é o próprio homem.
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