Tuesday 2 March 2021

VIDA APÓS A MORTE

O homem que se preocupa com a vida após a morte é tido, geralmente, como um homem religioso. "Salva a tua Alma," é a legenda escrita em muitos crucifixos encontrados nas igrejas cristãs e que sintetizam o interesse que, segundo essas igrejas, o homem deve ter na vida presente. Salvar a alma é para a teologia corrente o alfa e o ômega da vida de todo homem espiritual.

No entanto, é inútil especular sobre a imortalidade e seus atributos, porque nenhum homem pode, no presente estágio de evolução, ter clareza sobre isto ... a continuidade do Eu pessoal, ou a diluição no vasto oceano cósmico da divindade?

O verdadeiro homem espiritual, i.e., aquele despojado de ego, o verdadeiro filósofo, não perde tempo em especular sobre a sorte feliz ou infeliz de sua alma depois da morte e nem mesmo discute a existência ou não existência dessa vida futura, pois graças à sua profunda sabedoria, ele tem inteira confiança na Verdade, justiça e bondade das leis eternas do Cosmos, ou seja, da Providência Divina; sabe que a Consciência Cósmica, a Alma do Universo, o Creador, não comete injustiças, crueldades, desatinos, incongruências, contra nenhum dos membros da creação. A única preocupação do homem sensato e santo deve consistir em sintonizar o seu querer individual com o querer universal e viver em permanente e jubilosa harmonia com o Infinito. A imortalidade para o homem verdadeiramente espiritual, consiste essencialmente na voluntária integração da sua porção divina no Todo, no Amor Universal.

Quando a vontade individual se tornou vontade universal, o homem desiste de especular sobre a sorte futura de sua alma, pois ele não espera nenhum céu e nem receia nenhum inferno; ele está no céu e vive a vida eterna nesse mesmo instante e para sempre.

Basta que o homem tenha certeza de duas coisas, uma objetiva, outra subjetiva, a saber:

1) O mundo de Deus é um Cosmos e não um caos, e, como um Cosmos, o Universo age com absoluta retidão e imparcialidade;

2) Que o homem procure invariavelmente estar em perfeita harmonia com essa eterna e infalível ordem cósmica do Universo, ou seja, com a vontade do Creador.

Unidade sem diversidade seria monotonia.

Diversidade sem unidade seria caos.

Unidade na diversidade é harmonia.

Sobre a base dessas duas certezas ao seu alcance, o homem pode viver tranquilo e feliz, sem ansiedades nem dúvidas internas.

Mas como realizar essa sintonização entre o Eu humano e o Tu divino?

--- Simplesmente pelo amor, em seu aspecto vertical (o Creador) e horizontal (a creatura), pois o amor é a lei básica do Cosmos!

No Universo tudo é cooperação, que supõe diversidade. Não haveria possibilidade de integração se não houvessem diversidades individualmente diferenciadas. Para que essa integração seja harmonia, e não monotonia, requer-se a existência da diversidade dos indivíduos.

Negar que o homem, pela separação do corpo material, perca a consciência da sua identidade, equivale a negar a sua imortalidade. Após finda a vida orgânica, quando o Espírito retorna à sua pátria de origem, cuja localização geográfica se inicia em nosso próprio meio e não em uma determinada e circunscrita região do Cosmos, o homem vive, com mais amplitude ainda, o fenômeno de sua própria personalidade. Ele é e prossegue sua peregrinação dentro das fronteiras mentais e morais que creou para si mesmo. Continua com os matizes de seu caráter, sem nenhuma transfiguração abruta e artificial. Todas as coisas são eternas em seus elementos que os formam; mas a eternidade desses elementos não quer dizer imortalidade. A imortalidade é mais que uma eternidade essencial, é uma eternidade consciente, isto é, a conservação da identidade do Eu.

A imortalidade, em sua forma potencial, é um atributo da natureza humana, uma dádiva de berço; mas a imortalidade dinâmica, é uma conquista do homem, a mais alta das suas conquistas. Em todo homem existe o “Reino de Deus,” em estado potencial, embrionário, oculto; mas, para entrar nesse Reino, o homem deve descobrir, ver e viver essa imortalidade dinâmica. Deve “renascer pelo espírito,” e não mais especula sobre o modo de vida fora do corpo físico.

Texto revisado, e em parte extraído do livro Filosofia Contemporânea

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