Do ponto de vista religioso, todo homem que segue a vontade do seu ego, dá a maior importância ao ritual, e pouco sabe do espiritual. O que mais o impressiona e move, vem de fora ... nada vem por inspiração de seu ser interior. O que vem de fora tem um efeito automático, proveniente de uma fórmula, de um ritualismo, das circunstâncias externas, e é no que ele confia e tem certeza.
Para citar um exemplo dentro dos meios eclesiásticos: quando alguém é ordenado sacerdote através de uma cerimônia ritualmente correta, por um ordenador ritualmente válido, ele se torna sacerdote para todos os efeitos, embora seja um pecador por dentro. Se alguém é sagrado bispo por uma cerimônia ritualmente correta, ele se torna bispo para todos os efeitos, e tem o poder de ordenar sacerdotes, embora seja um pecador por dentro.
Para os adeptos do ritualismo, as circunstâncias externas são mais importantes que a substância interna; o externo vale mais que o interno; o de fora é fundamental, o de dentro tem pouca importância.
Os teólogos eclesiásticos partem do conceito de que Jesus tenha transmitido aos seus discípulos, uma espécie de fluído invisível, que possa ser transmitido de pessoa para outra pessoa, através de certos ritos, de certas fórmulas fixas, como "eu te batizo", "eu te absolvo", "isto é meu corpo".
Este canal condutor de fluídos, dizem eles, deve ser contínuo, sem interrupção, através dos séculos, para que esses fluídos cheguem até nós. E esta é a concepção desses teólogos eclesiásticos sobre a transmissão dos poderes divinos de Jesus, para os humanos.
Enquanto a cristandade vivia na sua infância espiritual, e mesmo na sua adolescência, nenhum outro conceito era possível, uma vez que, para o homem espiritualmente imaturo, as circunstâncias externas são a única realidade.
No entanto, quando o homem entra na sua maturidade espiritual, a imaturidade ritual é superada, e esse homem dá maior importância à substância de dentro do que às circunstâncias de fora. Os grandes iniciados e místicos, de todos os tempos, sempre afirmaram a soberania da sua substância divina sobre todas as tiranias das circunstâncias humanas; sempre deram maior valor ao seu centro espiritual do que aos fatos das periferias rituais.
Esse homem sabe que todo o seu valor está na substância interna, a despeito das circunstâncias externas. Sabe que o espiritual é um valor, ao passo que o ritual é apenas um fato.
Einstein, esse famoso cientista universal, místico, visionário, humanista, pacifista, afirmou que: "Do mundo dos fatos (ciência) não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores (consciência), porque os valores vêm de outra região". Fato é ato, valor é atitude. Valor ou atitude é creação do livre arbítrio. Onde não há livre arbítrio não há valor nem atitude.
Se aplicarmos este princípio ... do ritual ao espiritual, podemos afirmar que do mundo das circunstâncias rituais não conduz nenhum caminho para o mundo da substância espiritual, porque esta vem de outra região.
É típica, neste caso, a atitude de dois grandes astros do cristianismo eclesiástico: Agostinho, no século 5, e Tomás de Aquino no século 13; ambos, durante suas vidas, advogaram a ideia do automatismo ritual, da redenção por fatores externos - e ambos, ao final de suas vidas vislumbraram o valor espiritual da redenção por fatores internos. Agostinho escreveu um grosso volume de Retratações, onde fez um exame de consciência sobre sua vida e escritos, e Tomás de Aquino quando declarou no fim de sua vida: "Tudo o que eu escrevi é palha", e nunca mais escreveu nada.
Se perguntarmos pelo porquê dessa atitude do homem espiritualmente imaturo, e do homem espiritual verdadeiro, veremos que a diferença vem do seguinte: o homem profano não compreendeu ainda a bipolaridade da natureza humana - ao passo que o homem intuitivo sabe que existe no centro da natureza humana, um núcleo divino, que Jesus chama Alma, e que a psicologia moderna denomina o Eu central.
No Evangelho, esse centro aparece como Pai em nós, o Reino de Deus, a Luz sob o velador, o Tesouro oculto, a Pérola preciosa.
O ritual é um fato, uma circunstância - o espiritual é um valor, a substância.
Existe um permanente paralelismo entre a física e a metafísica, entre o mundo material e o mundo espiritual. Tanto é que no passado, a força vinha de fora, do músculo dos animais, da água, do vento. No século passado, o homem começou a utilizar a força que vinha da água em ebulição e da eletricidade. A eletricidade passa a marcar uma transição para uma nova fonte de energia.
Somente no século XX é que o homem descobriu a força que nasce de uma forma invisível de dentro - a energia que vem do átomo.
Energia significa uma atuação "de dentro"; o resto é apenas uma "atuação de fora", uma força vinda de fora.
Fenômeno igual se dá no mundo da metafisica espiritual.
No passado, a força do bem e do mal era considerada como algo que viesse de fora do homem. Uma força externa maligna fez do homem um pecador ao passo que uma força interna benigna, redimiu o homem.
A força redentora vem de dentro do próprio homem – assim como de dentro do homem vem a força do mal.
O grande problema da nossa metafísica espiritual é descobrir e aproveitar a força nuclear do nosso Cristo Redentor interno - assim como o grande problema da física foi o descobrimento e a utilização da força nuclear e atômica de origem material.
Poucos homens descobrem essa força nuclear espiritual. Em poucos homens desperta esse Cristo interno. Para a grande massa da cristandade continua a vigorar a redenção por fatores externos - apenas uma minoria descobriu sua redenção espiritual vinda de dentro.
Texto revisado extraído do livro A Nova Humanidade
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