A razão mais profunda da continuidade da religião, está no fato de sempre ter havido homens, embora poucos, que tenham tido o seu encontro pessoal com Deus; homens que conheciam a Deus e o Reino de Deus por experiência própria, direta, imediata, íntima, e não apenas de “ouvir dizer”, nem pela fé ingênua no testemunho dos outros. Se ninguém tivesse tido essa experiência pessoal, a própria fé seria vazia e irracional - como vazio seria o melhor sistema de encanamentos se não existisse uma fonte que fornecesse água.
Só pelo fato de ter havido, e haver, iniciados, isto é, homens teo-sapientes, justifica a existência de homens que acreditam no mundo espiritual. O crente é um peregrino que anda no caminho certo, mas ainda não atingiu o fim da jornada - ao passo que o ciente ou sapiente de Deus, o iniciado, o homem da fé verdadeira, é um homem que, ultrapassando todos os “espelhos e enigmas” e todas as penumbras da infância espiritual, ingressou na luz, na plena maturidade de espírito, contemplando as coisas divinas “face a face”, como afirmou em sua clarividência, Paulo de Tarso: “Agora, vemos apenas um reflexo como num espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou conhecido.” (1 Coríntios 13:12)
O descrente não cumpre a vontade de Deus, mas a sua própria.
O crente cumpre a vontade de Deus, mas com sacrifício e aflição.
O sapiente, ou iniciado, cumpre a vontade de Deus “assim na terra como ela é cumprida no céu” - uma vez que os habitantes celestes são todos sapientes, e não apenas crentes de Deus; fazer a vontade de Deus é, para o sapiente, como era para o maior dos iniciados, Jesus, o seu “manjar”, um farto banquete, uma deliciosa iguaria.
Se não existissem no mundo homens cuja suprema paixão consistisse em fazer as obras de Deus, a religião não teria garantia sólida de se perpetuar, porque só o que se faz com alegria e entusiasmo é que tem verdadeira garantia de duração.
O entusiasmo religioso de Jesus, o maior dos teo-sapientes, tem sido, através dos últimos vinte séculos, o vasto incêndio de cujo calor, centenas de milhões de almas absorveram as suas calorias espirituais. Se esse grande foco de luz e calor não tivesse aparecido no mundo, só Deus sabe a que grau teria baixado o termômetro religioso da humanidade.
Texto revisado extraído das abas do livro Profanos e Iniciados, edição de 1952.
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