Segundo Paramahansa Yogananda - o grande mestre hinduísta que trouxe ao ocidente as técnicas científicas de ioga para despertar a consciência divina do homem - a Bhagavad Gita é uma escritura Universal, uma mensagem atemporal e abrangente em sua expressão da verdade, é o “Cântico do Espírito”, “A Sublime Canção”, a comunhão divina da realização da verdade entre o homem e seu Creador; são os ensinamentos do Espírito através da alma, que devem ser cantados incessantemente!
Sendo um poema místico-filosófico, é o episódio mais célebre do Mahabharata, que é um dos dois maiores épicos sânscritos da Índia antiga, e o texto mais venerado pelos hindus. Como um manual de assertividade, ele nos aponta que a humanidade se encontra perdida entre dois caminhos: o da agressividade, de acordo com o qual o homem age movido pelo ego, pelos próprios interesses, e o da passividade, em que o homem, consciente das leis do karma, opta por não agir. No entanto, a Bhagavad Gita aponta um novo caminho, o caminho do sábio: o reto agir, o agir de acordo com a essência suprema do ser, agir segundo os mais nobres valores, do agir sem culpa ou carma.
Esse episódio da Mahabharata, foi traduzido para o português pelo professor Huberto Rohden de acordo com o texto sânscrito, enriquecida de notas explicativas, comentários e com tópicos paralelos dos livros sacros do Cristianismo, que se transformou em um de seus livros mais vendidos e com imenso significado metafísico; da sabedoria e do incomparável valor das mensagens nele contidas. Rohden, para traduzi-lo ao Português, baseou-se nos escritos de um dos maiores erudito dos textos sânscritos, Sir Edwin Arnold, dos autores alemães, Franz Hartmann e J. W. Hauer, de Baburam Maharaj, mais conhecido como Swami Premananda, além da edição ilustrada em Inglês de Swami Prabhupada, fundador da Sociedade Internacional para a Conscientização de Krishna.
A Bhagavad Gita é a compilação das perguntas e respostas dos diálogos entre Krishna (Deus) e o ser humano Arjuna, que elaboram uma variedade de conceitos, dramas e dilemas humanos. A narrativa é estruturada na investigação sobre quem somos, como devemos viver nossas vidas e como devemos agir no mundo, o propósito da vida, crise de identidade própria, alma humana, temperamento humano e formas de busca espiritual.
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O texto abaixo, para ser compreendido e poder se perceber a verdade, exige que o leitor se desfaça das imagens pré-concebidas do ego de que todo trabalho merece ser recompensado. Em todo trabalho, ou em toda ação, reside implícita uma reação, e o valor a ser dado a cada trabalho, é pessoal, pois ação e reação fazem parte da inexorável lei de Causa e Efeito.
Ou então, deve o leitor ler com os olhos da intuição, o que vai escrito nas entrelinhas dessas ideias.
Assim disse Krishna a Arjuna: “... onde não se realiza obra alguma não há fruto ... Mas essas obras devem ser realizadas sem nenhum interesse pessoal e sem nenhum desejo de resultados”.
Segundo a interpretação de Rohden, quando os teólogos ensinam seus fiéis a praticarem boas obras para merecerem o céu, eles entendem um céu externo, fora do homem, e isso é um erro, que fomenta o espírito mercenário; é um egoísmo póstumo, transferido da vida aqui vivida para a vida após a morte. O Evangelho de Jesus ensina que “o reino dos céus está dentro de vós”, e por isso, “quando houverdes feito tudo o que foi pedido fazer, dizei: somos servos inúteis; cumprimos a nossa obrigação, nenhuma recompensa merecemos”. Os verdadeiros místicos do Cristianismo compreenderam a verdade dessa parábola ensinando que quando alguém fez o que Deus espera, está apenas fazendo o seu dever, procurando ser incondicionalmente bom, independentemente da ideia de um céu ou um inferno. O céu é uma dimensão onde somente os bons residem, e o inferno é a morada dos maus. Mas céu e inferno não são lugares que estão fora ou acima da natureza humana, mas estados de consciência dentro de cada ser humano.
Segundo a concepção cósmica da filosofia oriental, toda a atividade do homem profano é fundamentalmente trágica, cheia de culpa, ou karma, porque quem age é o ego, e esse ego é uma ilusão, e tudo o que o ego ilusório e tirânico faz é necessariamente negativo, contaminado de culpa e maldade.
Se toda atividade do homem profano é baseada nessa premissa, estamos então diante de um dilema inevitável: ou agir e sobrecarregar-se de culpa – ou não agir e assim preservar-se da culpa.
Grande parte da filosofia oriental optou pela segunda alternativa do dilema: não agir, se entregar a uma total inatividade, numa eterna meditação passiva, a fim de não aumentar o débito negativo do karma.
A Bhagavad Gita, porém, não recomenda nenhuma dessas duas alternativas: nem o não-agir e se preservar da culpa, nem o agir e se encher de culpa. A Gita descobriu um terceiro caminho: o do agir sem culpa ou karma, recomendando o caminho do reto agir, que dista igualmente do falso-agir e do não-agir.
Como pode o homem agir sem se encher de culpa?
O falso-agir é um agir por amor ao ego; mas o reto agir age por amor ao Eu, embora através do ego, e assim a sua atividade não é culpada. O reto agir, por amor ao Eu verdadeiro, não só não cria uma nova culpabilidade no presente e no futuro, mas neutraliza também o karma do falso-agir do passado, libertando assim o homem de todos os seus débitos.
É nisso que consiste a suprema sabedoria da Bhagavad Gita. Mas para que o homem possa agir assim, por amor ao Eu verdadeiro, deve conhecer esse Eu, deve conhecer a verdade sobre si mesmo.
É o que Krishna explica a seu discípulo Arjuna através dos 18 capítulos do diálogo deste poema metafísico; autoconhecimento para tornar possível a auto-realização pelo reto agir, pois a quintessência da Gita é um convite para o reto agir, porque o homem não se realiza nem pelo não-agir, nem pelo falso-agir.
A alma da Bhagavad Gita é um poema de autorredenção pela auto-realização baseada no autoconhecimento.
Homem, conhece-te a ti mesmo!
Homem, realiza-te, mas lembre-se de que o que se planta e o que se rega inspira um propósito, e cada um será premiado segundo o seu próprio trabalho ... “a cada um, segundo a sua obra”, “dás e receberás”.
Texto revisado e em parte extraído do livro Bhagavad Gita
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