Thursday 18 March 2021

EM BUSCA DE MARTE

Não se pode negar que o intelecto humano tem a habilidade de realizar extraordinárias proezas e conquistas em todos as áreas do conhecimento. Nessa ilimitada busca, mostra com precisão – apenas para citar um exemplo em nossos dias – imagens deslumbrantes e coloridas de galáxias distantes, ou dos experimentos nas possibilidades de viagens à Marte, na tentativa de desvendar o desconhecido no imenso Cosmos.

E esse é apenas mais um dos desafios que o homem busca enfrentar.

Eckhart Tolle, um espiritualista de nossos tempos, afirma que o homem está aqui nessa dimensão de vida para poder permitir que o propósito divino do Cosmos se desenrole, de que ele exerce importância fundamental, sem o qual não existiria significado para a sua existência.

No entanto, o significado desta vida para o homem, ao enfrentar a realidade, só se demonstra no desejo de escapar de si mesmo com essas viagens centrífugas, alienando-se de sua própria identidade e realidade. E essas viagens espaciais são apenas mais uma das tentativas intermináveis de explorar o desconhecido ao seu redor, para tentar descobrir apenas fatos externos em vez de criar valores internos.

O famoso asceta hindu, Sri Ramana Maharshi afirmou que: “Tentar conhecer as formas que existem no espaço e no tempo, seria tanta loucura como a do homem que, ao barbear-se ou cortar os cabelos, meditasse no destino de cada fio desses cabelos.”

O homem, buscando conquistar suas exterioridades, perdeu-se nas horizontalidades dos processos técnicos sem a conquista da verticalidade ética, no inevitável conflito que se estabelece entre comodidade e prazer, em detrimento da plenitude da sua harmonia interna. Vive completamente desconectado de seu Eu interior, do seu centro de equilíbrio, da sua espiritualidade, se mantendo conectado a novos agentes agressores, aos quais continuamente dá acesso e vida, desorganizando cada vez mais todo o seu ser.

Ou seja, o homem esconde-se de si mesmo, perdendo seu rumo e seu próprio endereço, não mostrando a habilidade de resolver seus próprios dramas, dilemas e incógnitas, aqui mesmo na terra onde habita, nessa esfera de colorido magnífico, mas que esconde em sua superfície as assustadoras imagens da mentira, do desespero, do desamor, da miséria, da fome, da farsa, da luxuria, do racismo e preconceitos, do egoísmo, da escravidão, da avareza ... da cultura de todos os tipos de violência ... De um prisma onde não se revela nenhuma luz, apenas a penumbra monstruosa da loucura!

Não bastassem as guerras, as injustiças, as desigualdades, aparecem de tempos em tempos, microscópicos agentes patogênicos – que compartilham a vida humana e não humana por tempo imemoriável – e que livres de seu meio ambiente por distintas razões, provocam um verdadeiro pandemônio em todos os setores das sociedades em todos os países, dizimando populações inteiras e difíceis de serem erradicados, mostrando com isso, o imediatismo com que o intelecto humano trabalha a sua visão dos acontecimentos, e perdendo a memória das tribulações do passado e com isso, a visão de futuro se torna fragmentada e distorcida.

No dia e na hora em que o homem passar a realizar suas viagens centrípetas - para dentro de si mesmo - na busca do autoconhecimento e realização, se conscientizando de que ele é parte de um Todo, e que sua missão não é apenas intelectual, mas acima de tudo racional, de evolver dentro do contexto do planeta em que vive para outras dimensões mais evolvidas. Nesse dia então, ele poderá afirmar os seus avanços no conhecimento, através da mística de si mesmo. Só assim é que se alcançará na prática, o conceito de civilização humana, baseado nos princípios da solidariedade e altruísmo espontâneo, da ação esclarecida sobre as realidades do mundo, da compreensão, da moral e ética, na harmonia entre as diversidades, na reverência e respeito por todos os tipos de existências na natureza e no Cosmos.

Enquanto essa meta não for objetivada e alcançada, o homem vai continuar pouco desenvolvido em sua evolução, e assim, o conceito sociológico de humanidade, apesar da boa intensão de conteúdo, não passa de uma farsa; inexistente, pois a vasta maioria dos humanos pertence apenas a uma só classe, a do aglomerado de indivíduos concretos visando seus próprios e egoísticos interesses ... continuamente a rastejar sobre as planícies áridas da mediocridade, onde todos os avanços do momento, do passado e do futuro, com todos os seus erros e derrotas, acertos e celebrações, não passam de um tremendo desperdício de inteligência.

Somente depois de passar pela experiência mística, diz Huberto Rohden, o homem continua a ser ético, mas a sua ética perdeu o colorido moral do “dever”; esse homem já não é ético por virtude, por um imperativo categórico de consciência, mas sim como um suave e espontâneo transbordamento da sua experiência com Deus... Não ama a seu semelhante como a si mesmo porque vê nisto uma obrigação moral, um preceito ético, mas simplesmente porque o seu amor divino lança suas vibrações sobre toda a natureza e em qualquer lugar do Cosmos... Experiência essa que nenhuma máquina ou engenho lhe poderá dar, onde todas as visões do Cosmos mostrarão seu esplendor.

As viagens centrífugas dependem de recursos físico-mentais - mas a viagem centrípeta supõe forças espirituais, que a maioria dos seres humanos ainda não descobriu ou não sabe utilizar devidamente.

O descobrimento e a captação dessas energias latentes do Eu central é o resultado de longos anos, séculos e mesmo milênios de intensa e persistente disciplina, pois “estreito é o caminho e apertada é a porta que conduzem à vida eterna” ...

Essa é a mágica divina, integral, da experiência que mostra a possibilidade de o homem transcender na fé; superar a ilusão de seu ego tirânico, e peregrinar ao Real, que conduz cada ser humano, passo a passo, à sua total dimensão. A mística ensina, como diz Augusto dos Anjos, “a ter a fé de que perante a evolução imensa, que o homem universal de amanhã, vença o homem particular que ele ontem foi”.

Paramahansa Yogananda, em uma palestra dada em Los Angeles, na Califórnia, no dia 16 de fevereiro de 1939 dizia: “A ciência se aproxima do conhecimento da natureza e da vida de outra maneira. No entanto, a promessa inicial de descobertas científicas muitas vezes falha por não conseguir produzir algo permanente. Os efeitos benéficos são sentidos apenas por pouco tempo; então algo pior vem a ameaçar a felicidade e o bem-estar do homem. A vitória final não virá pela aplicação dos métodos da ciência por si só, porque estes métodos lidam com coisas externas, com efeitos em vez das suas causas sutis. O mundo vai continuar, apesar dos desastres, e a ciência continuará novamente a fazer novas conquistas. Mas só a ciência espiritual pode nos ensinar o caminho para a completa vitória.”

Albert Einstein, este famoso cientista universal, místico, visionário, humanista, pacifista - afirmou que:- “Ciência natural sem religião é manca – religião sem ciência é cega”. E essa afirmação é uma verdade, pois conhecer apenas os fatos objetivos equivale a uma luz fria, luz sem calor e sem força. No entanto, querer crear valores subjetivos, religiosos, morais e éticos, sem o devido conhecimento dos fatos, equivale a correr às cegas. Luz sem força cria inteligências luciferinas - calor sem força gera vontades fanáticas.

Religião para Einstein não são as igrejas, mas o verdadeiro re-ligare, que no sentido abstrato, refere-se ao sobrenatural ou ao supernatural, à divindade, à mística, à fé em algo supostamente intangível e que não necessita de demonstração científica. A religiosidade está divorciada da alma da verdadeira religião pela contaminação do elemento humano, e muitas vezes, é inimiga mortal da verdadeira religião.

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1)- Para a vasta maioria dos científicos é mais fácil mostrar as suas habilidades no que é tangível, no que é mais em voga ultimamente, como em viagens intergalácticas, foguetes hipersônicos, na robótica, explorar e fotografar os desertos de Marte e outras aventuras do ego, do que tentar decifrar o quebra-cabeças que para eles é a realidade intangível, ou do que se passa no universo da psique humana, a intuição no pensamento, a moral e a ética, os princípios e demais realidades da essência humana, e, diante disse ponto de interrogação, a humanidade continua a marcar passo na evolução ascensional do espírito.

Não se pode negar que os avanços científicos mostraram e mostram a habilidade do poder creativo do homem, no entanto, é necessário rever as prioridades nas descobertas científicas. Trava-se uma verdadeira batalha de egos em quem primeiro desenvolverá tal produto ou tal propósito, como por exemplo, na primeira viagem do homem à lua, onde dois países pioneiros nesse avanço, tentaram desesperadamente conquistar.

No dia 18 de fevereiro de 2021, um veículo não tripulado - a nave Perseverance – com um custo de quase 3 bilhões de dólares, tocou a superfície de Marte, com uma das finalidades de descobrir a possibilidade de traços antigos de vida nesse chamado planeta vermelho, enquanto a vida aqui na Terra, está gradativamente desaparecendo devido à ganância humana. Ao mesmo tempo, diante de uma pandemia de vírus de proporções alarmantes, a política de quem melhor e mais efetivamente produz a vacina e a quem ela será aplicada primeiro, tem favorecido apenas os países com melhores condições financeiras, enquanto os demais terão que esperar até o ano de 2023 - em uma previsão otimista - para receber suas primeiras doses.

Por qual razão até agora, não existe uma vacina efetiva contra o vírus da malária, que há séculos vem ceivando a vida de milhões de pessoas? E que quando foi pela primeira vez aplicada em 2015 (!), mostrou pouca eficiência.

Segundo um artigo no jornal Nature de 25 de agosto de 2020, que é o jornal científico multidisciplinar de liderança mundial, que a vacina 100% eficaz contra a malária, começará a ser aplicada, se for aplicada, somente em 2021! E essa discrepância nas descobertas científicas se deve ao fato de que a malária, é prevalente em regiões tropicais e subtropicais do planeta, ou seja, em regiões de populações pobres e de países sem recursos; consequentemente, é para a ganância das companhias farmacêuticas, uma pesquisa que pouco interessa.

Finalizando, o momento mais importante do processo na evolução da ciência só vai ocorrer quando ela estabelecer valores, quando a perseverança nas descobertas cientificas deixar de tocar a superfície ilusória do ego e se estabelecer em terreno mais fértil, que é o da solidariedade. 

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