De duas coisas o homem moderno tem horror – de Deus e de si mesmo.
Para fugir de Deus professa ateísmo, senão, uma fé fragmentada em qualquer das religiosidades, e, para fugir de si mesmo inventa barulhos e ocupações de todos os tipos.
Se não tem razão em fugir, pelo menos a lógica diz que – quem foge de Deus deve também fugir do próprio Eu ... pois o Eu sem Deus é um eu infernal – e quem pode habitar no inferno?
Para voltares ao Eu – terás de voltar a Deus, ó homem moderno!
Procuras fugir de ti mesmo, enchendo com estardalhaços, o vazio de uma vida super agitada, povoando com encontros cheios de ruídos e tarefas dispensáveis, a tua solidão interior, e pretendendo assim, encher com milhares de vacuidades, o vácuo de ti mesmo.
Não sabes que vácuos não se enchem com vacuidade – mas com plenitude?
Por que evitas saber o que vai por dentro de seu Eu – e só te interessas pelo que acontece lá fora? ...
Por que és amigo de todas as periferias – e inimigo do próprio centro?
Adoras o barulho das ruas ...
Delicia-te com o vaivém das avenidas e praças ... te encanta o deserto sonoro de praias e clubes, de salões elegantes, da parafernália eletrônica que hoje mais parece uma extensão de seu corpo!
De delírios te enchem as loucuras de carnaval e jogos profanos ...
E quando vives longe do barulho amado, não sabes o que fazer de ti mesmo ... acabas perdido em tudo – e com isso acabas frustrado e neurótico.
Um vácuo diante de outro vácuo ...
Que venha o jornal, venha o romance, venha o rádio, a televisão, em socorro ao pobre náufrago de si mesmo, canalizando o profano ruído para a insuportável solidão interior!
O náufrago se agarra na tábua salvadora – e julga escapar de se afogar no oceano do vácuo interno.
Ó pobre homem! ... O que será de ti após o carnaval desta vida? ...
Quando amanhecer a quarta-feira de cinzas? ...
O dia que arrancas da face todas as fantasias – e a própria pele? ...
O dia em que a matéria volta à matéria – e o espírito voltará ao Espírito? ...
Constrói, ó homem, a tua vida interna – arquiteta o teu mundo eterno!
Enche de valores eternos os espaços da alma! ...
Depois do alucinado carnaval, segue a silenciosa quaresma, a Semana Santa e a Páscoa jubilosa ...
Faze de tua vida uma Semana Santa de trabalho, estudo e meditação – e verás despontar um domingo de Páscoa.
Segue-se ao miserere de hoje – a aleluia de amanhã ...
Teu mundo interno é eterno ...
Imortal ...
És tu mesmo ...
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O texto acima, revisado e complementado, foi escrito por Huberto Rohden no início de 1940, e publicado no livro De Alma Para Alma, mostra hoje, princípios de 2021, a mesma problemática existencial da humanidade de tempos imemoriais – em plena pandemia causada por um inimigo invisível, que obriga, por intermédio de governos e demais entidades, ao isolamento social afim de combater esse mal.
E no isolamento, o homem não consegue se encontrar com si mesmo, frustrando todas as possibilidades de abertura de um canal rumo à Fonte Cósmica, e deixar fluir as águas vivas do conhecimento de si mesmo. Ou seja, longe da sua zona de conforto, interagindo com todas as externalidades, mostra quão frágil é a mente humana e o quanto ela se submete às exigências das atividades profanas e com isso, aumentando as estatísticas de frustrações, depressões e demais doenças psicológicas, acelerado número de suicídios, violência doméstica e todos os outros males reservados à quem não consegue controlar uma mente multipolarizada.
Segundo Rohden, é: “tempo perdido querer contornar o problema central da felicidade por meio de toda a espécie de escapismos e camuflagens. É melhor enfrentar corajosamente a dolorosa realidade desse inevitável encontro consigo mesmo, nem que seja se submeter à uma operação cirúrgica sem anestesia, uma tremenda sangria do ego, mas cujo resultado é convalescença e vida.”
E Paul Brunton afirma: “Que gastamos excessivo tempo nas horas de lazer nada fazendo que realmente interessa, e que sobra pouquíssimo tempo para aquilo que é realmente importante”, e o filósofo Sócrates adiciona: “Tome cuidado com o vazio de uma vida agitada demais”.
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