Saturday, 21 August 2021

FILOSOFIA CÓSMICA

O conteúdo das páginas que seguem abaixo, não se dirige às multidões barulhentas, mas sim para as almas inquietas. Visa apenas aos leitores interessados a desbravar e buscar soluções para seus dramas e dilemas relacionados ao espírito.

A vasta maioria dos seres humanos não se preocupa com essas questões; desperdiçam suas vidas inebriadas pelo que o ego tirânico e os sentidos tem a oferecer. Vivem e morrem e deixam o mundo quase tão limitados de espírito como nele entraram. Portanto, estas páginas não devem ser lidas por:

1 — Por leitores habituados a assumir cegamente opiniões alheias, incapazes de critério pessoal, autônomo;

2 — Por aqueles preconceituosos e míopes que condenam como falso ou imoral tudo o que excede os limites de seu conhecimento;

3 — E os de visão estreita, diante de tantas escolas filosóficas, e que relutam em abranger a consciência no sentido de explorar e assimilar algo novo no contexto do conhecimento.

Os representantes dessas três categorias, perderiam com esse estudo, a tranquilidade de suas consciências, pois exigiria deles, a sua integração no Cosmos, sintonizando suas vidas com o Deus do mundo no mundo de Deus.

O filósofo Huberto Rohden, formado em algumas disciplinas das ciências exatas, humanidades e Filosofia, sobre verdade, existência, realidade, causalidade e liberdade, criou um ramo particular nesta área, a Filosofia Cósmica, que abrange alguns aspectos e valores de cada pensamento desta ciência humana dentro de uma só. Rohden não entende por Filosofia um processo puramente intelectual, analítico, horizontal; mas sim uma atitude essencialmente racional-espiritual; não uma inteligência periférica das aparências, mas uma experiência central da própria essência. A parte intelectiva que inevitavelmente acompanha essa atitude intuitiva nada mais é do que o corpo, o envoltório externo, mas é essencialmente o espírito, a manifestação divina na alma do homem; é como uma sombra que acompanha fatalmente a luz.

 

UNIDADE NA DIVERSIDADE

O Centro de Auto-realização Alvorada tem por finalidade iniciar o homem na consciência da sua Realidade interna e eterna. Esta iniciação do homem na verdade sobre si mesmo, que é o autoconhecimento, visa a realização do homem integral que é a auto-realização.

Para este fim, Alvorada não adota nenhuma espécie de filosofia baseada em pessoas, escolas ou sistemas de pensamento, antigos ou modernos, mas guia-se pela própria Constituição Cósmica. As leis do macrocosmo são as mesmas leis do microcosmo no homem. Conhecer este é conhecer aquele; autoconhecimento é Cosmo-conhecimento.

Nos últimos decênios antes de seu falecimento em 1981, em livros, aulas e palestras, Rohden usava frequentemente a palavra Filosofia Cósmica com a finalidade de dar uma resposta coletiva a todos os interessados, e ao mesmo tempo uma resumida explanação desse movimento em expansão e com isso, publicou o presente resumo.

Depois de ter convivido mais de um ano com Albert Einstein, na Universidade de Princeton, depois de ter lecionado Filosofia a milhares de jovens e adultos na Universidade Americana de Washington D.C., por 6 anos, ele chegou à conclusão de que, em plena Era Atômica e Cosmonáutica, não se pode mais apresentar a Filosofia nos moldes tradicionais.

A ciência, nos últimos decênios, assumiu um caráter monista; o seu antigo pluralismo heterogêneo culminou num monismo homogêneo, que focaliza a aparente diversidade do Cosmos numa fascinante unidade. Esta unificação da pluralidade é devida, sobretudo, ao fato de ter a matemática de Einstein e a ciência dos físicos demonstrado que os elementos da química, de que são feitas todas as coisas, são essencialmente luz, luz congelada, quase passiva, manifestando-se como matéria ou energia. Sabemos hoje analiticamente o que Moisés sabia há 3.500 anos intuitivamente: que tudo no Cosmos tem origem a partir da luz, e por esta razão, essa energia luminosa pode ser também condensada.

Esta verdade, que enche de estupefação os inexperientes e de dúvidas os céticos, foi a conquista suprema da inteligência humana do século XX.

Este monismo físico da ciência não podia deixar de ter o seu paralelo no monismo metafísico da sapiência, ou filosofia. A heterogeneidade dos sistemas filosóficos estava a pedir por uma homogeneidade que complementasse pelo eterno Uno (o Creador), o efêmero Verso (das creaturas) do Cosmos.

Não era mais possível tomar como base da Filosofia eterna, escolas, sistemas e pessoas. Era necessário partir de um alicerce mais sólido que não fosse a variável mentalidade humana.

O médico russo A. Salmanoff (1875-1964), afirmou que encontrou na Europa nada menos de 75 sistemas filosóficos, e nenhum dos quais prestou jamais o menor benefício à humanidade. É possível que Salmanoff tenha tido razão no tocante aos “sistemas filosóficos”, produtos do cérebro humano.

A Filosofia Cósmica, no entanto, não se trata de nenhum sistema filosófico mentalmente investigado ou pesquisado – se trata da eterna e indestrutível realidade do Cosmos. O Cosmos como base e diretriz do pensamento e da vida humana – o universo que, na sua essência imutável, se manifesta sem cessar em existências sempre novas: o universo, Alfa e Ômega da vida humana.

Sendo o Cosmos infinito e finito, eterno e temporário – a indestrutível realidade do macrocosmo sideral não pode deixar de ser também a lei que rege o microcosmo humano; o homem deve tornar-se livremente o que o Cosmos é automaticamente; deve fazer de si a mesma harmonia que habita no Cosmos. O homem Cósmico ou Integral é uma harmonia creada pelo seu livre-arbítrio.

Os gregos denominavam o universo, kosmos, cujo radical significa beleza.

Os romanos deram ao universo o nome mundus, que quer dizer puro.

Quando o homem se torna universal, ele se torna belo e puro.

Se houvesse, no macrocosmo ou no microcosmo, apenas unidade sem diversidade, força centrípeta sem força centrífuga, teríamos uma insuportável monotonia e eterna estagnação. Se houvesse apenas diversidade sem unidade, força centrífuga sem força centrípeta, acabaria tudo num imenso caos.

Mas, como o Cosmos é o que o seu nome diz, unidade na diversidade, o resultado é essa estupenda harmonia, que é o perfeito equilíbrio entre dois polos aparentemente opostos, mas absolutamente complementares: a Causa, que é a unidade, disseminada na pluralidade dos efeitos, as creaturas.

O homem unificado com o Cosmos pode e deve fazer, pelo poder do livre-arbítrio, o que o Cosmos é por necessidade automática em concordância com o pensamento de seu Creador.

É esta a quintessência da Filosofia Cósmica, o Alfa e o Ômega da vida humana.

 

A BIPOLARIDADE DO MUNDO E DO HOMEM

Átomos e astros se movem em elipses bicêntricas – não existe no Cosmos um único círculo monocêntrico.

A eletricidade só se manifesta como luz, calor e força, graças à sua bipolaridade positiva e negativa.

Toda a vida superior da terra está baseada na bipolaridade dos elementos masculino e feminino.

Esses dois polos da natureza são rigorosamente equilibrados e funcionam em perfeita harmonia.

De modo análogo, o universo no homem é governado pela bipolaridade da natureza humana, que a Filosofia e a Psicologia modernas denominam o Eu e o ego.

Os livros sacros do cristianismo usam os termos Alma ou espírito divino para designar o Eu central do homem, e a expressão corpo ou mundo para significar as periferias da natureza humana.

“Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro se chegar a sofrer prejuízo em sua própria alma?” (o Cristo, Eu)

“Eu te darei todos os reinos do mundo e sua glória, se te prostrares em terra e me adorares.” (o Anticristo, ego)

O homem perfeito e integralmente realizado estabeleceu completo equilíbrio entre o seu Eu e o seu ego.

O homem profano só cultiva o seu ego, atrofiando o Eu. O místico tenta realizar somente o Eu sem o ego.

O homem cósmico, porém, realiza o seu Eu através do seu ego, porque sabe que o Eu é a Fonte, e o ego é o canal, pelo qual as águas vivas da nascente fluem e beneficiam a sua vida.

A ciência tem por objeto as leis da natureza. A filosofia visa ao conhecimento e à realização do homem.

A ciência é cosmocêntrica.

A filosofia é antropocêntrica.

O aperfeiçoamento do Eu ou da alma humana é a finalidade suprema da vida – e essa realização se faz através do ego, cujos elementos são o corpo, a mente e as emoções.

Sendo que a evolução do homem começa pela periferia e vai rumo ao centro, os grandes Mestres da humanidade insistem sobretudo no desenvolvimento do Eu ou da alma humana, a fim de evitarem a hipertrofia do ego e a atrofia do Eu.

O homem perfeito é o homem cósmico, que estabeleceu completo equilíbrio e harmonia entre os dois polos interno e externo. É este o fim supremo de toda a educação verdadeira.

O educador deve extrair de dentro do educando, e desenvolver o Eu dele, a fim de equilibrá-lo com seu ego.

 

O PROBLEMA DA FELICIDADE HUMANA

“A vida nunca é insuportável pelas circunstâncias, mas apenas pela falta de significado e um ideal.” Viktor Frankl

Os maiores médicos e psiquiatras do mundo confessam que o grosso da humanidade moderna é neurótica, frustrada ou esquizofrênica. O Dr. Viktor Frankl (1905-1997), em diversos livros traz estatísticas alarmantes sobre essa calamidade do homem chamado de civilizado dos nossos dias. E dá também o diagnóstico do mal: a falta de uma consciência de unidade. O homem moderno, hipertrofiado na sua diversidade (ego) e atrofiado na sua unidade (Eu), é o resultado dessa separação que ele julga ter entre ele e o Creador, portanto, no caos em que o homem vive, em que o mundo da dispersão derrotou a centralidade.

Frustrar é a palavra latina para despedaçar, fragmentar, desintegrar. O homem frustrado sente-se desintegrado interiormente, o que produz nele um senso de profunda infelicidade. Em última análise, toda felicidade provém de uma consciência de coesão e integridade. O homem é infeliz porque perdeu a consciência da sua integridade e unidade; pode ser uma personalidade, uma máscara, mas deixou de ser uma individualidade. Unidade, integridade, felicidade, são sinônimos.

Muitos frustrados acabam em esquizofrenia. A palavra esquizofrênico quer dizer, em grego, mente partida. O homem mentalmente fragmentado é um homem desunido.

Onde não há realização existencial há necessariamente uma frustração existencial, que é o motivo da infelicidade de milhares de homens.

O homem que deixou de ser cósmico pela unidade, termina, cedo ou tarde, num caos pela desunião consigo mesmo. As leis que regem todo o universo regem também o universo no homem.

Os Mestres que se ascenderam na vida, que se submeteram a uma série de transformações espirituais ou iniciações, além de fazerem o diagnóstico da enfermidade, indicam também a sua cura. Viktor Frankl curava os seus doentes frustrados com a Logoterapia, mostrando-lhes o caminho para restabelecer a sua integridade existencial, despertando-lhes a consciência do seu Lógos interno, o seu Eu, a sua alma. E os que conseguem fazer com que seu ego gravite em torno do centro do seu Eu, restabelecem a harmonia e felicidade da sua existência.

Krishna, na Bhagavad Gita, afirma que o ego é o pior inimigo do Eu, mas que o Eu é o maior amigo do ego. E Einstein, à luz da sua matemática metafísica, mostra que do mundo dos fatos (ego) não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores (Eu).

O que é tudo isto senão Filosofia Cósmica, expressa de maneira diferente? O homem, para ter harmonia e felicidade, deve ter um centro onde ele gravita fixo e imutável, e que deve afirmar a soberania da sua substância divina sobre todas as tiranias das circunstâncias humanas. Deve se tornar universalizado.

Em quase todos os livros de Rohden, ele deu muita importância a esse caráter cósmico da vida humana. Mas nada disto é possível, se o homem passar as 24 horas do dia dispersivo em seu ego, e não der um tempo à concentração do Eu. As leis cósmicas são inexoráveis e imutáveis, e obedecer a essas leis é harmonia e felicidade – desobedecer-lhes é caos e infelicidade.

Rohden não foi um advogado da passividade contemplativa, mas um defensor da harmonia e do equilíbrio entre atividade e passividade, introversão e extroversão, concentração e expansão, implosão e explosão, que são o característico de todos os setores da natureza. Enquanto o homem não se unir ao Cosmos, ele será sempre frustrado e infeliz. Um pouco de profunda Cosmo-meditação pode dar ao homem o devido equilíbrio para o resto do dia. O sol pelas manhãs inunda a terra de luz, e que essa luz desfaça as trevas do caminhar mundano no homem.

Ele não recomendava a meditação em forma de pensamentos analíticos, que é ineficiente, mas a profunda sintonização com a alma do Cosmos, o esvaziamento de toda a ego-consciência, para que a plenitude da cosmo-consciência possa plenificar com as águas vivas da fonte divina a vacuidade dos canais humanos. Enquanto a ego-plenitude (egocentrismo, egolatria) funciona, a Teo-plenitude não pode funcionar. É lei cósmica: plenitude só enche vacuidade, ou na linguagem dos livros sacros, “Deus resiste aos soberbos (ego-plenos), mas dá da sua graça aos humildes (ego-vácuos)”.

Durante a Cosmo-meditação o homem deve esvaziar-se de todos os conteúdos do seu ego-humano – sentimentos, pensamentos e desejos – mantendo, porém, plenamente alerta a sua consciência espiritual; deve manter 100% de Teo-consciência (Eu) e reduzir a ego-consciência a 0%.

A finalidade da Filosofia Cósmica é, pois, estabelecer no homem a mesma harmonia que existe no universo, com a diferença de que no homem, esta harmonia é voluntária e livre, enquanto no Cosmos ela é automática, guiadas pelas leis do Creador.

O esforço inicial dessa harmonização vale pela subsequente felicidade da vida humana.

No princípio, o aspirante dessa técnica de se integrar no Cosmos, necessita de períodos determinados e lugar certo para essa integração; mais tarde ele pode manter a concentração interior no meio de todas as dispersões exteriores, pode unir a sua implosão mística com todas as explosões dinâmicas; pode viver simultaneamente no Deus do mundo e nos mundos de Deus.

 

EVOLUÇÃO RUMO AO HOMEM CÓSMICO

Por mais paradoxal que pareça, diante do caos presente, cada vez mais se acentua a evolução centrípeta da humanidade, em todos os setores: científico, filosófico e religioso, pois ainda existe uma parcela de humanos dedicados à evolução de sua condição, não apenas no seu aspecto material, mas acima de tudo no seu aspecto metafísico. E esta evolução centrípeta tende a culminar na evolução do homem cósmico e crístico.

O homem se sente cada vez mais como um fator auto agente, e cada vez menos como um simples fato externamente agido.

O homem se sente cada vez mais como alguém, e cada vez menos como algo. Cada vez mais como o sujeito central, cada vez menos como um objeto periférico.

O homem de hoje tem nítida consciência do seu caráter de ser presentemente ativo e autodeterminante, superando o seu passado externamente determinado.

O homem diz cada vez mais como o poeta inglês, William Ernest Henley (1849–1903) no poema Invictus: “Eu sou o senhor do meu destino – eu sou o comandante da minha alma”.

Já faz algum tempo que parcela da humanidade mais evolvida espiritualmente, superou a sua infância, entrou na adolescência, e está despertando para a maturidade independente.

Na infância o homem é externamente determinado pelos pais e por outros fatores alheios ao seu ser.

Na adolescência, o homem tenta ser ego-determinante pela sua personalidade intelectual.

Com a entrada na maturidade, o homem se torna autodeterminante sob o amparo da sua individualidade espiritual.

Da inconsciência da infância, através da semiconsciência da adolescência, o homem sobe às alturas da plenitude consciência da sua adultez.

Esse processo ascensional é, sobretudo, visível no setor filosófico-religioso.

Durante muitos séculos, o homem espiritualmente infantil estava convencido – ou melhor, persuadido – de que ele era mau em virtude de um fator alheio, negativo, de um tal diabo, Satanás ou Anticristo. Em grande parte, a humanidade de hoje ainda acredita piamente que alguém fez o homem pecador, contra a sua própria vontade; que ele é essencialmente mau, negativo, pecador; que todo o homem nasce e foi concebido em pecado, graças a um fator alheio à sua própria consciência e vontade. Todas as igrejas chamadas cristãs professam essa ideologia de maldade heterônoma: o homem foi feito mau por alguém, herdou uma maldade inconscientemente. Os próprios discípulos de Jesus perguntaram a ele se o cego de nascença herdara a causa da cegueira de seus antepassados pecadores ou da sua própria pré-existência pecadora; queriam saber se o cego recebera o mal da cegueira de malfeitores ou do seu próprio malfeitor numa encarnação anterior.

Jesus, porém, nega ambas as alternativas sugeridas e passa para uma terceira solução, que até hoje é um enigma para muitos. O certo é que ele nega a maldade por circunstâncias externas para explicar o mal desse sofrimento.

Se houvesse a possibilidade de uma maldade herdada pelo homem, deveria haver também a possibilidade de uma bondade que o homem pudesse receber de um fator alheio; se alguém me fez mau e pecador, é lógico que alguém me possa fazer bom e santo; se o Anticristo pode me perder, um Cristo deve me poder salvar. E, como todas as igrejas cristãs aceitaram o primeiro, não podiam deixar de aceitar o segundo: redenção por fatores externos neutralizando a perdição por fatores externos.

Jesus, felizmente, nada sabe dessas condições. Para ele, o homem colherá aquilo que ele mesmo ou a humanidade semearam. Para o maior gênio espiritual da humanidade não existe perdição nem redenção por fatores externos, mas somente ego-perdição e autorredenção.

Nisto se revela a mais alta lógica e racionalidade de Jesus – e também a maior apoteose do livre-arbítrio do homem. Ele poderia dizer como o poeta-filósofo: O homem é o senhor do seu destino, negativo e positivo; o homem é o comandante da sua vida de pecador e de justo.

Quando a humanidade medieval saiu, em parte, da sua longa infância espiritual, caracterizada pela ideia da sujeição ao mal e ao bem, de perdição e de redenção por fatores externos – o homem da Renascença despertou, parcialmente, para a consciência do seu poder independente; compreendeu que ele mesmo, e não alguém além dele, era o autor da sua maldade e da sua bondade. Mas, como o homem da Renascença, depois de deixar sua infância medieval, mas não ainda um homem plenamente adulto, esse homem descobriu apenas uma parte da sua natureza, descobriu a personalidade do seu ego-mental, mas ainda não a individualidade do seu Eu-espiritual.

E o homem-ego renascentista apelou para seu ego personal para se redimir das suas maldades e dos seus males. Há cerca de mais de quatro séculos que o homem da Renascença prometeu que, pelo poder da inteligência do seu ego, ia crear o céu sobre a terra; prometeu, e em parte continua a crer, que a ciência e a técnica, resultado da sua inteligência, possam abolir os males; o ego, segundo ele, tem o poder mágico de fechar cadeias e penitenciárias, hospitais e hospícios, contanto que abra muitas  escolas e laboratórios. Ocorre que este pensamento é de uma infantil ingenuidade, pois os maiores malfeitores da humanidade são homens de conhecimentos e diplomas.

Mas, esses séculos de promessas de céu na terra não cumpriram a sua palavra, e sobretudo a humanidade atual, que passou por duas guerras mundiais, e está em vésperas de uma possível conflagração mundial, não pode mais crer no poder redentor da civilização e da cultura creadas pelo ego.

O grande erro da Renascença, foi a confusão entre o fator ego e o fator Eu – ou melhor, foi o deplorável desconhecimento ou menosprezo do Eu espiritual do homem – e essa ignorância ou desprezo continuam até os nossos dias.

Hoje em dia, finalmente, parte da humanidade está começando a compreender, ou talvez a vislumbrar, que o ego é fator de perdição, mas não é fator de redenção. E muitos estão começando a compreender que, para que surja o homem integral, realmente remido, temos de acrescentar ao negativo do ego o fator positivo do Eu.

Surge agora um grande problema: como despertar no homem o fator Eu, para fazer com o ego a complementação do homem integral.

O fator ego, quando isolado, é perdição funesta, porque adultera a sua função de servidor e se atribui a si próprio a função de senhor do homem.

A sabedoria da Bhagavad Gita de Krishna diz: “O ego é um péssimo senhor, mas é um ótimo servidor”.

E a sabedoria do Evangelho de Jesus dá ordem ao ego anticrístico para se pôr na retaguarda do Eu crístico como servidor, e não na vanguarda como senhor.

Está escrito: “Só a Deus adorarás e só a ele servirás”.

O homem integral não é um ego sem Eu, nem um Eu sem ego – mas sim um senhor na vanguarda e um servidor na retaguarda.

No universo físico não há substituição de um polo pelo outro. E como poderia o universo metafísico ser diferente? Todo o Cosmos sideral e no homem é uma grandiosa síntese de polos complementares perfeitamente equilibrados e harmonizados.  

A humanidade, através de muitas lutas, está começando a vislumbrar esta integração da natureza humana: a autorredenção pelo Eu divino compensando a ego-perdição proveniente do ego humano.

A Filosofia Cósmica, quando plenamente conscientizada e integralmente vivenciada, conduz infalivelmente à auto-realização, creando o Homem Integral, o Homem Cósmico, o Homem Universal, o Homem Crístico.

 

DO EGO MENTAL AO EU ESPIRITUAL

Quando o homem ultrapassa a fronteira do seu ego mental e supera a mente rumo ao Eu espiritual, mas sem perder o contato com a zona mental – é quando surge o Homem Integral, o Homem Cósmico.

O ego mental não é destruído pelo Eu espiritual, é integrado nele.

Com uma ilustração matemática, o leitor poderá compreender melhor esse processo; dando ao ego mental o número 10, e ao Eu espiritual o símbolo 100.

De dois modos podemos destruir o 10: ou tirando-lhe o sinal 1, ou acrescentando-lhe o sinal 0. No primeiro caso, em vez de 10, temos 0, isto é anulação, destruição. No segundo caso temos 100. Este 100 praticamente anulou o 10, mas não o destruiu por diminuição, e sim por aumento; não o destruiu negativamente, mas positivamente: isto é, destruiu-o construindo-o. No 100 permaneceu a essência ou alma do 10; desapareceu apenas a sua existência ou o seu corpo. O 10 foi integrado no 100; a parte foi completada pelo todo.

Na Cosmo-meditação se passa o segundo caso. Quando o ego mental se integra no Eu espiritual, acontece o que ocorre quando o 10 se integra no 100: não morre, mas vive mais intensamente; não morre para a morte, mas morre para a vida, de uma vida mais intensa; desaparece a sua pseudo vida transformada numa vida verdadeira.

É o que os Mestres espirituais chamam de suicídio do ego, ou seja, morrer espontaneamente antes de ser morto compulsoriamente, ou uma espécie de morte metafísica voluntária.

Neste sentido escreve Paulo de Tarso: “Eu morro todos os dias, e é por isto que eu vivo; mas não sou eu que vivo, Jesus é que vive em mim”. E disse Jesus: “Se o grão de trigo não morrer ficará estéril, mas se morrer produzirá muito fruto”.

É esta a finalidade da Cosmo-meditação: a integração do ego mental ilusório no Eu espiritual verdadeiro; ou seja, auto-realização pelo autoconhecimento: a creação do Homem Integral, do Homem Cósmico.

Quem vive realmente a Filosofia Cósmica realiza em si o Homem Cósmico.

O Homem Cósmico é o homem feliz.

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