O texto abaixo é de uma entrevista que Huberto Rohden concedeu para um canal de televisão em São Paulo, Brasil, em meados dos anos 70.
“A maioria dos estudos e livros sobre o livre arbítrio no homem fazem uma permanente confusão entre liberdade potencial e liberdade dinâmica. Faz parte da natureza de todo ser humano normal que sejam potencialmente livres, mas ninguém nasce dinamicamente livre. Ao nascer, o homem tem todo o material disponível para construir o edifício da liberdade, para conquistar a sua liberdade dinâmica, e isto é tarefa de uma vida inteira.
A liberdade potencial é um presente de berço que todo homem recebe, mas a liberdade dinâmica é uma conquista da consciência, e que poucos conseguem. Muitos atingem o fim de suas vidas, apenas com a liberdade potencial adquirida ao nascer, e nunca desenvolveram a sua liberdade de forma dinâmica. Entre poucos outros, apenas para citar alguns nomes, Buda, o Cristo Jesus, o Mahatma Gandhi; só estes conseguiram ...
Se entre os bilhões de habitantes do planeta, talvez, numa estatística muito otimista, existem apenas 1% dos que atingiram sua liberdade dinâmica, embora todos tenham recebido a liberdade potencial.
Por quê?
Porque a vasta maioria da humanidade não quer fazer um esforço de se libertar da escravidão histórica. Se escravizaram pela ganância, pelos instintos, pelas tradições das sociedades e suas práticas culturais, escravos de governos, igrejas e escravos de muitas outras escravidões. O ser humano é um grande escravocrata e escravizador, via de regra, até o fim de suas existências.
As leis que aboliram a escravidão negra no mundo, é um fato histórico do passado. E quem foi que aboliu a escravidão branca, e a escravidão dos peles vermelhas, e a escravidão dos amarelos asiáticos, enfim, a escravidão humana? Ninguém as pode abolir por decreto. Entretanto, cada ser individualmente pode tratar de abolir a sua escravidão e proclamar a sua libertação. E isto é perfeitamente possível.
O livre arbítrio humano existe desde o início, mas é apenas uma potencialidade – é matéria prima para o livre arbítrio dinâmico. Mas quem não dinamiza o livre arbítrio que recebeu como presente de berço, não se libertou, e o grosso da humanidade não enxerga essa possibilidade e não se liberta.
Liberdade não quer dizer se ausentar dos benefícios que o dinheiro possa trazer, do que as sociedades oferecem, nem da família, nem de nada que de prazer. A liberdade tem outra conotação; libertar-se não significa se ausentar. Liberdade é ser livre no meio dos escravos, e dos escravocratas, ser puro no meio dos impuros. Quem se ausenta confessa que é fraco. E fraqueza é escravidão. E a atitude a ser tomada é a de ser livre no meio da escravidão.
Passar pela sarça ardente sem se queimar...
Que simbolicamente representa a passagem bíblica descrita no Livro do Êxodo, onde a sarça queimava, mas não foi consumida pelas chamas!
Fugir, abandonar, ausentar-se, não é a solução. O homem tem que ser livre vivendo no meio da sociedade. A libertação consiste em saber usar de todas as coisas sem abusar de nenhuma. Abusar é proibido. Recusar é permitido. Usar é recomendado.”
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