Ensinamentos de Sri Ramana Maharshi.
INTRODUÇÃO
Sri Ramana Maharshi nasceu no vilarejo de Tiruchuli (48 quilômetros ao
sul da cidade de Madurai, Índia) em 30 de dezembro de 1879. Aos 16 anos, ainda
estudante de um colégio fundado por missionários norte-americanos em Madurai,
teve uma plena e espontânea experiencia reveladora, o que o tornou um dos mais iluminados
sábios da Índia.
A partir desse momento, ele renunciou completamente à sua vida normal e
viajou para Tiruvannamalai, uma cidade sagrada onde fica a colina de
Arunáchala, que segundo os Indús, é uma manifestação direta do Senhor Shiva, um
dos deuses supremos do hinduísmo, conhecido também como “o destruidor e
regenerador” da energia vital, significando o “benéfico”, aquele que faz o bem.
Após três anos em que viveu dentro do templo principal e outros locais
em estado de forte absorção espiritual em que parecia não ter consciência de
seu corpo, mudou-se para Arunachala, na caverna de Virupaksha, onde permaneceu
por 17 anos. Em 1902, seu devoto Sri M. Sivaprakasam Pillai lhe formulou uma
série de perguntas sobre a busca espiritual em geral e sobre a indagação do Eu,
onde assim, se deu para publicação, a edição de 28 perguntas que aparecem pela
primeira vez na imprensa, em 1923.
Nas instruções desse texto, são apresentados os principais ensinamentos
de Sri Ramana Maharshi, chamados de “investigação do Eu”, que levam diretamente
à liberação da alma individual e, que segundo o sábio, se deve perguntar insistentemente,
“quem” é o vetor dos pensamentos que estão surgindo, até que finalmente o “eu
penso” seja destruído e apenas o Eu divino, e não o eu/ego permaneça. Nessa
condição de realização, não há “eu”, nem sofrimentos, mas apenas paz, silêncio
e felicidade absoluta. E para isso é preciso estar extremamente alerta e não
deixar a mente divagar. As várias disciplinas de respiração, meditação,
repetição de mantras, sons divinos, nomes sagrados, etc., são apenas práticas
auxiliares e ajudam a mente a se tornar unipolarizada. Assim, a mente é
fortalecida e a investigação de si mesmo pode ser realizada constantemente, sem
repressão ou violência.
Desde que todo ser deseja viver sempre feliz e sem sofrimentos, pois em
cada um deles se observa o autoamor, e porque só a felicidade é a causa do
amor, e que para se obter essa felicidade que é da íntima natureza de cada ser
- fenômeno que se experimenta no sono profundo, onde a mente não está presente
– é que se faz necessário o conhecimento de si mesmo. Para isso, o principal
meio é o caminho da auto indagação, na forma da pergunta: “Quem sou eu?”
Em todos os níveis do conhecimento humano, ainda
precário e fragmentado, principalmente no que se refere à questão espiritual,
tão amplamente debatido durante os séculos, de algo pode-se ter certeza, de que
tudo o que o homem conhece é ainda uma gota de água no oceano de sua ignorância.
Aquilo que é considerado “misterioso”, ainda continua
fora da apreensão e compreensão do homem, devido às suas limitações e
potencialidades que ele reluta em dinamiza-las. E isso ocorre principalmente
porque a atenção do homem está sempre voltada às suas externalidades. Raramente
vemos um ser humano voltado para suas interioridades, ao encontro consigo
mesmo, na busca de quem ele é, de onde veio e para onde vai.
Para adicionar mais dramas e dilemas nesse contexto,
surgiram as igrejas com suas diferenças, com seus paradoxos, confusões e via de
regra, atendendo aos interesses de seus dirigentes, criando assim um verdadeiro
caos nas interpretações das mensagens dos grandes homens espirituais que pela
terra passaram, pois toda vez que mensagens divinas pousa em mãos humanas, são
imediatamente contaminadas por esse elemento humano.
Os mais importantes filósofos, homens da ciência,
pensadores, etc., que se debateram e ainda debatem sobre ao estudo das questões
gerais e fundamentais sobre a existência, conhecimento, valores, razão, mente,
linguagem, em síntese sobre a essência humana, divergem em muitos aspectos,
trazendo mais debates diante desses conceitos.
Com relação à existência, o que se pode deduzir é que
existe um vetor, uma inteligência muito superior ao do homem e que creou as
leis universais, podendo se depreender disso, que existe um legislador, ou
potencias legisladoras por trás de todos os fenômenos que não acontecem por
coincidência. Foram creados, estabelecidos para formar esse amálgama universal,
algo externo ao homem e superior a tudo o que existe, ou seja, a Realidade
Absoluta, que apenas se consegue atingir, não pela razão ou emoção, mas através
da superação dos limites do pensamento.
Para Ramana Maharshi, o Eu real é um centro de energia,
como uma “força” ou “corrente” que atua no corpo, e que não uma é uma
experiência de individualidade, mas uma consciência não pessoal e abrangente e
que não deve ser confundido com o eu individual que disse ser essencialmente
inexistente, sendo uma fabricação da mente, que obscurece a verdadeira
experiência do Eu real, que está sempre presente mas que só se tem a
consciência, quando cessam as tendências autolimitantes da mente.
1. Quem sou eu?
_ Eu não sou o meu corpo material e tampouco os órgãos dos sentidos
cognitivos: da audição, tato, visão, paladar e olfato. Eu não sou os órgãos da
fala, locomoção, apreensão, excreção e procriação. Eu não sou as funções
vitais, assim como eu não sou a mente pensante. Eu também não sou a ignorância,
que só é dotada de impressões superficiais de tudo.
2. Se eu não sou nada disso, quem sou eu então?
_ Depois de negar tudo o que foi mencionado acima, eu sou apenas a
Consciência de mim mesmo.
3. Qual é a natureza dessa Consciência?
_ A natureza dessa Consciência é existência-consciência-beatitude.
4. Quando a autorrealização será alcançada?
_ Quando o mundo que se vê, for eliminado, haverá a realização do Eu,
que é aquele que vê.
5. Não haverá, portanto, uma realização do Eu enquanto o mundo estiver
presente, tomado como real?
_ Não haverá.
6. Por quê?
Aquele que vê e o objeto visto são como a analogia da corda que se
parece com uma serpente. Assim como o conhecimento da corda, que é o substrato,
não será produzido enquanto o falso conhecimento da serpente ilusória não
desaparecer, também não será obtida a realização do Eu, que é o substrato, a
não ser que a crença de que o mundo é real, for removida.
7. Quando o mundo, que é o objeto palpável, será eliminado?
_ Quando a mente, que é a causa de todas as cognições, de todas as ações
e reações, se acalmar, a noção de mundo desaparecerá.
8. Qual é a natureza da mente?
O que é chamado de “mente” é um poder que reside no Eu. Ela faz com que
todos os pensamentos surjam. Além dos pensamentos, não há nada que possa ser
chamado de “mente”. Portanto, o próprio pensamento é a natureza da mente. Além
dos pensamentos, não existe uma entidade independente chamado mundo. No sono
profundo, não há pensamentos e não há mundo. No estado de vigília e ao sonhar,
existem pensamentos e também existe um mundo. Assim como a aranha emite o fio
da teia, puxando-o para fora de si mesma e recolhendo-o novamente, a mente
projeta o mundo fora de si mesma e o dissolve em si mesma. Quando a mente se
afasta do Eu, o mundo aparece. Consequentemente, quando o mundo aparece, o Eu
não aparece; e quando o Eu aparece, o mundo não aparece. Se alguém indaga
persistentemente sobre a natureza da mente, esta desaparecerá deixando o Eu
como um resíduo. Aquilo que chamamos de Eu é a alma, o Ser imortal de todos os
seres, que é parte de Deus. A mente sempre existe apenas na dependência de algo
grosseiro; não pode ficar sozinha. É a mente que se chama corpo sutil ou alma,
a substância viva.
9. Qual é o caminho da investigação para compreender a natureza da
mente?
_ O que surge como “Eu” no corpo é a mente. Se alguém perguntar em qual
parte do corpo o pensamento “Eu” surge primeiro, descobrirá que surge no
coração. Esse é o lugar de origem da mente. Mesmo que alguém pense
constantemente em “Eu”, “Eu”, será levado a esse lugar. De todos os pensamentos
que surgem na mente, o pensamento “Eu” é o primeiro. Somente após o surgimento
disso, os outros pensamentos surgem.
10. Como acalmar a mente?
Por meio da pergunta “Quem sou eu?”, o pensamento “Quem sou eu?”,
destruirá todos os outros pensamentos. Assim como o graveto em fogo usado para iniciar
a queima de uma pira funerária, acaba também queimado no final. É assim que a auto-realização
surgirá.
11. Qual é a maneira de ter sempre em mente o pensamento “Quem sou eu?”
_ Quando surgem outros pensamentos, não se deve alimentá-los, mas se
perguntar: “Para quem eles surgem?” Não importa quantos pensamentos surjam. À
medida que cada pensamento surge, deve-se perguntar: “A quem esse pensamento
surgiu?” A resposta é: “Para mim”. Portanto, se alguém perguntar “Quem sou eu?”,
a mente voltará à sua fonte; e o pensamento que surgiu será silencioso. Com a
repetição contínua desta prática, a mente desenvolverá a habilidade de
permanecer em sua fonte. Quando a mente sutil passa pelo cérebro e pelos órgãos
dos sentidos, aparecem nomes e formas grosseiras; quando permanece no coração,
os nomes e as formas desaparecem. Não deixar a mente divagar, mas mantê-la no
coração é o que é chamado de mente que se move para dentro. Deixar a mente sair
do coração é conhecido como externalização ou tendência da mente para divagar. Portanto,
quando a mente permanecer no coração, o “Eu”, que é a fonte de todos os
pensamentos, irá embora e o Ser, a essência que sempre existe, se manifestará.
O que quer que se faça, deve-se fazer sem o ego. Se alguém agir dessa forma,
tudo parecerá ser da natureza de Deus.
12. Não há outro meio de aquietar a mente?
_ Além da auto investigação, não há outro meio adequado. Se por algum
outro meio se tentar controlar a mente, parecerá controlada, mas voltará
novamente agitada. Além disso, ao controlar a respiração, a mente ficará
quieta; mas só ficará quieta enquanto a respiração permanecer controlada e,
quando a respiração for reiniciada, a mente também começará a divagar,
impulsionada pelos pensamentos nela arquivados. A fonte é a mesma para a mente
e a respiração. O pensamento, de fato, é a natureza da mente. O pensamento “eu”
é o primeiro pensamento da mente, e isso é egoidade. É de onde se origina a
egoidade que também se origina a respiração. Portanto, quando a mente está em
silêncio, a respiração é controlada, e assim, a mente se aquieta.
No sono profundo, onde não existe o desejo, que é o estado livre de
consciência, ou em consciência meditativa, embora a mente fique quieta, a
respiração não para. Isso se deve à vontade divina, para que o corpo seja
preservado vivo. No estado de vigília, quando a mente se acalma, a respiração é
controlada. A respiração é a forma densa da mente. Até o momento da morte, a
mente mantém a respiração no corpo; e quando o corpo morre, a mente leva a
respiração com ela. Portanto, o exercício do controle da respiração é apenas uma
ajuda para aquietar a mente, mas não a vai destruir.
Como a prática do controle da respiração, a meditação nas formas de
Deus, a repetição de mantras, a restrição de alimentos, etc., nada mais são do
que auxiliares para tornar a mente calma.
Meditando nas formas de Deus e repetindo mantras, a mente se concentra
em um único ponto. A mente sempre estará vagando. Assim como quando um elefante
recebe uma corrente para segurar em sua tromba, ele continuará a agarrá-lo e
nada mais, assim também quando a mente está ocupada com algo, ela se prenderá a
esse algo. Quando a mente se expande na forma de inúmeros pensamentos, cada
pensamento se torna fraco, mas na medida que os pensamentos se resolvem, a
mente fica concentrada e forte; para tal mente, a auto indagação será fácil. De
todas as regras restritivas, a que diz respeito à ingestão de alimentos
saudáveis em quantidades moderadas é a melhor; ao
observar esta regra, a qualidade saudável da mente aumentará e isso será útil para a
auto investigação.
13. As impressões arquivadas nos pensamentos aparecem incessantemente
como ondas no oceano. Quando eles serão eliminados?
_ À medida que a meditação sobre o Eu aumenta, os pensamentos e as
ideias são destruídos.
14. É possível que as impressões de pensamentos surgidos nos princípios
dos tempos se dissolvam e que a pessoa permaneça como o Eu puro?
_ Sem ceder à dúvida se “é ou não possível?”, deve-se persistentemente
manter a meditação sobre o Eu. Mesmo sendo um grande pecador, não se deve
preocupar perguntando como se salvar. É preciso abandonar completamente a ideia
de que “eu sou um pecador” para se concentrar intensamente na meditação do Eu,
e então, a salvação se realizará. Não existem duas mentes, uma boa e outra má;
a mente é apenas uma. As que pertencem a dois gêneros, um bom e outro não, são
impressões do pensamento. Quando a mente está sob a influência de impressões
auspiciosas, ela é considerada boa, e quando é influenciada por impressões
desfavoráveis, é considerada má. Não se deve permitir que a mente vagueie entre
os objetos mundanos e na vida dos outros. Por mais ruins que as outras pessoas
possam ser, não se deve nutrir ódio por elas. Tem-se que renunciar ao ódio e ao
desejo. Tudo o que alguém faz aos outros, faz a si mesmo. Se esta verdade fosse
compreendida, nada de mal se faria aos demais. Quando o Eu se manifesta, tudo
se manifesta, e quando ele é silenciado, tudo silencia. Na medida em que nos
conduzimos com humildade, na mesma medida, boa vontade resultará. Se a mente
pode ser silenciada, pode-se viver em qualquer lugar.
15. Durante quanto tempo deve ser praticada a indagação?
_ Enquanto houver impressões de pensamentos na mente, a pergunta “Quem
sou eu?” é necessária. À medida que os pensamentos surgem, eles devem ser
destruídos ali mesmo, no próprio lugar de sua origem, pela auto investigação.
Se alguém recorresse à contemplação incessante do Eu, até conquistá-lo, só isso
bastaria. Enquanto houver inimigos dentro da fortaleza, eles continuarão a
defendê-la; se forem destruídos à medida que surgem, a fortaleza cairá nas mãos
de quem a defende.
16. Qual é a natureza do Eu?
_ O que na verdade existe nada mais é do que o Eu. O mundo, a alma
individual e Deus são suas aparências, como prata em madrepérola; esses três
aparecem ao mesmo tempo e desaparecem ao mesmo tempo. O Eu divino e profundo é
aquele onde não há absolutamente nenhuma ideia de “eu-ego”. Isso é chamado de “Silêncio”.
O Eu é o mundo, o Eu é também o “eu” na sua forma rudimentar egóica, o Eu é
Deus; tudo é o Eu.
17. Não é tudo obra de Deus?
_ Seguindo a orientação dos poderes cósmicos, o sol desponta na
alvorada, emite fogo e irradia luz desabrochando a flor de lótus, a água se
evapora, o homem realiza suas atividades e depois descansa. Assim como na
presença do ímã a agulha se move, em virtude da mera presença de Deus, as almas
regidas pelas determinações cósmicas divinas, como a creação, continuidade das
existências, sustentação ou preservação, e dissolução, nesse jogo rítmico de
dinamismo e equilíbrio, de acordo com seus respectivos destinos baseados no Lei
de Causa e Efeito.
Deus não tem propósito; nenhum destino adere a ele. É como o caso de
ações mundanas que não afetam o sol, ou como os méritos e deméritos dos elementos,
que não afetam o éter onipresente.
18. Dos devotos, quem é o maior?
_ Aquele que se consagra ao Eu que é Deus, é o maior dos devotos.
Consagrar-se a Deus significa permanecer constantemente no Eu, sem permitir que
surja outra ideia que não o pensamento do Eu.
Em linguagem simbólica, quaisquer que sejam os “fardos” que recaiam
sobre Deus, Ele os carrega. Já que o poder supremo de Deus faz todas as coisas
se moverem, por que deveríamos, sem nos submeter a Ele, nos preocupar
constantemente sobre o que fazer e como, e o que não fazer e de que maneira? Se
sabemos que o trem carrega todas as cargas, por que deveríamos carregar nosso
pequeno fardo na cabeça e viajar incômodos, em vez de deixar o trem carregá-lo
e ficar à vontade?
19. O que é desapego?
_ É destruir completamente, sem deixar nenhum resíduo e no mesmo lugar
em que se originam, os pensamentos que surgem. Assim como o pescador de pérolas
amarra uma pedra na cintura e mergulha no mar para as recolher, cada um de nós
deve se armar com o desapego, mergulhar em si mesmo e obter a pérola do Eu.
20. É possível que Deus e o mestre espiritual consigam efetuar a libertação
de uma alma?
_ Eles apenas mostrarão o caminho para a libertação, mas não serão eles
que conduzirão a alma a esse estado. Na verdade, Deus e o mestre não são
diferentes. Assim como a presa que caiu nas garras de um tigre dificilmente
escapa, aqueles que entraram em sintonização com as vibrações do mestre, serão
salvos. Cada um, de acordo com suas determinações e esforço próprio, deve
seguir o caminho mostrado, e assim, alcançar a libertação. Só se pode conhecer
a si mesmo com a visão do próprio conhecimento e não com o de outros. Da mesma
forma, um ser iluminado espiritualmente, não precisa da ajuda de um espelho
para saber quem é!
21. É necessário que alguém que anseia pela libertação investigue a
natureza do que é verdadeiro ou real estado, realidade?
_ Assim como quem quer se livrar do lixo não precisa analisar seu
conteúdo, quem quer conhecer o Eu não precisa avaliar ou indagar sobre as
características do que é verdadeiro, real estado, realidade; o que se tem a
fazer é rejeitar absolutamente tudo o que esconde o Eu. O mundo deve ser
considerado como um sonho.
22. Não há diferença entre o estar acordado e sonho?
_ Acordar é longo e o sonho é curto; além disso, não há diferença. Assim
como os eventos quando estamos acordados parecem reais, o mesmo acontece com os
eventos em um sonho enquanto sonhamos. No sonho, a mente assume outro corpo.
Tanto nos estados de vigília quanto nos sonhos, pensamentos, nomes e formas
ocorrem simultaneamente.
23. Para aqueles que estão ansiosos pela libertação, vale a pena ler
livros?
_ Todos os textos ensinam que a mente tem que estar silenciada para
alcançar a libertação; assim sendo, não há necessidade de ler indefinidamente.
Para aquietar a mente, basta indagar dentro de si o que é o Eu, e isso não se
pode encontrar nos livros. O Eu tem que ser conhecido com a visão da sabedoria
inerente ao homem, e descartando conceitos, portanto, é inútil procurar a
libertação nos livros. Chegará o momento em que se deve esquecer o que se aprendeu.
24. O que é felicidade?
_ A felicidade e o Eu não são diferentes. Não há felicidade em nenhum
objeto material conquistado. Em nossa ignorância, imaginamos que obtemos
felicidade no mundo material. Quando a mente divaga, experimenta o sofrimento.
Se ela encontra o Eu, se satisfaz e se regozija com a felicidade, assim como
nos estados de sono profundo, na consciência meditativa e quando o sentimento
de desprazer é eliminado. Fazendo uma comparação, debaixo da árvore, a sombra é
agradável; em campo aberto o calor é abrasador. Aqueles que caminharam ao sol
se sentem revigorados ao chegar à sombra. Aquele que continua indo da sombra ao
sol e depois de volta à sombra é um tolo. Um homem sábio está permanentemente
na sombra. Da mesma forma, a mente de quem conhece a verdade não se afasta da
Realidade Absoluta. A mente do ignorante, ao contrário, dá a volta ao mundo e
se sente miserável. Na verdade, o que chamamos de mundo nada mais é do que
pensamentos. Quando o mundo desaparece, isto é, quando não há pensamento, a
mente experimenta a felicidade, e quando o mundo aparece, ela volta a sofrer.
25. O que é sabedoria intuitiva?
_ Experienciar a quietude é o que se chama de sabedoria intuitiva.
Permanecer quieto é dissolver a mente no Eu. Telepatia, conhecimento de eventos
passados, presentes e futuros e clarividência não constituem sabedoria
intuitiva.
26. Qual é a relação entre a ausência de desejo e sabedoria?
_ A ausência de desejos é sabedoria. Eles não são duas coisas
diferentes; eles são os mesmos. Não ter desejo é abster-se de conduzir a mente
em direção a qualquer objeto. Sabedoria significa o não aparecimento de
qualquer objeto. Em outras palavras, não buscar o que é diferente do Eu é
desapego ou ausência de desejos; não se afastar do Eu é sabedoria.
27. Qual é a diferença entre indagação e meditação?
_ A indagação consiste em manter a mente no Eu. A
meditação consiste em pensar que se é a Realidade Absoluta,
existência-consciência-beatitude.
28. O que é libertação?
_ Investigar a natureza de si mesmo que está em
cativeiro e realizar que a sua verdadeira natureza (Eu) é libertação.
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