Tuesday, 17 August 2021

QUEM SOU EU?

Ensinamentos de Sri Ramana Maharshi.

INTRODUÇÃO

Sri Ramana Maharshi nasceu no vilarejo de Tiruchuli (48 quilômetros ao sul da cidade de Madurai, Índia) em 30 de dezembro de 1879. Aos 16 anos, ainda estudante de um colégio fundado por missionários norte-americanos em Madurai, teve uma plena e espontânea experiencia reveladora, o que o tornou um dos mais iluminados sábios da Índia.

A partir desse momento, ele renunciou completamente à sua vida normal e viajou para Tiruvannamalai, uma cidade sagrada onde fica a colina de Arunáchala, que segundo os Indús, é uma manifestação direta do Senhor Shiva, um dos deuses supremos do hinduísmo, conhecido também como “o destruidor e regenerador” da energia vital, significando o “benéfico”, aquele que faz o bem.

Após três anos em que viveu dentro do templo principal e outros locais em estado de forte absorção espiritual em que parecia não ter consciência de seu corpo, mudou-se para Arunachala, na caverna de Virupaksha, onde permaneceu por 17 anos. Em 1902, seu devoto Sri M. Sivaprakasam Pillai lhe formulou uma série de perguntas sobre a busca espiritual em geral e sobre a indagação do Eu, onde assim, se deu para publicação, a edição de 28 perguntas que aparecem pela primeira vez na imprensa, em 1923.

Nas instruções desse texto, são apresentados os principais ensinamentos de Sri Ramana Maharshi, chamados de “investigação do Eu”, que levam diretamente à liberação da alma individual e, que segundo o sábio, se deve perguntar insistentemente, “quem” é o vetor dos pensamentos que estão surgindo, até que finalmente o “eu penso” seja destruído e apenas o Eu divino, e não o eu/ego permaneça. Nessa condição de realização, não há “eu”, nem sofrimentos, mas apenas paz, silêncio e felicidade absoluta. E para isso é preciso estar extremamente alerta e não deixar a mente divagar. As várias disciplinas de respiração, meditação, repetição de mantras, sons divinos, nomes sagrados, etc., são apenas práticas auxiliares e ajudam a mente a se tornar unipolarizada. Assim, a mente é fortalecida e a investigação de si mesmo pode ser realizada constantemente, sem repressão ou violência.

Desde que todo ser deseja viver sempre feliz e sem sofrimentos, pois em cada um deles se observa o autoamor, e porque só a felicidade é a causa do amor, e que para se obter essa felicidade que é da íntima natureza de cada ser - fenômeno que se experimenta no sono profundo, onde a mente não está presente – é que se faz necessário o conhecimento de si mesmo. Para isso, o principal meio é o caminho da auto indagação, na forma da pergunta: “Quem sou eu?”

Em todos os níveis do conhecimento humano, ainda precário e fragmentado, principalmente no que se refere à questão espiritual, tão amplamente debatido durante os séculos, de algo pode-se ter certeza, de que tudo o que o homem conhece é ainda uma gota de água no oceano de sua ignorância.

Aquilo que é considerado “misterioso”, ainda continua fora da apreensão e compreensão do homem, devido às suas limitações e potencialidades que ele reluta em dinamiza-las. E isso ocorre principalmente porque a atenção do homem está sempre voltada às suas externalidades. Raramente vemos um ser humano voltado para suas interioridades, ao encontro consigo mesmo, na busca de quem ele é, de onde veio e para onde vai.

Para adicionar mais dramas e dilemas nesse contexto, surgiram as igrejas com suas diferenças, com seus paradoxos, confusões e via de regra, atendendo aos interesses de seus dirigentes, criando assim um verdadeiro caos nas interpretações das mensagens dos grandes homens espirituais que pela terra passaram, pois toda vez que mensagens divinas pousa em mãos humanas, são imediatamente contaminadas por esse elemento humano.

Os mais importantes filósofos, homens da ciência, pensadores, etc., que se debateram e ainda debatem sobre ao estudo das questões gerais e fundamentais sobre a existência, conhecimento, valores, razão, mente, linguagem, em síntese sobre a essência humana, divergem em muitos aspectos, trazendo mais debates diante desses conceitos.

Com relação à existência, o que se pode deduzir é que existe um vetor, uma inteligência muito superior ao do homem e que creou as leis universais, podendo se depreender disso, que existe um legislador, ou potencias legisladoras por trás de todos os fenômenos que não acontecem por coincidência. Foram creados, estabelecidos para formar esse amálgama universal, algo externo ao homem e superior a tudo o que existe, ou seja, a Realidade Absoluta, que apenas se consegue atingir, não pela razão ou emoção, mas através da superação dos limites do pensamento.

Para Ramana Maharshi, o Eu real é um centro de energia, como uma “força” ou “corrente” que atua no corpo, e que não uma é uma experiência de individualidade, mas uma consciência não pessoal e abrangente e que não deve ser confundido com o eu individual que disse ser essencialmente inexistente, sendo uma fabricação da mente, que obscurece a verdadeira experiência do Eu real, que está sempre presente mas que só se tem a consciência, quando cessam as tendências autolimitantes da mente.

1. Quem sou eu?

_ Eu não sou o meu corpo material e tampouco os órgãos dos sentidos cognitivos: da audição, tato, visão, paladar e olfato. Eu não sou os órgãos da fala, locomoção, apreensão, excreção e procriação. Eu não sou as funções vitais, assim como eu não sou a mente pensante. Eu também não sou a ignorância, que só é dotada de impressões superficiais de tudo.

2. Se eu não sou nada disso, quem sou eu então?

_ Depois de negar tudo o que foi mencionado acima, eu sou apenas a Consciência de mim mesmo.

3. Qual é a natureza dessa Consciência?

_ A natureza dessa Consciência é existência-consciência-beatitude.

4. Quando a autorrealização será alcançada?

_ Quando o mundo que se vê, for eliminado, haverá a realização do Eu, que é aquele que vê.

5. Não haverá, portanto, uma realização do Eu enquanto o mundo estiver presente, tomado como real?

_ Não haverá.

6. Por quê?

Aquele que vê e o objeto visto são como a analogia da corda que se parece com uma serpente. Assim como o conhecimento da corda, que é o substrato, não será produzido enquanto o falso conhecimento da serpente ilusória não desaparecer, também não será obtida a realização do Eu, que é o substrato, a não ser que a crença de que o mundo é real, for removida.

7. Quando o mundo, que é o objeto palpável, será eliminado?

_ Quando a mente, que é a causa de todas as cognições, de todas as ações e reações, se acalmar, a noção de mundo desaparecerá.

8. Qual é a natureza da mente?

O que é chamado de “mente” é um poder que reside no Eu. Ela faz com que todos os pensamentos surjam. Além dos pensamentos, não há nada que possa ser chamado de “mente”. Portanto, o próprio pensamento é a natureza da mente. Além dos pensamentos, não existe uma entidade independente chamado mundo. No sono profundo, não há pensamentos e não há mundo. No estado de vigília e ao sonhar, existem pensamentos e também existe um mundo. Assim como a aranha emite o fio da teia, puxando-o para fora de si mesma e recolhendo-o novamente, a mente projeta o mundo fora de si mesma e o dissolve em si mesma. Quando a mente se afasta do Eu, o mundo aparece. Consequentemente, quando o mundo aparece, o Eu não aparece; e quando o Eu aparece, o mundo não aparece. Se alguém indaga persistentemente sobre a natureza da mente, esta desaparecerá deixando o Eu como um resíduo. Aquilo que chamamos de Eu é a alma, o Ser imortal de todos os seres, que é parte de Deus. A mente sempre existe apenas na dependência de algo grosseiro; não pode ficar sozinha. É a mente que se chama corpo sutil ou alma, a substância viva.

9. Qual é o caminho da investigação para compreender a natureza da mente?

_ O que surge como “Eu” no corpo é a mente. Se alguém perguntar em qual parte do corpo o pensamento “Eu” surge primeiro, descobrirá que surge no coração. Esse é o lugar de origem da mente. Mesmo que alguém pense constantemente em “Eu”, “Eu”, será levado a esse lugar. De todos os pensamentos que surgem na mente, o pensamento “Eu” é o primeiro. Somente após o surgimento disso, os outros pensamentos surgem.

10. Como acalmar a mente?

Por meio da pergunta “Quem sou eu?”, o pensamento “Quem sou eu?”, destruirá todos os outros pensamentos. Assim como o graveto em fogo usado para iniciar a queima de uma pira funerária, acaba também queimado no final. É assim que a auto-realização surgirá.

11. Qual é a maneira de ter sempre em mente o pensamento “Quem sou eu?”

_ Quando surgem outros pensamentos, não se deve alimentá-los, mas se perguntar: “Para quem eles surgem?” Não importa quantos pensamentos surjam. À medida que cada pensamento surge, deve-se perguntar: “A quem esse pensamento surgiu?” A resposta é: “Para mim”. Portanto, se alguém perguntar “Quem sou eu?”, a mente voltará à sua fonte; e o pensamento que surgiu será silencioso. Com a repetição contínua desta prática, a mente desenvolverá a habilidade de permanecer em sua fonte. Quando a mente sutil passa pelo cérebro e pelos órgãos dos sentidos, aparecem nomes e formas grosseiras; quando permanece no coração, os nomes e as formas desaparecem. Não deixar a mente divagar, mas mantê-la no coração é o que é chamado de mente que se move para dentro. Deixar a mente sair do coração é conhecido como externalização ou tendência da mente para divagar. Portanto, quando a mente permanecer no coração, o “Eu”, que é a fonte de todos os pensamentos, irá embora e o Ser, a essência que sempre existe, se manifestará. O que quer que se faça, deve-se fazer sem o ego. Se alguém agir dessa forma, tudo parecerá ser da natureza de Deus.

12. Não há outro meio de aquietar a mente?

_ Além da auto investigação, não há outro meio adequado. Se por algum outro meio se tentar controlar a mente, parecerá controlada, mas voltará novamente agitada. Além disso, ao controlar a respiração, a mente ficará quieta; mas só ficará quieta enquanto a respiração permanecer controlada e, quando a respiração for reiniciada, a mente também começará a divagar, impulsionada pelos pensamentos nela arquivados. A fonte é a mesma para a mente e a respiração. O pensamento, de fato, é a natureza da mente. O pensamento “eu” é o primeiro pensamento da mente, e isso é egoidade. É de onde se origina a egoidade que também se origina a respiração. Portanto, quando a mente está em silêncio, a respiração é controlada, e assim, a mente se aquieta.

No sono profundo, onde não existe o desejo, que é o estado livre de consciência, ou em consciência meditativa, embora a mente fique quieta, a respiração não para. Isso se deve à vontade divina, para que o corpo seja preservado vivo. No estado de vigília, quando a mente se acalma, a respiração é controlada. A respiração é a forma densa da mente. Até o momento da morte, a mente mantém a respiração no corpo; e quando o corpo morre, a mente leva a respiração com ela. Portanto, o exercício do controle da respiração é apenas uma ajuda para aquietar a mente, mas não a vai destruir.

Como a prática do controle da respiração, a meditação nas formas de Deus, a repetição de mantras, a restrição de alimentos, etc., nada mais são do que auxiliares para tornar a mente calma.

Meditando nas formas de Deus e repetindo mantras, a mente se concentra em um único ponto. A mente sempre estará vagando. Assim como quando um elefante recebe uma corrente para segurar em sua tromba, ele continuará a agarrá-lo e nada mais, assim também quando a mente está ocupada com algo, ela se prenderá a esse algo. Quando a mente se expande na forma de inúmeros pensamentos, cada pensamento se torna fraco, mas na medida que os pensamentos se resolvem, a mente fica concentrada e forte; para tal mente, a auto indagação será fácil. De todas as regras restritivas, a que diz respeito à ingestão de alimentos saudáveis ​​em quantidades moderadas é a melhor; ao observar esta regra, a qualidade saudável da mente aumentará e isso será útil para a auto investigação.

13. As impressões arquivadas nos pensamentos aparecem incessantemente como ondas no oceano. Quando eles serão eliminados?

_ À medida que a meditação sobre o Eu aumenta, os pensamentos e as ideias são destruídos.

14. É possível que as impressões de pensamentos surgidos nos princípios dos tempos se dissolvam e que a pessoa permaneça como o Eu puro?

_ Sem ceder à dúvida se “é ou não possível?”, deve-se persistentemente manter a meditação sobre o Eu. Mesmo sendo um grande pecador, não se deve preocupar perguntando como se salvar. É preciso abandonar completamente a ideia de que “eu sou um pecador” para se concentrar intensamente na meditação do Eu, e então, a salvação se realizará. Não existem duas mentes, uma boa e outra má; a mente é apenas uma. As que pertencem a dois gêneros, um bom e outro não, são impressões do pensamento. Quando a mente está sob a influência de impressões auspiciosas, ela é considerada boa, e quando é influenciada por impressões desfavoráveis, é considerada má. Não se deve permitir que a mente vagueie entre os objetos mundanos e na vida dos outros. Por mais ruins que as outras pessoas possam ser, não se deve nutrir ódio por elas. Tem-se que renunciar ao ódio e ao desejo. Tudo o que alguém faz aos outros, faz a si mesmo. Se esta verdade fosse compreendida, nada de mal se faria aos demais. Quando o Eu se manifesta, tudo se manifesta, e quando ele é silenciado, tudo silencia. Na medida em que nos conduzimos com humildade, na mesma medida, boa vontade resultará. Se a mente pode ser silenciada, pode-se viver em qualquer lugar.

15. Durante quanto tempo deve ser praticada a indagação?

_ Enquanto houver impressões de pensamentos na mente, a pergunta “Quem sou eu?” é necessária. À medida que os pensamentos surgem, eles devem ser destruídos ali mesmo, no próprio lugar de sua origem, pela auto investigação. Se alguém recorresse à contemplação incessante do Eu, até conquistá-lo, só isso bastaria. Enquanto houver inimigos dentro da fortaleza, eles continuarão a defendê-la; se forem destruídos à medida que surgem, a fortaleza cairá nas mãos de quem a defende.

16. Qual é a natureza do Eu?

_ O que na verdade existe nada mais é do que o Eu. O mundo, a alma individual e Deus são suas aparências, como prata em madrepérola; esses três aparecem ao mesmo tempo e desaparecem ao mesmo tempo. O Eu divino e profundo é aquele onde não há absolutamente nenhuma ideia de “eu-ego”. Isso é chamado de “Silêncio”. O Eu é o mundo, o Eu é também o “eu” na sua forma rudimentar egóica, o Eu é Deus; tudo é o Eu.

17. Não é tudo obra de Deus?   

_ Seguindo a orientação dos poderes cósmicos, o sol desponta na alvorada, emite fogo e irradia luz desabrochando a flor de lótus, a água se evapora, o homem realiza suas atividades e depois descansa. Assim como na presença do ímã a agulha se move, em virtude da mera presença de Deus, as almas regidas pelas determinações cósmicas divinas, como a creação, continuidade das existências, sustentação ou preservação, e dissolução, nesse jogo rítmico de dinamismo e equilíbrio, de acordo com seus respectivos destinos baseados no Lei de Causa e Efeito.

Deus não tem propósito; nenhum destino adere a ele. É como o caso de ações mundanas que não afetam o sol, ou como os méritos e deméritos dos elementos, que não afetam o éter onipresente.

18. Dos devotos, quem é o maior?

_ Aquele que se consagra ao Eu que é Deus, é o maior dos devotos. Consagrar-se a Deus significa permanecer constantemente no Eu, sem permitir que surja outra ideia que não o pensamento do Eu.

Em linguagem simbólica, quaisquer que sejam os “fardos” que recaiam sobre Deus, Ele os carrega. Já que o poder supremo de Deus faz todas as coisas se moverem, por que deveríamos, sem nos submeter a Ele, nos preocupar constantemente sobre o que fazer e como, e o que não fazer e de que maneira? Se sabemos que o trem carrega todas as cargas, por que deveríamos carregar nosso pequeno fardo na cabeça e viajar incômodos, em vez de deixar o trem carregá-lo e ficar à vontade?

19. O que é desapego?

_ É destruir completamente, sem deixar nenhum resíduo e no mesmo lugar em que se originam, os pensamentos que surgem. Assim como o pescador de pérolas amarra uma pedra na cintura e mergulha no mar para as recolher, cada um de nós deve se armar com o desapego, mergulhar em si mesmo e obter a pérola do Eu.

20. É possível que Deus e o mestre espiritual consigam efetuar a libertação de uma alma?

_ Eles apenas mostrarão o caminho para a libertação, mas não serão eles que conduzirão a alma a esse estado. Na verdade, Deus e o mestre não são diferentes. Assim como a presa que caiu nas garras de um tigre dificilmente escapa, aqueles que entraram em sintonização com as vibrações do mestre, serão salvos. Cada um, de acordo com suas determinações e esforço próprio, deve seguir o caminho mostrado, e assim, alcançar a libertação. Só se pode conhecer a si mesmo com a visão do próprio conhecimento e não com o de outros. Da mesma forma, um ser iluminado espiritualmente, não precisa da ajuda de um espelho para saber quem é!

21. É necessário que alguém que anseia pela libertação investigue a natureza do que é verdadeiro ou real estado, realidade?

_ Assim como quem quer se livrar do lixo não precisa analisar seu conteúdo, quem quer conhecer o Eu não precisa avaliar ou indagar sobre as características do que é verdadeiro, real estado, realidade; o que se tem a fazer é rejeitar absolutamente tudo o que esconde o Eu. O mundo deve ser considerado como um sonho.

22. Não há diferença entre o estar acordado e sonho?

_ Acordar é longo e o sonho é curto; além disso, não há diferença. Assim como os eventos quando estamos acordados parecem reais, o mesmo acontece com os eventos em um sonho enquanto sonhamos. No sonho, a mente assume outro corpo. Tanto nos estados de vigília quanto nos sonhos, pensamentos, nomes e formas ocorrem simultaneamente.

23. Para aqueles que estão ansiosos pela libertação, vale a pena ler livros?

_ Todos os textos ensinam que a mente tem que estar silenciada para alcançar a libertação; assim sendo, não há necessidade de ler indefinidamente. Para aquietar a mente, basta indagar dentro de si o que é o Eu, e isso não se pode encontrar nos livros. O Eu tem que ser conhecido com a visão da sabedoria inerente ao homem, e descartando conceitos, portanto, é inútil procurar a libertação nos livros. Chegará o momento em que se deve esquecer o que se aprendeu.

24. O que é felicidade?

_ A felicidade e o Eu não são diferentes. Não há felicidade em nenhum objeto material conquistado. Em nossa ignorância, imaginamos que obtemos felicidade no mundo material. Quando a mente divaga, experimenta o sofrimento. Se ela encontra o Eu, se satisfaz e se regozija com a felicidade, assim como nos estados de sono profundo, na consciência meditativa e quando o sentimento de desprazer é eliminado. Fazendo uma comparação, debaixo da árvore, a sombra é agradável; em campo aberto o calor é abrasador. Aqueles que caminharam ao sol se sentem revigorados ao chegar à sombra. Aquele que continua indo da sombra ao sol e depois de volta à sombra é um tolo. Um homem sábio está permanentemente na sombra. Da mesma forma, a mente de quem conhece a verdade não se afasta da Realidade Absoluta. A mente do ignorante, ao contrário, dá a volta ao mundo e se sente miserável. Na verdade, o que chamamos de mundo nada mais é do que pensamentos. Quando o mundo desaparece, isto é, quando não há pensamento, a mente experimenta a felicidade, e quando o mundo aparece, ela volta a sofrer.

25. O que é sabedoria intuitiva?

_ Experienciar a quietude é o que se chama de sabedoria intuitiva. Permanecer quieto é dissolver a mente no Eu. Telepatia, conhecimento de eventos passados, presentes e futuros e clarividência não constituem sabedoria intuitiva.

26. Qual é a relação entre a ausência de desejo e sabedoria?

_ A ausência de desejos é sabedoria. Eles não são duas coisas diferentes; eles são os mesmos. Não ter desejo é abster-se de conduzir a mente em direção a qualquer objeto. Sabedoria significa o não aparecimento de qualquer objeto. Em outras palavras, não buscar o que é diferente do Eu é desapego ou ausência de desejos; não se afastar do Eu é sabedoria.

27. Qual é a diferença entre indagação e meditação?

_ A indagação consiste em manter a mente no Eu. A meditação consiste em pensar que se é a Realidade Absoluta, existência-consciência-beatitude.

28. O que é libertação?

_ Investigar a natureza de si mesmo que está em cativeiro e realizar que a sua verdadeira natureza (Eu) é libertação.

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