Em um de seus livros, Huberto Rohden (1893-1981), pioneiro do espiritualismo universalista, filósofo, teólogo e educador brasileiro, escreveu que: “Anos atrás, quando grande parte do clero se revoltou contra mim e meus livros, porque proclamavam Cristo-redenção em vez de clero-redenção, alguém me disse que esperava de mim que me tornasse um novo Martinho Lutero.
É incrível a cegueira de certos sectários! ... Como se o mundo tivesse necessidade de um novo reformador teológico! ...
A raça humana não necessita de um novo Lutero, nem de um novo Tomás de Aquino, nem de um novo Inácio de Loyola – necessita de homens como Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, Albert Schweitzer, Ramana Maharshi, Yogananda e outros que tenham tido contato pessoal com Deus.
O homem espiritualmente evolvido já se convenceu de que a redenção não é provocada por circunstâncias externas – assim como o pecado também não lhe veio de fora, embora as nossas teologias medievais, em plena Era Atômica, ainda repitam essa velha ilusão de que o homem tenha sido feito pecador por causa de alguém, e deva ser remido por esse alguém.
Nós, porém, sabemos que de dentro do homem vem o pecado – e de dentro do homem vem a sua redenção.
Esse “de dentro”, naturalmente, tem dois sentidos. A inteligência luciférica é algo dentro do homem, é o seu ego tirânico, mas não é o seu verdadeiro centro, a sua íntima natureza. O verdadeiro centro do homem é o seu Cristo interno, o “espírito de Deus que habita no homem”, como diz Paulo de Tarso; “o reino de Deus no homem”, segundo as palavras de Jesus, e de acordo com Tertuliano (c.160-c.220? DC), prolífico autor e apologista das primeiras fases do Cristianismo, escrevendo que a “alma humana é crística pela sua própria natureza”.
O homem não pode ser remido por forças externas, nem ego-remido, mas sim auto remido, porque esta autorredenção é Cristo-redenção, Teo-redenção.
Ou seja, pela obediência ao ego intelectual, o homem se torna pecador, semelhantemente, pela obediência ao Eu espiritual, o homem se torna remido.
O Sermão da Montanha é a Carta-Magna da autorredenção do homem, através do seu Cristo interno.
Papa, Bíblia, Reencarnação – a massa dos seres humanos, é verdade, ainda espera redenção desses fatores externos, sujeito a algo que não faz parte das leis normais ou conhecidas; mas o ser humano evolvido espiritualmente, só espera redenção pelo despertar do espírito de Deus nele próprio, que é a redenção autônoma.
Quem vê “orgulho e presunção” nessa autorredenção mostra que nada compreendeu da verdade e que continua a identificar o ego humano e pecador do homem com o seu Eu divino e redentor. Orgulho e presunção só existem no ego – mas não no Eu crístico do homem, uma vez que esse Eu é o espírito de Deus que habita nele.”
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Abaixo, o primeiro e o último parágrafo de uma palestra proferida por Albert Schweitzer (1875-1965), em outubro de 1934 no Manchester College em Oxford na Inglaterra, sobre o assunto: “Religião na Civilização Moderna”, onde esse brilhante teólogo humanista, visualizava no futuro, a comunhão verdadeira entre Deus e o homem, como prelúdio da autorrealização.
“Discutindo religião na vida espiritual e da civilização do nosso tempo, a primeira questão a ser enfrentada é: é a religião uma força na vida espiritual em nossa época? E eu respondo em seu nome, e no meu, que não! ... Há, no entanto, um desejo de religião entre muitos que já não pertencem às igrejas. Alegro-me a admitir isso. E ainda temos de nos apegarmos ao fato de que a religião (no caso as Igrejas) não é uma força. E a prova disso, é a guerra!
Nós estamos a vagar na escuridão agora, mas juntos temos a convicção de que estamos avançando para a luz; em que a hora chegará quando a religião e pensamento ético se unirão. Nisso eu acredito, e eu espero e trabalho para isso, mantendo a crença de que se fizermos ideais éticos ativos em nossas vidas, então virá o tempo em que os povos vão fazer o mesmo. Vamos olhar para a luz e nos consolar refletindo sobre o que o pensamento (avanço intelectual) está preparando para nós.”
Texto revisado e acrescentado, extraído do livro Ídolos ou Ideal?
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