Wednesday 2 December 2020

A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

Tertuliano, um autor dos primeiros séculos do cristianismo afirmou que o espírito humano é crístico por sua própria natureza, que apresenta em si, a centelha divina que deu origem às experiências místicas no homem que tiveram início num passado distante e que de acordo com a evolução espiritual do homem, pode se perpetuar ou não ... para a vida eterna ou à morte eterna.

Em todos os agrupamentos humanos de épocas remotas, em todos os continentes, surgiram crenças diversas de um deus revelado na forma de ídolos, de animais, de seres imaginários do sobrenatural, nas mensagens dos antigos vidente e profetas, que acabaram se revelando em páginas e páginas de livros, surgindo assim as sagradas escrituras em todas as crenças, e todas elas se baseando nessa experiência mística no imaginário do inconsciente humano, materializados nos livros sacros da humanidade.

Apesar da experiência em massa que todos os povos enfrentaram, ela não passa de uma experiência individual única, insubstituível, e que terminou sendo social dando ao aparecimento das igrejas.

Segundo Huberto Rohden, e os mestres espirituais, a experiência mística é estritamente individual, e que quando organizada socialmente, deixa de existir. A íntima essência é individual, o que todavia não impede que essa verticalidade individual se desdobre em horizontalidade social nas congregações religiosas; mas esse desdobramento ou transbordamento só acontece quando a experiência vertical atinge o zênite da sua plenitude.

As crenças religiosas surgiram em todo o mundo, em cada grupo humano; no oriente, os mais conhecidos e os mais seguidos, alguns mais ou menos ligados ao Creador, que vai do dualismo, monoteísmo e monismo e venerados de diferentes maneiras, incluindo divisões; no oeste, depois de muitos deuses e ídolos, finalmente se cristaliza no cristianismo, que também foi dividido ao longo dos séculos.

Paul Brunton - um autor britânico de livros espiritualistas, mais conhecido como um dos primeiros popularizadores do espiritualismo neo-indiano no esoterismo ocidental, principalmente por meio de seu mais conhecido livro, A Índia Secreta (1934), que foi traduzido para mais de 20 idiomas - depois de ter passado por suas próprias experiências, e de não ser seguidor de nenhuma religiosidade, despertando em si a divindade interior, formulou o conceito abaixo:

 

“Religião, que em tempos antigos instruiu os homens na verdade e lhes dava amparo espiritual, se empobreceu diante do desenvolvimento do intelecto nos períodos subsequentes e não conseguiu se sustentar diante de críticas convincentes. Se o conjunto das doutrinas religiosas de nossos dias fossem cem por cento verdadeiras, os líderes religiosos nada teriam a temer do progresso da ciência.

Eu não sou membro de nenhuma fé religiosa, no sentido convencional, não sou cristão, judeu, muçulmano, Indú. E confesso francamente que nasci sem me inclinar a nenhuma religiosidade em particular, mesmo porque, a divisão nas teologias pouco interesse me despertou. Mas eu sou um crente da maioria das grandes religiões de acordo com a interpretação que cada um de seus fundadores deram a elas.

Sou cristão na medida em que concordo com São Paulo em dizer: “E, se eu tivesse o dom de profecia, e conhecido todos os mistérios e toda a ciência, e não tivesse amor, nada sou.”

Sou budista na medida em que reconheço, com Gautama, que só quando um homem abandona todos os seus desejos é que ele é realmente livre.

Sou judeu, na medida em que eu acredito profundamente no ditado:- “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é um só.”

Sou um Indu a ponto de acreditar e praticar a ciência real da Yoga, a ciência da união com o Eu espiritual.

Sou um muçulmano na medida em que eu confio em Deus acima de tudo.

E finalmente, sou um seguidor de Lao-Tsé, na medida em que eu aceito o seu discernimento sobre o estranho paradoxo da vida.

Mas eu não vou mais adiante nessas crenças além das afirmações acima: para mim elas são os limites de fronteira, e de onde retorno.

Não vou seguir os cristãos numa exaltação somente a Jesus - a quem amo mais profundamente do que os outros profetas - sobre os demais mensageiros de Deus que também existem.

Não vou seguir o budista na negação da beleza e do prazer que a existência reserva para mim.

Não vou seguir os judeus com a mente estreita e algemada a observâncias superficiais.

Não vou seguir os Indus com as palmas das mãos juntas em direção ao céu num fatalismo que nega a força divina inata no homem.

Não vou seguir os maometanos presos a um único livro, não importando o quão sagrado esse livro seja.

E finalmente, eu não vou seguir os chineses taoistas num sistema de fantoches supersticiosos que zombam do grande homem que supostamente deveriam honrar.

Eu não acredito que Deus tenha dado o monopólio da Verdade para nenhum de nós; o sol nasce para todos. Nenhum país ou raça pode reivindicar o monopólio da Verdade, pois a inspiração divina pode ocorrer no homem em qualquer lugar.

Nenhum credo tem o poder do direito autoral sobre a Verdade. Por isso é que eu tenho uma visão desapegada e imparcial de todos as religiões, compreendendo assim, porque elas atingiram a grandeza, e porque elas estão, em alguns casos, em seu declínio ou queda.”

Texto em parte extraído do livro de Paul Brunton, A Message from Arunachala

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