Thursday 10 December 2020

EM SOLITUDE GLACIAL

Procura a tua felicidade em fazer felizes os outros.

Pensa sempre em dar – e nunca em receber.

Te entrega aos homens aos quais possas ser pai, filho, irmão, amigo, servo, samaritano, redentor.

Sê como o sol ardente no Universo, irradiando perenemente luz e calor, ainda que nada receba em retribuição.

Lá se vão, dia a dia, esses raios de claridade solar, perdendo-se na vastidão do Cosmos circunjacente, penetrando no imenso frio do vácuo ...

Esse grande astro se consome há bilhões de anos na vasta solitude do deserto cósmico, sem jamais perceber o menor efeito da sua constante irradiação.

A verdade é que, à distância de 150 milhões de quilômetros do seu foco, existe um pequenino planeta em cuja superfície os raios solares produzem epopéias de vida e beleza e desenham no espaço fantásticas pontes de sete cores – mas o sol nada disso sabe, nada disso vê, nada disso sente nem adivinha ...

A sua solidão é absoluta ...

Assim, meu desconhecido amigo, há de fatalmente acontecer a ti, a mim, a todos nós que queremos fazer o bem por causa do bem ...

“Há mais felicidade em dar que em receber” ...

Deus, o grande sol do universo espiritual, dá tudo e não recebe nada.

E quanto mais o homem se aproxima de Deus, mais participa desta feliz infelicidade, de sempre dar sem nunca receber.

Só pode dar sempre sem abrir falência o homem que dentro do próprio Eu possui inesgotável fonte de riqueza.

Não te iludas, meu amigo! Serás como uma voz a clamar no deserto ...

Uma voz que, talvez, não desperte nenhum eco de amizade e compreensão, no silencioso deserto das almas ...

Talvez não surja no horizonte nenhum oásis de benevolência e amor, por mais que os teus olhos sedentos interroguem a interminável monotonia da vastidão de areia ...

Entretanto, continua a dar aos homens o que tens e o que és – porque é divinamente belo dar sem esperança de receber.

Ó homem! Peregrino solitário de incompreendido amor, esgotado em pleno deserto de indiferença e ingratidão, continua sua senda ...

Ainda que nada percebas dos efeitos da tua irradiação, em algum lugar, é certo, brotam flores, cantam passarinhos, brilham olhos, sorriem lábios infantis, rejubilam corações humanos – porque tu, herói anônimo, existes:

Vives ... Oras ... Amas ... Sofres ...

Texto revisado, extraído do livro De Alma para Alma

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