O texto abaixo é um trecho de uma entrevista de Huberto Rohden para o canal de televisão Bandeirantes de São Paulo, Brasil, em março de 1979.
“O processo de evolução espiritual da humanidade é muito lento. Alguns dão um passo para a frente em mil anos. Se alguém se realiza plenamente, é um redentor da humanidade. Jesus (e outros raros seres humanos), estava a ponto de chegar a essa perfeição. Quem entre nós, poderia desafiar publicamente amigos e inimigos, perguntando, como ele o fez: “Quem de vós é capaz de me acusar de um só pecado? Se estou dizendo a verdade, por que vocês não acreditam em mim?” Para se fazer um desafio como este é preciso estar em absoluta sintonia com as leis cósmicas. Isso, para mim, é plenitude, bondade. Bondade é estar em sintonia com as leis do Infinito. As religiões chamam as leis cósmicas de Deus, eu chamo de Leis Cósmicas. Esta é a diretriz que o homem integral deve ter em mente: a auto-realização de uma pessoa favorece outras. Ninguém pode converter ninguém com palavras. Podemos converter alguém pelo que somos, nunca pelo que dizemos.
A maior crise do homem moderno continua sendo existencial, uma caótica frustração existencial. No passado o homem tinha perdido seu caminho, agora ele perdeu também o próprio endereço. Não sabe mais qual o seu destino nem a finalidade da sua existência. Inclusive chega ao absurdo de até negar a existência de uma finalidade! O homem está perdendo a noção da sua existencialidade. Escritores e filósofos proclamam abertamente que a vida humana não tem finalidade alguma e que o homem é um mero joguete no acaso de nascer, viver e morrer. Esta é a típica visão anti-cósmica da existência. É o resultado da instrução do ego periférico, sem a educação do homem integral. Não adianta correr cada vez mais em busca de algo onde a realização é efêmera. O que falta ao homem moderno é uma orientação, no meio dessa desorientação geral.
Por exemplo: é preciso saber se todo esse progresso científico tem uma razão de ser. O progresso da ciência, para Einstein, é algo maravilhoso. Mas a ciência não pode dar ao homem nenhuma finalidade certa da sua existência terrestre. Esta é a razão da crise existencial que está levando a humanidade à agonia. Os profetas e clarividentes de todos os tempos estão prevendo uma catástrofe universal para o fim do segundo milênio (começo do terceiro), e essa tragédia não é outra coisa senão o resultado da caótica frustração que o homem vive. O homem da frustração existencial é sempre infeliz, mesmo no gozo do sucesso social. O homem da realização existencial é sempre feliz, mesmo sem o gozo do sucesso social.”
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Meados de fevereiro, 2014... brisas frescas anunciando o fim do verão numa belíssima tarde nessa parte do mundo, Albany, oeste da Austrália, acomodado em meu assento do ponto de ônibus esperando ser levado para meu chalé no meio do mato.
Estava profundamente envolvido em meus pensamentos sobre o significado dessa palestra, quando senta a meu lado um estranho, nos seus quarenta anos de idade. Parecia alegre, e logo começou a falar me cumprimentando, perguntando para onde eu ia, etc. Respondi agradecendo, e entre outros assuntos, complementando com uns comentários sobre a tarde formidável desse dia. Com seu olhar inquisitivo, me perguntou a que nacionalidade eu pertencia, pois notou meu sotaque diferente. Respondi que nasci no Brasil, filho de imigrantes húngaros.
Olhou-me novamente e disse: “Lindas mulheres por lá - o que concordei – Ahhh! Ele murmurou: como eu gostaria de visitar o Brasil e conhecer algumas intimamente, festas, e outros prazeres!”
Não me foi difícil traçar seu perfil de caráter, pois seu comentário não me causou surpresa ... mas o seu ônibus chegou, nos despedimos e ele desapareceu por detrás dos vidros escurecidos.
Voltando aos meus pensamentos, tentava decifrar o quão difícil ainda é para a maioria dos seres humanos, ir além de seus pensamentos profanos, instintos, sentidos... das algemas que ainda os prendem, e de avançar na peregrinação da ignorância à sabedoria. Porque relutam em sair das planícies estéreis da mediocridade, por onde ainda se arrastam? Como ainda é difícil subir o Himalaia interior! Poderíamos ter continuado em algum outro assunto, mas... Como falar do oceano para alguém que conhece apenas um pequeno lago?
De qualquer maneira, ainda assim é extraordinário, entre nós humanos, esse caleidoscópio de cores, formas e valores. O mundo é mesmo um lugar incrível, e um de nossos maiores desafios é tentar viver em harmonia com essas diversidades.
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