No catecismo, ou nas instruções sobre o que é relativo à igreja católica, por exemplo, se aprende que há uma só religião verdadeira, e que esta é, normalmente, a do autor do catecismo, como não podia deixar de ser.
Se esse catecismo fosse escrito por um adepto de outra religião, é claro que esta seria a religião verdadeira e única, e Deus seria invocado como o chefe supremo desse partido religioso.
Se investigarmos todos os credos religiosos da humanidade – centenas e milhares – descobriríamos que existem tantas religiões verdadeiras e únicas quantas as igrejas, seitas ou grupos religiosos. É preciso muita ingenuidade e miopia espiritual para admitir que o Deus do Cosmos tenha resolvido colocar precisamente à minha religião, o selo de aprovação da sua autenticidade e unicidade, excluindo desta aprovação as religiões de todos os outros homens do mundo que não estiverem sintonizados com a minha teologia. As outras religiões são todas “falsas” – por que? Ora, é evidente, por não serem minha religião.
De todas as formas de egoísmo existentes – individual, nacional, religioso – o egoísmo religioso é, sem dúvida, o mais funesto de todos, porque é um egoísmo professado em nome da santidade, mantido e praticado “por motivos de consciência,” e em nome desse egoísmo têm sido cometidos os mais pavorosos crimes, em todos os tempos e países do mundo.
Desde que uma ideia religiosa seja organizada, essa ideia entra na zona do egocentrismo exclusivista, porque nenhuma organização pode existir sem determinados estatutos que definam quais os indivíduos que pertençam aos “de dentro do grupo” e quais aos “de fora do grupo”. Os “de dentro” são então considerados como ortodoxos, os “de fora” são heterodoxos; aqueles são proclamados amigos de Deus, estes são guerreados como inimigos de Deus – tamanha é a nossa cegueira e tão intolerante é o nosso egoísmo!
Em face desta triste situação, Karl Marx (1818-1883), lançou a curta e segundo ele, convincente frase: “a religião é o ópio para o povo!”, entendendo por “religião” essas criações humanas e ignorando a realidade divina da Religião, que faz parte da própria natureza humana. A “alma humana é crística por sua própria natureza”, conforme afirmou Tertuliano (160-220) ainda no segundo século.
Os agrupamentos religiosos organizados só podem existir e prosperar enquanto continuarem a professar esse espírito unilateral; e se renunciarem, deixarão de existir como igrejas ou seitas, como formas de religião A, B ou C, embora possam continuar a existir como Religião Universal, como Espiritualidade Cósmica, como Experiência Divina, sem nome nem forma, nem barreira nem bandeira. Ocorre que essa existência Universal, Cósmica, Divina, não agrada o egoísmo humano que tem a necessidade instintiva de propriedade individual e pode dizer “isto aqui é meu,” “eu sou desta igreja”. Infelizmente, o homem espiritualmente imaturo necessita de uma crença circunscrita, cujos limites sejam nitidamente visíveis como as linhas de uma figura geométrica. O homem espiritualmente maduro também tem o seu credo, mas é como o princípio vital de uma planta, sempre idêntico, sempre fiel a si mesmo, mas não como as linhas da figura geométrica. Para o sectário, a crença é letra morta - para o homem espiritual, a crença é espírito vivo!
--- Qual é, pois, a verdadeira religião?
--- É aquela que ajuda o homem a encontrar a Deus, sobretudo o reino de Deus dentro de si mesmo. Possivelmente, a forma externa da religião passará por diversos estágios, como o próprio homem, de criança, adolescente e maduro. E devemos considerar como bons, todos os nossos estágios da vida, porque, tratando-se de um ser em perene evolução, a vida verdadeira não é apenas um determinado estágio.
Nenhuma e todas as religiões são caminhos que procuram levar o homem à religiosidade, pois é o sentimento que nos direciona a reconhecer a divindade independentemente de um culto determinado. E a religiosidade é verdadeira, porque conduz o homem à verdade libertadora, que é felicidade. É a experiência mística da paternidade única de Deus, que transborda na vivência da fraternidade universal do homem.
Esta experiência é possível em qualquer religião e também sem religião alguma, mas transcende todas as religiões, porque, como disse Jesus: “O reino de Deus não vem com observâncias (na execução exata de certas regras, rituais, dogmas, tradições, normas, missas, cultos, etc.) nem se pode dizer: está aqui, ou está acolá! – pois o reino de Deus está dentro de vós”.
No entanto, não basta seguir uma religião, é necessário ser religioso.
Isto é religiosidade, que é a única religião verdadeira.
Einstein escreveu: “Eu não tenho religião alguma, mas sou um homem profundamente religioso, porque vejo um Poder Supremo em todas as coisas da Natureza”.
Essa religiosidade é que é a verdadeira e maior religião.
--- É uma religião revelada?
--- Sim, uma religião revelada de dentro do homem, de dentro do reino de Deus, que está no homem, como tesouro oculto, como luz sob o velador, como pérola no fundo do mar...
Texto revisado extraído do livro Orientando para a Auto-realização
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