Wednesday 13 January 2021

BLAISE PASCAL E O CLERO

Blaise Pascal (1623-1662), matemático, físico, inventor, escritor e filósofo católico francês do século 17, expos criticamente em suas "Cartas Provinciais", com inigualável precisão e objetividade os processos clericais, que ele chama de política dos jesuítas, mas que é a quintessência da política romana de todos os tempos. Em síntese, foram 18 cartas cuja maioria criticava a postura permissiva dos jesuítas – e não só a eles - no campo das liberdades individuais pouco rigorosas e que tolerava especialmente o que a maioria das vezes é condenado pela moral, sacrificando a pureza da ética cristã. Essas cartas deram ensejo ao anticlericalismo dos séculos XVIII e XIX. Roma, condenou as "Cartas Provinciais" de Pascal, ao que Pascal escreveu: "Roma condenou as minhas cartas, mas o que nelas condeno está condenado no céu - apelo para o teu tribunal, Senhor Jesus!"

Pascal viveu e morreu como fervoroso cristão católico, e, se não tivesse escrito essas cartas, figuraria talvez nos altares da igreja, pois austera era a sua vida cristã. Graças a essa pureza e agudeza de espírito disciplinado, Pascal percebia nitidamente que uma coisa é catolicismo cristão, e outra coisa é clericalismo romano. Para ele, catolicismo é cristianismo, ao passo que clericalismo é uma orientação político-financeira incrustrada na igreja.

De acordo com o que Pascal revelou em suas cartas, é que o clero adota dois pesos e duas medidas no campo da ética: uma para o povo, e outra para si. Se um leigo faz uma calúnia, está obrigado a revogar a calúnia para poder receber a absolvição na confissão, mas se um dignitário eclesiástico mentir e caluniar, não tem nenhuma obrigação de se revogar - supondo que a calúnia reverta para o benefício da classe.

A razão dessa diferença é óbvia: para o clero, o exercício do sacerdócio é uma profissão lucrativa, e uma política que garante prestigio social. Para o católico leigo e sincero, o catolicismo é um ideal divino, do qual ele não espera nenhuma vantagem social nem material, devendo até estar disposto a sacrificar certas vantagens terrenas para ser católico de verdade.

Enquanto o sacerdócio continuar a ser uma profissão lucrativa e um meio de influência política, o clero está em manifesta oposição ao Cristianismo.

É categórica a ordem que Jesus deu a seus discípulos: "Dai de graça o que de graça recebestes!" Categórica é também a condenação que ele lança aos chefes espirituais da igreja de Israel: "Ai de vos, que devorais as casas das viúvas e dos órfãos, sob o pretexto de longas orações!" "Não podeis servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro".

Jesus permitiu a seus discípulos receber o sustento necessário, mas não remuneração pecuniária, ou salário: "Quando entrares numa casa, comei o que se vos puser diante, porque é digno ao operário o seu sustento". A tradução "salário" em vez de "sustento", incompatível com o texto, já revela o espírito mercenário do clero desse tempo. 

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