Sim - e não.
Não era um curador no sentido usual da palavra.
A sua terapêutica estava radicada no mistério da sua própria cristicidade. No ser humano Jesus, o Cristo cósmico se reencarnou, e nele habitava "toda a plenitude da Divindade", como disse Paulo de Tarso. Como na Divindade não há doenças, logo se supõe que não podia haver doenças na mais perfeita emanação da Divindade Universal, no Cristo-Logos.
E essa imunidade crística irradiava através de sua personalidade humana. Não se encontra nos quatro Evangelhos, no Evangelho do apóstolo Tomé e tampouco nos apócrifos, nenhuma palavra sobre alguma doença de Jesus. E sua perfeita saúde contagiava os doentes que eram receptivos a esse contágio.
O ser humano está habituado a falar em contágio de doenças - mas uma perfeita saúde é mais contagiosa que qualquer doença. A perfeita saúde de Jesus contagiava beneficamente os doentes.
Nos Evangelhos, também não se encontra nenhum indício de que Jesus tivesse feito uma campanha para curar todos os doentes da Palestina, muito menos do Império Romano, como poderia ter feito com o seu poder curador. Ele nunca procurou um doente; só curava aqueles que o procuravam. É que ele sabia que doença é efeito de culpa, individual ou coletiva, e ninguém, nem o próprio Jesus tem o poder de abolir a culpa alheia contra a vontade do culpado. O que ele fez nos três anos da sua vida pública foi mostrar aos culpados o caminho de abolirem ou prevenirem a sua própria culpa.
Certos filantropos devem estranhar que um homem dotado de tamanho poder curador não se tenha tornado um curador profissional.
Jesus sabia que o verdadeiro mal não está no corpo, mas na alma, e que não adianta reprimir os efeitos, enquanto persistir a causa. No Genesis foi dito que as doenças e a morte são creações do pecador, e Paulo de Tarso repete que o "salário do pecado é a morte".
Daí essa indiferença de Jesus em face das doenças. Ele é muito mais mestre que médico.
Quando Maria de Betânia ungiu Jesus com um frasco de essência preciosa, Judas e outros discípulos incriminaram Maria por esse "desperdício," alegando que se poderia ter vendido essa essência e ter ajudado os pobres. Jesus, porém, defende o "desperdício" de sua discípula dizendo: "Quanto aos pobres, sempre os tereis convosco, e podeis fazer-lhes bem quando quiseres - a mim, porém, nem sempre me tereis".
Essa atitude de Jesus é dificilmente compreensível para os que só conhecem beneficência material, e nada sabem de beneficência espiritual, que lhes parece desperdício ou absurdo misticismo.
Jesus dava a máxima importância ao homem ideal que fora planejado pelos Elohim do Genesis, que até hoje não prevaleceu na humanidade. Aplainar os caminhos da alma é, para Jesus e para a futura humanidade crística, mais importante do que curar o corpo físico da humanidade adâmica. Ele nunca se recusou a curar os que o procuraram, mas nunca mostrou interesse em organizar uma campanha sistemática no sentido de curar todas as enfermidades dos homens de seu tempo. Das alturas de sua visão crística, o que mais o interessava era proclamar o Reino de Deus, e uma vez estabelecido, cessariam, não só os males, mas, acima de tudo, as maldades, causa de todos os males. Esta é a lógica genial de Jesus, dificilmente compreensível e aceitável para muitos cristãos.
A nova humanidade do futuro será de homens feitos à imagem e semelhança de Deus, sem culpas, sem doenças, sem morte compulsória.
Esta humanidade ideal continua a ser frustrada pela serpente do intelecto e da mente, e enquanto o poder das trevas tem poder sobre os homens, não surgirá uma humanidade perfeita, porque até hoje, a vasta maioria da humanidade ainda rasteja nas planícies estéreis da mediocridade e considera ridículo e absurdo, tudo quanto se eleva acima desse nível.
Texto revisado extraído do livro QUE VOS PARECE DO CRISTO?
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