Thursday 14 January 2021

NÃO LANCEIS AS VOSSAS PÉROLAS AOS PORCOS

Todos mestres espirituais experientes da humanidade advertem que as grandes revelações ou inspirações que Deus faz a certos homens devam ser conservados em segredo, para que não percam o brilho. São como essências preciosas, que, quando em recipiente aberto, se volatilizam rapidamente – ou dando margem para interpretações contaminadas pelo elemento humano.

Assim como a vida na matéria é sagrada, divina, a vida espiritual é mais sagrada e divina ainda, e por isso deve estar envolta também em mistério, sobretudo a sua origem, ainda frágil e delicada. O encontro da alma humana com o Creador é uma espécie de núpcias, como testificam todos os livros sacros; a alma “concebe” uma prole por virtude e fecundação do Creador, e essas núpcias divino-humanas devem ficar envoltas em mistério e cercadas de pudor. Tão grande é a sacralidade da vida espiritual que até a menor profanação equivale a um sacrilégio.

Por isso, Jesus prevenia seus discípulos para que não deem as coisas sacras aos cães, nem lancem as suas pérolas aos porcos, “para que estes não lhes metam as patas e, voltando-se contra vós, vos dilacerem”.

Quando o homem espiritual revela aos profanos as pérolas da sua experiência com Deus, que acontece? Os profanos não compreendem tão profundo mistério, porque não possuem ainda uma percepção desenvolvida, e pior, pois por via de regra entendem às avessas as coisas sagradas, e, em vez de as acatar, as desprezam e as têm em conta de ilusão e de anormalidade. Para o profano, o homem iniciado nas coisas de Deus é um doente, um louco, um anormal.

Quando lançamos um punhado de pérolas preciosas a um porco, este, esperando receber uma espiga de milho, avança ansioso e mete-lhes as patas para as comer; mas logo depois, verificando o engano, se enfurece e, revoltado por ter sido enganado, investe contra quem lhe deu apenas pérolas indigestas, em vez de umas espigas doces e suculentas.

Que valor tem para o profano uma hora de meditação espiritual, o silêncio ou uns momentos de fervoroso colóquio com Deus? Que valor ele dá ao conhecimento de si mesmo, ao estudo das mensagens divinas ou à intuição mística da Suprema Realidade? Essas pérolas são para ele coisas insípidas, inoportunas, indigestas – se ao menos fosse um punhado de notas bancárias, uma noitada de banquetes e orgias sexuais ou a eleição para um rendoso cargo público! ... Essas coisas, sim, têm valor para ele, porque satisfazem a fome do seu ego humano, ao passo que aquelas outras que se referem aos anseios do Eu divino são, para o profano, insípidas e absurdas. É que cada um pensa e age de acordo com a medida do seu conhecimento ou da sua ignorância ...

Por isso, o mestre espiritual sensato não revela aos outros o que Deus lhe revelou. Cuidadosamente avalia a habilidade de entendimento de cada um ... Sabe quais são os avançados, e quais os atrasados, os esotéricos e os exotéricos. Fala, muitas vezes, em parábolas e alegorias, para que cada um interprete os símbolos materiais segundo seu nível evolutivo e perceba do simbolizado espiritual precisamente aquilo que corresponde a esse nível. “Àqueles dentre vós que ainda são infantes em Cristo – escreveu Paulo aos Coríntios – dei-lhes leite para beber; mas aos que são adultos em Cristo dei-lhes comida sólida”.

“O mestre estudioso das coisas do reino de Deus – disse Jesus – tira do tesouro do seu coração coisas velhas e coisas novas”. Muitos sabem assimilar as “coisas velhas” da tradição secular, sabem andar com segurança nos antigos caminhos, por onde milhares e milhões transitam – poucos sabem aproveitar-se das “coisas novas” da evolução espiritual, poucos sabem orientar-se nos caminhos estreitos e desconhecidos da experiência mística, por onde pouquíssimos passam e progridem, em solidão e silêncio ...

A verdade é alimento para uns – e veneno para outros ...

Por isso, o mestre do reino de Deus deve saber usar de critério sobre as verdades que transmite a seus discípulos, para que as “coisas sacras” e as “pérolas” cheguem às almas daqueles que são idôneos de as receber e assimilar.

Texto revisado, extraído do livro Assim Dizia o Mestre

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