Wednesday 13 January 2021

NINGUÉM VAI AO PAI...

...exceto pela unção do espírito de Deus que habita no homem.

As diferentes igrejas, desde que surgiram, até os dias de hoje, nunca tiveram a habilidade de unir a humanidade. E a prova dessa afirmação, é a guerra, que ainda assola comunidades e países inteiros nessa constante beligerância entre os homens; e guerras inclusive dentro das próprias igrejas, que são o resultado das divergentes opiniões acerca das interpretações que se dão às revelações divinas. Todas elas, sem exceção, vivem em intrigas, inclusive de morte, pois toda revelação divina se contamina, quando pousa em mãos profanas.

A palavra religião, deriva da palavra latina "Religio" que tem significado influenciado pelo verbo "Religare", de ligar-se, apegar-se a algo concreto ou abstrato. No sentido abstrato, refere-se ao sobrenatural ou ao supernatural, à divindade, à mística, à fé em algo supostamente intangível e que não necessita de demonstração científica. Mas que desde a antiguidade, é palavra que está divorciada da alma do que é a verdadeira religião, que é estar em sintonia com o poder creador, da união com o Infinito, do transbordamento da experiência mística em vivência ética, ou seja, da crença em Deus e na harmonia entre os homens. Portanto, dentro dessa verdadeira religião, não há guerra, mas perfeita harmonia.

Se Abraão foi o pai dos três credos mais conhecidos, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, o homem espiritualmente consciente é o filho pródigo que trabalha para a unidade religiosa de todos os homens, cuja principal tarefa deve ser estabelecer o grande tratado de paz dentro de si mesmos, no exercício da compreensão e entendimento entre todas os credos.

E um dos exemplos que criaram e ainda criam a animosidade entre as igrejas, é a interpretação dada à observação de Jesus de que: "Ninguém vem ao Pai senão por mim," pois quando tomada no sentido costumeiro, desune a humanidade, criando ódios sectários e guerras de religião, pois cada credo se julga no direito de ser o dono da verdade!

Entretanto, a culpa desses males não cabe a Jesus, o inspirador dessas palavras, mas à falsa interpretação dos que se dizem seus discípulos, sem possuírem o espírito desse grande iluminado, pois todo mal está na confusão entre dois elementos distintos: Jesus e o Cristo.

O divino Logos, ou Verbo, se uniu ao humano Jesus, mas essa união não aniquilou a distinção entre os dois elementos, divino e humano. O eterno Logos, depois de se unir a Jesus, chama-se o "Ungido", ou em grego, "Christós".

Ninguém vai ao Pai a não ser através da unção (chrisma, que é o sacramento de confirmação) do espírito de Deus. A nossa natureza humana deve ser tão penetrada e permeada pelo espírito de Deus que possamos dizer com Jesus: "Eu e o Pai somos um". E é nisso que consiste a verdadeira redenção e salvação do homem: na realização do Cristo dentro de si.

O professor Huberto Rohden, sábio inspirador desses escritos foi, por muitos anos, discípulo de um mestre espiritual oriental - mestre esse que foi discípulo de Paramahansa Yogananda – e disse que nunca ouviu de lábios cristãos maiores apoteoses ao Cristo do que dos lábios desse Indú. Nas aulas de filosofia e nas funções litúrgicas, ele só falava no Cristo, e o volume de 101 orações por ele composta só falavam do Cristo como o único caminho à comunhão com Deus. Nenhuma estranheza causava a Rohden, essa atitude essencialmente cristã desse brâmane, pois sabia que pela palavra "Cristo", ele não se referia a nenhum indivíduo humano, fundador de alguma religião ou igreja: não fazia referência a Jesus, mas sim ao eterno Logos, o espírito de Deus de que se fala no quarto Evangelho, o espírito eterno, absoluto, Infinito, que se fez carne e habitou na pessoa humana de Jesus - e continua a habitar - em nós: "Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos", "Onde dois ou três estiveram reunidos em meu nome, lá estou eu no meio deles".

Em nenhum momento da história da humanidade, o divino Logos deixou de habitar no homem; mas nem sempre encontra um veículo humano receptivo e puro para se manifestar com tamanho esplendor como fez na pessoa de Jesus, "cheio de graça e de verdade". No entanto, o divino Logos também se encarnou na pessoa de Moisés, em Isaias, em Jó, em Krishna, em Buda, em Zaratustra, em Maomé, e outros veículos humanos.

Quando se coloca uma luz sob um recipiente opaco, nada se percebe dessa luz, embora ela esteja presente. E se colocar essa luz num recipiente menos opaco, se percebe essa presença de um modo indireto. Mas se a essa mesma luz for colocada num recipiente transparente, essa luz se vê com toda a sua intensidade.

Na pessoa de Jesus, o divino Logos encontrou a mais perfeita expressão humana até hoje conhecida na Terra, e por isso se cultua o Cristo em Jesus como o apogeu das revelações da Divindade.

Texto revisado e em parte extraído do livro Assim Dizia o Mestre

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