Tuesday 12 January 2021

ONDE NÃO HÁ LUZ

Se o Creador, segundo Aristóteles, é “actus purus,” pura atividade ou vibração espiritual, pode-se então afirmar que a creatura, quanto mais divina, mais se aproxima do “actus purus”.

O homem profano entende por atividade, “movimento”, pressa, agitação. Entretanto, atividade é precisamente o contrário do movimento. Uma roda em movimento giratório que recebe a sua força do eixo, tem a maior força exatamente no centro desse eixo, ao passo que a força é menor quanto mais se distancia do eixo central. Força e movimento estão em sentido oposto - força é atividade - movimento é passividade. A força , o movimento recebe.

Quando o homem atinge o zênite da sua força e atividade, torna-se cada vez mais tranquilo, mais quieto, mais centralizado, e por isto mais eficiente. Eficiência é força, e não movimento; 10% de força vale mais que 90% de movimento. A luz é a maior força do Universo, embora pareça ser a mais fraca. A essência da dinamite, das águas, da eletricidade, do vento, é a luz, que é o máximo de vibração e atividade.

Na antiguidade, a força era representada através dos músculos dos animais. Força era também a água, o vento; mais tarde força era vapor de água, que acionava locomotivas.

A história da eletricidade tem seu início no século VI a.C., na Grécia Antiga, quando o filósofo Thales de Mileto, após descobrir uma resina vegetal fóssil petrificada chamada âmbar (elektron em grego), esfregou-a com pele e lã de animais e pôde então observar seu poder de atrair objetos leves como palhas, fragmentos, o que mais tarde veio a se chamar eletricidade estática.  Desde então, e mais recentemente, força é eletricidade, que parecia ser menos poderosa. Recentemente, a ciência moderna descobriu que o último reduto da força é o átomo e suas partículas, na sua aparente imobilidade invisível. No futuro, quais serão as outras possibilidades maiores que as já conhecidas?

Onde não há luz, não há vida, beleza, alegria. Sem a luz tudo é morto, feio, triste.

Quando a pequena chama de um palito de fósforo encontra combustível suficiente, inicia uma “reação em cadeia” de caráter molecular, e enquanto houver combustível, o fogo não se apaga.

O mesmo se dá no mundo metafísico, onde a “reação em cadeia” é sem limites: basta que apareça um homem-luz, um homem-fogo, e a iluminação e o incêndio metafísico se propaga irresistivelmente. Há dois mil anos que apareceu um homem dessa natureza, de luz e fogo, que disse: “Eu sou a luz do mundo, e eu vim para lançar fogo à terra, e que quero eu senão que arda?” - e há dois mil anos muitos homens foram iluminados e ignificados por esse gigantesco incêndio. Basta que alguém se torne combustível idôneo, para ser iluminado e incendiado por essa gigantesca conflagração Cristo-cósmica. Acontece então uma “reação em cadeia,” um contágio de luz e fogo, quando um homem crea em si a necessária receptividade luz-fogo.

O homem profano está na escuridão ou na sombra espessa, porque se acha detrás de uma muralha opaca, que se ergue entre ele e a luz; vive nessa escuridão e nada sabe da luz.

O homem místico chegou a saber que há luz do outro lado da muralha opaca, e, desejoso da luz, resolveu derrubar essa muralha, que é o mundo material e do qual faz parte o seu próprio corpo e tudo o que pertence ao ego.

O homem cósmico, porém, descobriu uma terceira alternativa; não está detrás de nenhuma muralha opaca, nem derrubou esse muro, mas, de tão cheio de luz, tornou esse muro transparente. O homem cósmico despertou em si tamanho poder de sabedoria que conseguiu diafanizar a muralha divisória entre si e a luz; fez da muralha opaca um prisma cristalino, através do qual penetra a luz incolor e aparece nas maravilhas das cores do arco-íris, embelezando todas as coisas da sua vida. Mas, para iluminar a muralha divisória das coisas mundanas, deve ter intensificado ao máximo a sua própria luz.

A luz incolor é una.

O prisma tem três faces.

E o resultado do uno e do três são as sete cores do arco-íris.

A alma, a mente e o corpo - esse prisma triangular - quando se tornam perfeitamente transparentes, podem transformar a luz branca do Cristo na maravilha multicolor - como aconteceu com Jesus, através do qual se manifestou o Cristo cósmico - e a personalidade dele apareceu “cheia de graça e verdade”.

Quando o Verbo do Eu crístico se encarna na pessoa humana pela geração e pelo nascimento, o ego humano pode eclipsar a luz do Eu divino - mas pode também fazer do ego a mais bela creatura de Deus.

Quando a personalidade humana de Jesus foi penetrada pela luz do mundo, esta terra ficou embelezada pelos seus esplendores, “de cuja plenitude todos nós recebemos, graça sobre graça”.

Texto revisado extraído do livro Sabedoria das Parábolas

No comments:

Post a Comment