Na parábola do grão de mostarda, Jesus focaliza a aparente impotência da onipotência espiritual, quase sempre ocultada pelas ilusórias grandezas das coisas materiais. Usando um conceito paralelo, os nossos sentidos e o nosso intelecto, por exemplo, só percebem na semente o envoltório externo, e nada sabe do conteúdo interno, da vida invisível creada no interior da semente.
O conteúdo vivo vivifica o envoltório aparentemente morto da semente, mas o homem profano só enxerga o resultado final vivificado na árvore e ignora o centro vivificante da semente. O homem empírico-analítico nada sabe da Vida, só conhece os seres vivos, e, enquanto não entrar numa nova dimensão de consciência, nunca saberá o que é a Vida, que produz os seres vivos, o Creador que crea as creaturas, a Realidade que causa as facticidades.
A parábola do grão de mostarda é um convite para descobrirmos a Realidade da Vida em todas as realidades vivas. A Vida é imanente em todos os seres vivos. A Vida não é algo justaposto a eles, mas é a sua alma, sua intima essência, é o Creador que produz as creaturas, formando o Universo.
A melhor palavra para designar Deus, seria Vida. Em face da Vida não há ateus. A Vida é a Realidade universal do Cosmos, que nunca foi negada por ninguém, pois Deus não é algo transcendente ao mundo, ele, a Vida, é imanente ao mundo, como é a vida em si mesma; é a alma do Universo, e o Universo é o corpo de Deus, como dizia Benedito de Spinoza.
Semelhantemente, o Reino de Deus no homem não é algo adicionado a ele, algo como um artigo de luxo que usa de vez em quando. "O Reino de Deus está dentro de vós," assim como a Vida está dentro dos seres vivos; é a alma, essência e quintessência do homem. Todo ser vivo pode dizer: Eu e a Vida somos um; a Vida está em mim, e eu estou na Vida - mas a Vida é maior do que eu.
Deus é a Vida, e as creaturas são os seres vivos. Essencialmente, cada uma delas é Vida; existencialmente, são todos seres vivos.
Quando os seres vivos se deixam penetrar totalmente pela Vida, eles próprios, a princípio, pequenos como um grão de semente, serão engrandecidos pela Vida. O maior benefício que o ser vivo pode fazer a si mesmo é se deixar ser penetrado pela Vida. A Vida é o maior benfeitor desses seres. O Eu Divino é o maior benfeitor do ego humano, embora este, na sua ignorância, muitas vezes seja inimigo do Eu.
O maior benefício que o ego humano pode fazer a si mesmo é entregar-se e integra-se totalmente no Eu Divino; e o maior malefício que o ego humano pode fazer a si mesmo é isolar-se em si mesmo e resistir à essa integração.
O ego que não se integra no Eu, se desintegra. O ego que tenta realizar-se sem o Eu, não se realiza. Mas o ego que se integra no Eu, eterniza o próprio ego, graças à sua integração no Eterno. E, quando o ego humano se integra voluntariamente no Eu Divino, pela mística do primeiro e maior de todos os mandamentos, não só se beneficia a si mesmo, mas torna-se benfeitor de outros egos humanos, pela ética do segundo mandamento, amando o seu próximo como a si mesmo. Muitos homens encontram refúgio e conforto moral no homem que se refugiou e se realizou em Deus, no homem que atingiu a sua maturidade e plenitude no Infinito.
Para fazer bem aos outros é necessário ser bom em si mesmo. Quem não é bom não pode fazer bem. Para ser um benfeitor para os outros, é necessário que o homem seja ele mesmo, autorrealizado. Esta é a inexorável matemática da mística.
É funesta ilusão querer fazer bem aos outros sem ser bom em si mesmo. A ética sem a mística é uma pseudo-ética, uma funesta utopia; pode ser que seja moralidade, altruísmo, filantropia, mas não é a verdadeira ética, que é sempre um transbordamento espontâneo da mística.
A consciência da paternidade única de Deus transborda irresistivelmente na vivência da fraternidade universal dos homens - e só isto é ética genuína e verdadeira.
O homem, quando plenamente desenvolvido no seu ser bom místico, é sempre um benfeitor no seu fazer bem ético, muitas vezes sem o saber. Muitas vezes ser bom parece até ser mau; por vezes o nosso ser bom exige rigor, disciplina e aparente crueldade. Quem permite passivamente todos os abusos ao redor de si, sob pretexto de ser bom, não é bom. Ser bom é ser intransigente instrumento da verdade, da retidão, da justiça, da ordem e disciplina.
O homem quando age com severidade e rigor, age muitas vezes em defesa do seu ego humano ofendido, e isto não é ser bom. Mas, quem age com rigor e severidade em defesa de uma causa sagrada, esse é realmente bom, talvez cruelmente bom, embora os homens mundanos o rotulem de mau.
O homem realmente bom é o maior benfeitor da humanidade. Homens realmente bons, auto realizados, irradiam poderosas auras, mesmo que ninguém saiba da sua existência. Um homem que chegou à plenitude do amor, dizia Gandhi, neutraliza o ódio de muitos milhões.
Na parábola do grão de mostarda, Jesus focaliza mais uma vez, os mandamentos da mística revelada em ética, no primeiro e no segundo, "nos quais estão toda a lei e os profetas," nos quais está toda a religiosidade, toda a auto-realização do homem.
Texto revisado, extraído do livro A Sabedoria das Parábolas
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