É necessário pedir com insistência a fim de crear na alma um ambiente de receptividade.
Mas por que essa necessidade de pedir, se Deus é onisciente, e sabe perfeitamente de que necessitamos, mesmo antes de pedir? Jesus afirmou explicitamente que "vosso Pai Celeste sabe do que precisas, mesmo antes de lhe pedirdes".
E, apesar desta declaração categórica, Jesus continua a repetir que é necessário pedir sempre e nunca deixar de pedir.
Essa atitude humana não pode ter a finalidade de lembrar a Deus que necessitamos disto e daquilo, como se ele pudesse esquecer-se de nós ou ignorar as nossas necessidades de cada dia. Mas a finalidade do pedido é outra, ou seja, a de crear em nós mesmos uma atitude tal que Deus nos possa atender, pois só "quando o discípulo está pronto o Mestre aparece".
As leis cósmicas funcionam com infalível precisão, e jamais podem deixar de funcionar. Mas elas só podem funcionar onde há um ambiente propício para seu funcionamento. Na natureza não humana, essas leis funcionam quase sempre de forma automática, porque o ambiente propício sempre existe, devido à mecanicidade das leis da natureza. O sol sempre nascerá no Leste e se porá no Oeste, sem adiantar e atrasar um único segundo. A planta sempre florescerá e frutificará segundo as suas leis intrínsecas e infalíveis.
No mundo dos seres humanos, porém, podem existir ou não as circunstâncias para o funcionamento das leis cósmicas. O homem pode possibilitar ou impossibilitar esse funcionamento, pois onde impera o livre arbítrio, nada é previsível. Deus quer dar ao homem os bens que em Deus estão, mas o homem pode obstruir o seu recipiente humano e não receber a graça do doador divino, assim como pode também ampliar o seu recipiente a fim de receber em maior medida a dádiva divina. O recipiente humano, como se vê, é muito elástico, podendo se estreitar ou alargar.
O pedir, orar, buscar, bater na porta, tem por fim alargar cada vez mais o recipiente humano.
O velho adágio filosófico, "o recebido está no recipiente segundo a capacidade do recipiente" ilustra bem essa verdade. Todo o finito recebe do Infinito aquilo que lhe corresponde na maior ou menor medida da sua finitude. Se a capacidade do finito for igual a 10, o recipiente receberá 10; se for igual a 50, receberá 50; se for igual a 100, receberá 100. Quem vai ao oceano com um copo, encherá um copo de água; quem vai com um litro encherá um litro; quem vai com um balde, encherá um balde - não por causa do oceano, mas por causa da capacidade do copo, do litro e do balde.
Para receber da Infinita Plenitude, o homem finito deve ampliar a sua finitude, que tem muitos graus, mas cuja potencialidade pode ser aumentada por seu livre arbítrio.
A ordem de orar, pedir, buscar, bater na porta, nada tem que ver com Deus; tem que ver unicamente com o homem.
Suponhamos que alguém esteja, em pleno meio-dia, dentro de uma sala escura, de janelas fechadas. Para que entre luz solar, não é necessário dirigir-se ao sol, ou pedir que o sol mande seus raios para a sala escura; basta abrir uma janela na direção do sol, abri-la pouco para receber pouca luz, abri-la muito para receber muita luz.
Uma planta volta suas folhas ao sol para receber luz e calor e poder crescer, florescer e frutificar - mas o sol não é afetado por nada disto.
O livre arbítrio do homem é o seu maior privilégio - e também o seu maior perigo. O uso ou falta de uso da sua liberdade torna o homem melhor ou pior. Pelo livre arbítrio o homem é o seu próprio Deus - e também o seu anti-Deus, o creador do seu céu ou do seu inferno.
O destino cósmico depende somente de Deus - mas o destino humano depende do homem, não na zona independente do livre arbítrio, mas na zona de sua liberdade. As circunstâncias externas podem facilitar ou dificultar o exercício do livre arbítrio - mas nenhuma circunstância pode obrigar o homem a ser bom nem a ser mau.
Texto revisado extraído do livro Sabedoria das Parábolas
No comments:
Post a Comment