Wednesday 14 July 2021

A LIBERTAÇÃO DO HOMEM PELA ÉTICA RACIONAL

Pela ignorância, os sentidos nos mantêm na inconsciência da nossa escravidão, pois sofrem interpretações tendenciosas, examinados por um juízo precário e extremamente oscilantes.

Pela ciência, o intelecto nos torna conscientes da nossa escravidão.

Pela sapiência, a razão nos liberta da escravidão.

A verdade sobre o Creador, a verdade sobre o mundo, a verdade sobre nós mesmos – essa é a grande libertadora!

A verdade, porém, só pode ser conhecida pela razão intuitiva, espiritual, pelo Divino Lógos que ilumina a todo homem que vem a esse mundo. Por isso, é a razão que, pelo conhecimento da verdade, nos traz a grande liberdade.

A verdade é a consciência da realidade, é a essência das coisas percebidas por algum ser consciente; a harmonia entre uma realidade objetiva e o reflexo que essa realidade projeta no sujeito consciente e pensante. E essa essência é Deus, o Absoluto, Universal, Infinito, Potência Cósmica, uma força viva e ativa; ela é a Vida, a Consciência, a Razão, o Espírito em grau ilimitado ...

“Conhecereis a verdade - e a verdade vos libertará” ...

Quando o homem chega a esse estado de suprema consciência, todas as dúvidas sobre os problemas da vida, silenciam. Ele sabe o que é, sabe o que quer, sabe onde vai e vive a sua vasta e profunda imortalidade ...

E então vem sobre ele essa grande paz, essa imensa serenidade, uma beatitude que ultrapassa toda compreensão ... sabe que tem os pés solidamente firmados nos pilares do Absoluto ...  

E mesmo que todos os seres humanos declarassem a sua filosofia como ilusória e absurda, esse homem saberia que ela é verdadeira, porque o seu critério de verdade ultrapassa todas as barreiras erguidas pelo intelecto, cuja força é fraqueza, cujas luzes são trevas, diante da potência cósmica da razão intuitiva, ou seja, do Divino Lógos que habita no homem.

Entretanto, é indispensável que não se confunda essa profunda e vasta ética racional com a superficial e estreita ética da vontade do homem comum.

A ética baseada meramente em atos explícitos da vontade, é um estado precário, fragmentado e imperfeito do consciente; sempre difícil, sacrificante; não oferece garantia de perpetuidade, próprio de todos atos difíceis, cuja função é intermitente e precária, pois mostra o quanto o ego tirânico trabalha duro e às vezes com má vontade, para mostrar que ele é bom, mas que reluta, no entanto, em fazer esse esforço continuamente. Em contrapartida, os atos fáceis e que dão prazer, pois são produtos do ser consciente e que fluem sem esforço, são contínuos e sólidos. Para o principiante, a ética da vontade é certamente necessária, porque ninguém pode dar o segundo passo sem dar o primeiro, nem o último sem o penúltimo; o principiante deve querer ser bom, acima de tudo, para depois ser bom. Essa ética baseia-se numa espécie de , que, quando madura, culmina na sapiência - e é essa sapiência racional que caracteriza a ética perfeita.

O homem pode ser subjetivamente bom, como é todo homem que busca a vivência ética – mas essa bondade subjetiva não é idêntica à perfeição objetiva do homem integrado na ética racional.

A perfeição objetiva do homem consiste em que ele compreenda a razão porque deve ser bom. Essa razão não está no plano horizontal do querer consciente, nem no terreno social, na necessidade que o homem civilizado tem de conviver com os seus semelhantes, convivência essa impossível sem a justiça, a bondade, o amor. O homem perfeito é ético também na solidão, sem nenhum contato com a sociedade, como se vivesse sozinho, pois a ética não nasceu da convivência social, mas sim, da inteligência, da vontade e da razão.

Por que então, deve o homem ser bom? O homem perfeito é ético porque o seu “agir” harmoniza com o seu “ser”. Revela no plano horizontal da ética, o que ele é na linha vertical da metafísica. Age de conformidade com a sua natureza, que é a de ser bom e integralmente fiel a si mesmo. Vive o que é. Compreendendo a sua identidade essencial com o Infinito, faz a sua atividade essencial coincidir plenamente com essa sua realidade essencial. Aboliu todas as velhas discrepâncias entre o seu ser e o seu viver; despojou-se do homem velho adâmico, que vive contrariamente ao que é, e passou a investir no novo homem crístico, que no plano do seu dever cotidiano guarda inviolável fidelidade à eterna realidade do seu ser; que ultrapassou todas as mentiras e falsidades entre o seu Divino ser e o seu humano viver; ele vive na existência humana a sua essência Divina.

Consequentemente, o homem que atingiu as luminosas alturas da ética racional ou cósmica é uma personalidade individual perfeitamente integrada no Todo universal! 

Texto revisado, em parte extraído do livro Filosofia Contemporânea, volume II págs. 86 a 89 e em colaboração com Hernán Fandiño Mariño.

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