Thursday 22 July 2021

A FORÇA DO ESPÍRITO

O homem profano está sempre disposto a fixar os olhos nos seus fracassos e na falta de resultados imediatos; impressiona-se sempre com os negativos da vida, esquecendo-se dos positivos. Os seus pensamentos e as suas conversas giram em torno dos males que sofreu ou teme sofrer; e fecha os olhos para os bens reais de que a vida está repleta. Ignora que o “mal” não se baseia em nenhuma realidade, porque o “mal” é simplesmente a ausência do “real”, que é o “bem.”

Que é treva senão ausência de luz?

Que é moléstia senão ausência de saúde?

Que é morte senão ausência de vida?

Que é pecado senão ausência de santidade?

O homem profano, vítima da sua própria ignorância, procura debelar os negativos da vida, os males, atacando-os diretamente de frente - o que é tão absurdo como querer afugentar as trevas com espadas ou rifles.

Sendo que a treva é apenas ausência da luz, e o único meio de acabar com a escuridão é substitui-la pela presença da luz - e lá se foram as trevas! Pois o negativo é incompatível com o positivo.

Da mesma forma, ninguém pode expulsar a moléstia de outro modo que não seja pela substituição da saúde, como ninguém pode abolir o pecado senão pela introdução da santidade.

Semelhante atrai semelhante - é esta a lei eterna e universal que rege o macrocosmo exterior e o microcosmo no homem. Quem vive habitualmente num clima mórbido de negatividade - temor, ódio, rancor, ressentimento, pessimismo, tristeza, desânimo, espírito de crítica e falta de caridade - está sempre preparando o terreno para novas negatividades e derrotas. Toda atitude negativa é como uma gestante que carrega em seu ventre um embrião feito à sua imagem e semelhança, e, cedo ou tarde, dará à luz uma nova prole de caráter negativo - perpetuando assim a interminável cadeia de males.

O único meio de melhorar o mundo e a vida humana é assumir e manter invariável atitude positiva - altruísmo, amor, benevolência, alegria, confiança, espírito de caridade e conciliação, atmosfera de harmonia e bem querença - porque a dinâmica do positivo cria os positivos potenciais, e estes, quando devidamente maturados, geram novas positividades, criando epopeias de bem estar e felicidade.

O homem profano, devido a sua reação negativista, confia no espírito da força, da violência física - e não acredita na força do espírito; o homem espiritual, porém, sabe que toda violência é um atestado de fraqueza, e que a mansidão é força e poder. Os filhos das trevas, devido ao seu analfabetismo, esperam resultados positivos vindos de meios negativos, punhais, espadas, rifles, metralhadoras, torpedos, bombas atômicas, etc., ao passo que os filhos da luz, graças à sua sabedoria, abstém-se de toda violência bruta e lançam mão da invencível potência dos fatores espirituais, sintetizados no amor.

Jesus, Francisco de Assis, Leon Tolstoi, Gandhi, Martin Luther King Jr., Albert Schweitzer e muitos outros iluminados, eram mestres nessa Universidade Espiritual. Não resistir ao mal, pagar o mal com o bem, estar disposto a sofrer mil injúrias do que cometer uma só, preferir morrer a matar - tudo isto, que ao profano parece tão ineficiente e impraticável, é para o homem espiritual, supremo realismo, filosofia sumamente prática, o caminho único para a felicidade individual e a harmonia social da raça humana.

O homem profano, vítima de seu irrealismo crônico, chama “idealismo” aquilo que é infinitamente mais realista e real que todos os seus pretensos “realismos”.

Só existe um processo infalível para acabar de vez com todos os nossos inimigos - é ama-los como amigos. Adicionar um negativo a outro negativo não é aboli-lo, mas duplica-lo, pois fazer mal a quem me fez mal é criar dois males e assim aumentando a soma dos males existentes no mundo; é fazer o mundo de hoje pior do que era o mundo de ontem. Deixar de pagar o mal pelo mal não aumenta os males existentes, mas também não os diminui, porque continua a existir o mal de meu malfeitor. Mas pagar com o bem, o mal, é cancelar com um positivo um negativo; quem assim procede faz o mundo de hoje consideravelmente melhor do que o mundo de ontem.

O homem profano procura dar cabo de seus inimigos matando-os, porque em seu primitivo analfabetismo, ignora por completo a grande lei cósmica que ódio gera ódio, violência gera violência, negativo cria negativo, perpetuando e aumentando a interminável cadeia dos males, pois vive algemado na lei da retaliação e com isso algemando também o seu oponente, multiplicando mais e mais os males. É como a monstruosa hidra da mitologia antiga: toda vez que Hércules lhe decepava uma de suas numerosas cabeças, nasciam duas novas no lugar da que existia. O malfeitor, na sua deplorável cegueira, não compreende que o mal que ele inflige aos outros é um mal muito maior para ele mesmo, pois para os que sofrem o mal é apenas um mal externo, mas para quem produz o mal é um mal interno. O objeto do malefício é atingido externamente apenas, ao passo que o sujeito do mal, o malfeitor, é ferido internamente. Sofrer uma injúria não me faz pior, mas fazer injúria me faz pior, diminui o meu valor interno, degrada a íntima essência da minha personalidade humana.

Se os homens compreendessem esta simples verdade e vivessem de acordo com essa compreensão, o ambiente em que vivemos hoje, seria completamente diferente.

O melhor meio para perpetuar indefinidamente a existência de nossos inimigos é sermos inimigos deles - e o meio mais seguro e único de acabar com nossos inimigos é em sermos amigos deles.

“Se permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

Texto revisado, extraído do livro Profanos e Iniciados

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