Tuesday 27 July 2021

A CONSCIÊNCIA DA PRESENÇA DE DEUS E SEUS EFEITOS

O verdadeiro sentido das palavras de Jesus não se pode conhecer a partir de simples estudos e análises intelectuais. Estudo e análise são úteis, e até certo ponto necessários – mas não são suficientes para crear vida espiritual. Nenhum santo, místico ou vidente de Deus adquiriu dessa maneira, o seu conhecimento sobre o reino dos céus. A força que domina o mundo, o poder do alto, o entusiasmo religioso, a dinâmica dos mártires e apóstolos de Deus, a coragem do verdadeiro místico que ignora o impossível, a cruz transformada de símbolo de ignomínia em epopeia de glória, o positivismo dos grandes mensageiros do reino de Deus – nada disto deriva de um estudo meramente teórico, mas sim de uma intensa e profunda consciência da presença de Deus. Quem não conhece a Deus intuitivamente, pela experiência direta e imediata, sempre tem algo a temer, sempre tem que especular e calcular meticulosamente, para que seus mesquinhos interesses pessoais não sofram prejuízo, e seus ídolos não sejam derrubados dos seus tronos – mas quem tem contato pessoal com Deus pela experiência mística, nada tem a temer; a própria morte, esse agourento espectro para todo homem profano, não inspira terror ao iniciado, porque não existe: ele já vive a sua imortalidade aqui na terra; quer tenha corpo ou não, pois isto não faz a menor diferença, uma vez que sabe, e não apenas crê, que ele não é o seu corpo, mas sim sua alma. E assim, o homem espiritual pode mergulhar, no imenso oceano das obras pelo reino de Deus, na certeza de que nenhum mal lhe acontecerá.

 

Tudo isto supõe que o homem tenha de fato experiência pessoal com Deus, que só se adquire na oração ou cosmo-meditação, portanto, é indispensável que ele, não disposto a se iludir, se irmane com crescente intensidade, em Deus, ao ponto de poder dizer: “Eu e o Pai somos um”, e que viva uma vida de perene comunhão com Deus, que “ore sempre e nunca desista de orar”.

 

Para que a vida humana possa decorrer nessa atmosfera da consciência da presença de Deus, é necessário que o iniciado nessa arte dê certo tempo à meditação diária, durante o qual ele se isole do mundo externo, e se recolha totalmente em Deus. Durante esse tempo, o homem deve impor completo silêncio a seus sentimentos psicofísicos, focalizando sua consciência espiritual na única Realidade, Deus, permitindo que a Luz Eterna lhe ilumine a alma, que lhe dê forças e a torne cada vez mais nitidamente consciente da sua essencial identidade com Deus.

 

Esse total ego-esvaziamento será trabalho árduo, e muitas vezes o principiante se verá à beira do desânimo, não enxergando resultado visível. Se, todavia, prosseguir, imperturbável e com crescente intensidade, verá a sua vida paulatinamente transformada, sob a ação silenciosa do fermento divino, e desse calor místico sentirá que esse tempo de meditação acabará sendo necessário.

 

Inicialmente, essa luz divina será limitada ao tempo da meditação, e quando voltar aos trabalhos diários, sentirá a extinção dessa luz e o desaparecimento da força espiritual, na medida em que se vai distanciando desse tempo. Mas aos poucos, com a progressiva intensificação da absorção em Deus, parte dessa luz divina vai se difundindo sobre as restantes horas do dia, até ser totalmente envolvido por essa claridade. Verificará então que sob esse misterioso colóquio com Deus, todos os trabalhos do dia, mesmo os mais prosaicos e enfadonhos, acabarão por se tornar agradáveis e envoltos de luz. Percebe, por fim, que tudo é belo neste mundo de Deus quando posto dentro da luz da experiência de Deus ...

 

Essa conscientização da presença de Deus é necessária para a sanidade espiritual do homem, e, portanto, a única regeneração possível da sociedade, sendo ilusória qualquer outra tentativa.

 

A verdadeira vida de meditação exige disciplina, equivalendo à uma intervenção cirúrgica no organismo doentio da alma. Quem medita, ou deixará de ser pecador – ou deixará de meditar. Ou a meditação acaba com o pecado, ou o pecado acaba com a meditação, pois não é possível que possam coexistir dentro da mesma alma. São como fogo e água, como luz e treva. O homem não pode orar de um modo – e viver de outro. A razão principal porque a vasta maioria dos seres humanos não rezam, é porque a vida que levam não é compatível com o espírito da oração, e como é mais fácil, segundo a lei da inércia moral, abandonar a oração do que deixar o pecado, é normal que o pecado se mantenha, e a oração, sacrificada ...

 

A oração, ou meditação quando genuína, implica na maior sinceridade de quem ora, e seu objetivo não consiste numa tentativa pueril de mudar a vontade de Deus – mas sim num esforço sincero de conformar a vontade humana com a vontade de Deus. A finalidade da oração não é de ser peticionária, de conseguir algum objeto externo – mas sim curar o próprio sujeito, pois quem erra é o ser humano consciente e livre, com suas ações e reações. E esse colóquio divino não é um substituto do trabalho, é o mais árduo de todos os trabalhos, e ao mesmo tempo a mola secreta que impulsiona a força para todos os outros trabalhos positivos e eficientes da vida humana.

  

A iniciação espiritual da humanidade e seu progresso nesse terreno dependem essencialmente da habilidade de orar. Sendo que Deus é a única Realidade, tanto mais poderosa ela é quanto mais íntima for a união com Deus. A oração é o dínamo gerador de todas as energias, porque estabelece a ligação com a usina divina; cortada a ligação com a fonte da luz, apagam-se todas as luzes. A razão pela qual se vive o caos, é pelo fato do abandono da comunhão com Deus. Todas as igrejas perderam o espírito sincero da oração, julgando poder resolver os problemas por meio de conferências, congressos e discussões teológicas. Qualquer medida – política, econômica, social, científica, etc., é ineficiente se não correr paralela e se basear em uma intensificação da comunhão com Deus, e isto é matematicamente certo, embora seja considerado ridículo pelos “eruditos” materialistas deste mundo, que julgam dirigir os destinos da humanidade. As igrejas estão falhando em cumprir a sua missão neste particular. A teologia escolástica praticamente esmagou a intuição mística. Os eruditos substituíram os santos. A inteligência matou o espírito. Muitos são os religiosos que sabem brilhantes coisas sobre Deus, poucos são os homens e mulheres crísticos que conheçam a Deus, pois uma coisa é estudar teologia sobre Deus, outra coisa é ter experiência de Deus.

 

A meditação, afasta qualquer conteúdo do ego humano, na certeza de que, onde há uma vacuidade acontece uma plenitude. O total ego-esvaziamento produz infalivelmente, a plenificação em Deus na razão direta em que se esvazia de si mesmo. Essa plenificação não é obra do homem – obra do homem é somente o ego-esvaziamento; todo o resto acontecerá automaticamente nessa comunhão divina.

 

É absolutamente certo que o homem que não pratica, regular e intensamente, essa comunhão com Deus não é homem espiritual, e sua atividade no terreno social não produzirá resultados duradouros. Por isto, o cultivo de uma vida de oração é o principal requisito para a regeneração da humanidade. Para o homem de oração não há problema insolúvel.

 

Para os principiantes é importante saber que esse esvaziamento da ego-consciência sem a manutenção da consciência espiritual conduz a um transe que anula qualquer efeito espiritual. Quem medita deve ser 0% pensante e 100% consciente. O pensamento é um processo de continuidade mental – ao passo que a consciência é um estado de simultaneidade espiritual. O pensamento contínuo nos torna inquietos – a consciência simultânea nos enche de profunda tranquilidade.

 

Depois de um certo período de meditação diária, intensamente vivida, acontecem grandes descobertas, pois quem medita, verificará que está livre, ou em vias de libertação, dos dois maiores inimigos da sua felicidade: o ódio e o temor. Verificará que já não odeia pessoa alguma, nem teme coisa alguma. Qualquer psicólogo, psiquiatra ou psicoterapeuta dos nossos dias sabe – como já sabiam os antigos gênios filosóficos e religiosos – que são estes dois fatores, o ódio e o temor, que fazem o homem doente, espiritual e psiquicamente, e, não raro, também fisicamente. Os manicômios, hospitais e penitenciárias são testemunhos desta verdade; e milhares de lares domésticos são verdadeiros infernos por causa desses inimigos traiçoeiros da humanidade.

 

Ódio e temor são procedimentos negativas da alma, e é sabido que toda ação ou reação negativa, quando alimentada, acaba por envenenar o seu autor. O homem que odeia volta-se contra a pessoa de que julga ter recebido injúria e que, por isto, considera seu “inimigo”, procura pagar-lhe mal com mal, e, possivelmente, com o maior dos males físicos, a morte. E ignora que inflige a si mesmo um mal muito maior do que, eventualmente, possa infligir a seu chamado “inimigo”. O mais prejudicado pelo ódio é sempre o sujeito, e não o objeto desse ódio; uma vez que aquele é a causa ativa e produtora do mal, e este apenas a vítima passiva que o sofre. O objeto do ódio pode, no pior dos casos, perder a vida física, mas o sujeito do ódio, em qualquer hipótese, quer mate quer não mate a pessoa odiada, perde a saúde e integridade metafísica do seu Eu. O ódio é um processo reflexivo, e não meramente transitivo; a sua ação destrutiva não termina no odiado, mas reverte a quem odeia; o odiado é, quando muito, atingido na superfície, na parte material, do seu ego, ao passo que quem odeia recebe em cheio o impacto dessa terrível “bomba atômica” de sua própria fabricação, que tencionava lançar contra seu “inimigo”.

 

“Não pagueis mal com mal! amai vossos inimigos! fazei bem aos que vos fazem mal.”

 

Há quem considere esses imperativos do Sermão da Montanha como idealismo ético, praticamente impossíveis e absurdos. Não sabem esses ignorantes que vai nestas palavras uma alta filosofia prática da vida humana, e a única sabedoria eficiente. Bem sabia Jesus que não há saúde e felicidade no homem que alimenta ódio e ressentimento.

 

O homem cristificado, compreende essa sabedoria divina e aboliu definitivamente o ódio e rancor; não é inimigo de ninguém, embora outros se digam inimigos dele. Judas era inimigo de Jesus, mas Jesus não era inimigo de Judas, tanto assim que no momento da traição, Jesus o chama de “amigo” e retribui o beijo da traição com sua sincera amizade.

 

Se outra razão não houvesse, valeria a pena exercitar a meditação diária a fim de atingir esse glorioso estado de isenção de ódio.

 

Isenção de ódio? Não, é muito mais que isto: é o verdadeiro amor para com todos os seres, humanos e não humanos. E esse amor não é meramente um sentimento emocional, nem o efeito de uma simples doutrinação teórica ou de um arranjo artificial quando necessário: é o resultado espontâneo da intuição da Verdade; pois o iniciado é o vidente da Verdade absoluta, da Realidade eterna; ele sabe por intuição que todos os seres são, em última análise, seus irmãos, mais ou menos avançados, como vem tão magnificamente expresso no “Cântico do Sol” de Francisco de Assis, um dos homens mais perfeitamente cristificados que a história conhece; esse iniciado sabe que todos os seres do universo são filhos do mesmo Pai celeste, efeitos da mesma Causa primária. Ele ama o que Deus ama – e como podia deixar de o fazer, se está identificado com o divino Amante de todos os seres? Como poderia o homem cometer o abominável sacrilégio de odiar algum ser sabendo que esse ser é objeto do amor de Deus?

 

Esse amor universal que anima o iniciado é, pois, o resultado infalível da sua intuição cósmica. A vasta horizontalidade da sua ética assenta alicerces na profunda verticalidade da sua metafísica. O amor que ele pratica é o resultado da verdade que ele vive. E é por isto que a sua ética não lhe é penosa, mas, fácil.

 

É também essa a razão porque o homem cristificado desconhece temor. Temor supõe ignorância, mas o iniciado é o sábio por excelência e sabe que nada o pode prejudicar, uma vez que nenhum ser pode frustrar a consecução do destino eterno, e é por essa razão que o homem espiritual, vidente da verdade, vive sem temor. As “desgraças” que, por ventura, atinjam a sua vida não passam de tempestades de superfície, pois as profundezas do seu oceano interno permanecem sempre em perfeita paz. E por ele ser um homem da paz, não tanto pelo que diga ou faça, mas pelo que ele é, compreende o sentido profundo das palavras de Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.

 

Depois que um homem praticou por um tempo e com intensidade, a sua comunhão diária com Deus, verificará que a luz da meditação vai se extinguindo gradualmente na medida que ele volta aos seus afazeres profissionais. E isto o enche de tristeza, porque desejaria viver nessa luz divina por todas as horas, chegando quase a invejar a sorte dos eremitas que passam a vida em perene meditação, como num permanente êxtase de alienação das coisas do mundo. No entanto, ele renúncia a esse desejo e continua a cumprir fielmente os seus árduos deveres profissionais, que lhe parecem corriqueiros depois da meditação.

 

Mas, vai verificando, na medida do seu progresso espiritual, que essa luz divina continua persistir parcialmente durante o dia, projetando reflexos sobre a zona dos seus trabalhos comuns, iluminando-os. E, na razão direta que esses reflexos se vão intensificando, esse homem verifica que os seus afazeres diários, mesmo os mais fastidiosos e antipáticos, deixam de ser corriqueiros, revestindo-se de prazer. Diz-se que o homem espiritual é nada prático e ineficiente nas coisas do mundo, porque não pode ao mesmo tempo interessar-se pelas coisas do espírito e pelas coisas da matéria. Mas o homem de meditação verifica o contrário: descobre que os seus trabalhos profissionais ganham em eficiência e dinâmica na razão direta da sua espiritualização. É que ele faz agora com inteira dedicação os mesmos trabalhos que, outrora, fazia com indiferença, por mera obrigação e indispensável meio de vida. Esses mesmos trabalhos, seus tiranos de ontem, são seus amigos de hoje, porque a imersão diária no mundo de Deus dá significação a tudo. Esse homem resolveu o problema da vida que atormenta milhões de infelizes que detestam o trabalho que fazem, descobrindo o segredo de amar o dever.

 

O homem de meditação diária também descobrirá que possui plena certeza da existência de Deus e da vida eterna. No passado, esse homem procurou adquirir essa certeza por meios de processos silogísticos e especulações intelectuais. Alinhava argumentos uns ao lado dos outros, como um viajante que lança pedras no leito de um rio a fim de chegar à margem oposta, saltando de pedra em pedra. Era impecável a cadeia silogística que ele forjava a fim de captar a Deus nas malhas sutis da sua rede filosófica – mas verificava que Deus não era o resultado final de nenhuma análise intelectual, que Deus não aparecia sob a objetiva do mais poderoso microscópio eletrônico, nem tampouco era achado no fundo das provetas, tubos e cadinhos de ensaio e nem em fórmulas químicas ... Convenceu, após muitas decepções, que Deus e a vida eterna não são coisas verificáveis por análises intelectual, mas por intuição espiritual, pela grande intuição cósmica de uma vida retamente vivida, e não de um silogismo corretamente construído.

  

A certeza espiritual não vem de provas e demonstrações, vem da experiência íntima de cada ser humano, nas coisas do espírito. Quem medita, descobre esta fonte eterna de toda a religião. Compreende a certeza que os grandes gênios religiosos possuíam de Deus e da vida eterna. E esta certeza, confere ao homem iniciado um sentimento profundo de poder, de segurança, de tranquilidade e felicidade, de que o profano e inexperiente não tem a menor ideia. Muitas vezes esse homem terá que ouvir da parte de dogmáticos que essa “certeza” não passa de uma bela miragem e ilusão subjetiva; que a verdadeira certeza provém da obediência incondicional à autoridade eclesiástica. O iniciado sabe que a sua certeza é sólida e válida, embora ele não seja capaz de comunicá-la aos que não passaram pela mesma experiência.

 

Jesus não conseguiu convencer os sacerdotes da igreja do que ele sabia do reino de Deus. É que ele intuía Deus, ao passo que os chefes da sinagoga só sabiam certas coisas sobre Deus. Nenhum iniciado pode transmitir aos profanos o que ele sabe, já que experiências diretas não são transmissíveis. Se fossem, haveria a possibilidade de “contrabando” ou intrusão ilegítima no reino de Deus, mas esse reino, porém, é o único onde não existe contrabando e ilegalidade. Não posso passar procuração a ninguém, nem posso encarregar o ministro ou sacerdote da minha igreja de ter em meu lugar experiência divina, e depois transferi-la para minha conta pessoal, pois isto é contrabando, extorsão. Meus amigos e correligionários, quando mais avançados do que eu, podem me auxiliar nessa aventura, mas não a podem fazer por mim. Em última análise, sou eu mesmo que devo me encontrar face a face com Deus, em profundo silêncio e solidão.

 

É assim que o iniciado pela meditação descobre que a liberdade pessoal e certeza espiritual, duas coisas aparentemente incompatíveis, se fundem numa grandiosa síntese e em perfeita harmonia.

 

A mais estranha experiência de quem medita, é o aparecimento de uma voz misteriosa que, não obstante o seu profundo silêncio, se revela com clareza. Essa voz íntima se faz ouvir cada vez que o homem se ache em perigo de resvalar para um plano inferior ou de fazer compromissos ambíguos com o mundo profano. A princípio, ela é fraca, imperceptível, mas na medida que o homem vai apurando o seu ouvido espiritual em concentrada meditação e retidão de vida, escutando o silêncio da alma, perceberá que essa voz se avoluma e se torna cada vez mais intensa, chegando a constituir-se em verdadeiro guia e anjo tutelar. Em momento de dúvida, basta que se concentre por uns momentos, se dispa de todo o egoísmo pessoal – e logo terá resposta à sua dúvida, e o caminho a seguir. Essa voz íntima é Deus que se revela pela consciência humana. Mas é necessário que o homem se habitue a ouvir a voz da consciência, e não interprete falsamente as suas mensagens, pois essa falsificação poderá ocorrer toda vez que o homem procure tirar vantagem pessoal dos seus atos, no interesse peculiar de seu ego. Por isto, quem medita deve se despir de todo motivo egoístico quando escuta a voz da consciência, caso contrário, tomará seus próprios desejos subjetivos pela revelação de Deus.

 

É, todavia, difícil o desapego do ego e que supõe íntima sinceridade. Os seres humanos gostam de se iludir interpretando seus desejos pessoais pela voz da consciência. Mas o homem honesto, que evita as manobras do ego, está livre do perigo e, seguindo o caminho indicado pelo misterioso monitor interno, chegará infalivelmente ao reino de Deus.

 

Paralelo a essas gloriosas conquistas asseguradas pela meditação profunda, corre um processo de libertação gradual da tirania do ego e do meio ambiente.

 

O homem profano nem sabe como está escravizado, já que vive anestesiado pelo vazio de sua vida agitada, não só pelas circunstâncias externas do meio social em que vive, mas pelas circunstâncias internas do seu próprio ego físico, mental e emocional. Pintou de dourado as grandes férreas da sua prisão e está convencido que mora num palácio em plena liberdade. A tal ponto se habituou ao cárcere em que vive que adora os seus queridos tiranos mentais e emocionais.

 

Só depois que ele vislumbrou a verdadeira liberdade, é que percebe que é um prisioneiro e sente o desejo de libertação, suspira por afirmar a soberania da sua substância divina sobre todas as tiranias das circunstâncias humanas. Só então, compreende o sentido das palavras de Jesus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, consequentemente, se libertando pela visão da verdade sobre si mesmo – e liberdade é felicidade. Ele já não pensa pela cabeça dos outros; uma nova intuição espiritual substituiu a velha analítica intelectual; ele é agora, um cosmo-pensado e não um ego-pensante.

 

Sabe o que é essencial e o que é secundário nas ocorrências diárias. Seleciona os fatos, as impressões, os pensamentos. Não acolhe todos igualmente; aceita o que favorece a sua verdadeira evolução, e rejeita o que é inútil e prejudicial. Compreende que “ser alguém”, não é alguma conquista externa, mas um processo orgânico interno, baseado no descobrimento da Verdade, da qual brotam a liberdade e a felicidade que o profano desconhece.

 

O homem, uma vez habituado a essa comunhão diária com Deus, já não pode viver sem ela. Só de homens dessa qualidade pode a humanidade esperar guia e redenção, no meio do caos em que se debate.

 

Texto revisado extraído do livro A METAFÍSICA DO CRISTIANISMO

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