Tuesday 13 July 2021

QUANDO O MISTERIOSO FASCINA!

O que acontece em todos os níveis das relações humanas também acontece na esfera da vida individual. Desde que o homem consiga violar os íntimos recessos de algo ou de alguém, esse algo ou alguém deixam de exercer atração e o fascínio que antes exercia. Antes, existia o fascínio da curiosidade... depois da descoberta e conhecimento, a magia do fascínio deixa de existir.

Muito mais fascinante é adivinhar, do que conhecer.

Nos interessa mais o que obscuramente vislumbramos do que aquilo que claramente enxergamos.

O fator “mistério” gera admiração e sem admiração não há nada de belo e atraente.

O homem incapaz de se admirar de algo é um homem desvirtuado, banalizado, insípido, e uma coletividade humana feita desses tipos de homens seria a coisa mais tediosa e insuportável.

A fascinação máxima está no mistério, nos abismos, na escuridão, no desconhecido.

Mesmo no mundo puramente físico, não existe verdadeiro encanto sem mistério; uma paisagem onde faltam recantos desconhecidos, penumbras, trevas, abismos, florestas, montanhas, mares ou quaisquer outros fatores que mais façam o homem adivinhar obscuramente do que se possa ver claramente - essa paisagem não é interessante para quem ainda conserve o senso natural do fascínio.

Por isso é que nesse aspecto, o homem deve ser como as crianças, para as quais tudo é misterioso, fascinante, milagroso ... porque é desconhecido. A criança não quer saber porque fadas, anões, duendes, Papai Noel, seres mágicos da natureza e outros produtos da imaginação fazem isto ou aquilo; o que são, de onde vem, para onde vão - a criança se delícia no milagroso e misterioso mundo dos incógnitos.

No contexto das pessoas adultas, a alma humana totalmente devassada deixa de ser interessante; aliás, é uma espécie de sacrilégio exigir que uma pessoa, por mais íntima que seja, nos escancare as portas secretas do seu santuário interior e sem nenhuma discrição coloque sobre a mesa, as cartas íntimas da sua personalidade humana - seria uma espécie de estrupo e uma prostituição compulsória.

Há pessoas que vivem juntas e se julgam donos e proprietários da outra parte conjugal, em vez de a considerarem como amiga e aliada; ignoram que qualquer ser humano, antes de ser masculino ou feminino, é uma personalidade e que absolutamente nenhuma intimidade deve eclipsar a personalidade humana. Onde não existe pelo menos um resto de incógnito personal, um mínimo de entrega, o amor conjugal está em vésperas de desamor, ou até de verdadeiro desprezo e ódio. O mistério é a base necessária para a estima e reverência, sem as quais todo amor é trivial e nulo. O mistério é um tipo de “castidade”, um “pudor” indispensável ao amor, à beleza, à felicidade.

Texto revisado, extraído do livro Filosofia Contemporânea, volume II

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