Monday 5 July 2021

CONTAMINANDO A REVELAÇÃO DIVINA

“Quem uma vez saboreou uma gota de Deus, não encontra descanso enquanto não se afundar no oceano dessa grande e eterna realidade.”

Toda mensagem religiosa, por mais pura, espiritual e divina, uma vez lançada ao meio dos homens e confiada às mãos profanas, corre o perigo de ser asfixiada sob o excesso de elementos humanos que, no decorrer dos séculos, se acumulam fatalmente em torno de seu núcleo divino, contaminando essa mensagem. Assim, a religião acaba por ser vítima de hipertrofia material e atrofia espiritual, tornando sem brilho, triste e desvirtuada a sorte das centelhas divinas quando do céu, caem sobre a terra.

Preservar a árvore da revelação divina dos parasitas das formalidades humanas, é a brilhante e necessária tarefa dos grandes gênios religiosos que se sentem chamados a cumprir uma missão espiritual. A valente tentativa dos verdadeiros reformadores espirituais do mundo é a de libertar a religião contaminada por esses parasitas.

Jesus foi o maior restaurador religioso da humanidade, o mais arrojado revolucionário espiritual. Enfrentou sem medo os poderosos pontífices da religião oficial e clássica da época e os desmascarou diante do povo iludido como “sepulcros caiados”. Arrancou, sem piedade as raízes podres com que quarenta séculos de ritualismo judaico haviam contaminado a árvore da revelação que Deus plantara aos pés do berço da humanidade. Por esse “crime”, ele foi declarado “o que insulta a lei”, pelo supremo chefe da religião e teve de subir ao Calvário, onde expirou entre dois malfeitores, como sendo o maior deles. E, de fato, diante dos olhos dos defensores das formalidades religiosas da época, proclamada como única religião divinamente revelada, infalível e salvadora, Jesus não podia deixar de ser o maior incrédulo e ateu, ao passo que, perante Deus e os verdadeiros espiritualistas, ele era e é o homem mais religioso do mundo.

É que muitas vezes, os grandes defensores da pureza da revelação divina são incompreendidos pelos seus contemporâneos, que tentam renovar essa incredulidade com a demolição dos seus ídolos e o retorno à primitiva simplicidade da religião.

De fato, nem todos os homens religiosos atingem a alma da religião, e os amigos das fórmulas feitas dificilmente compreenderão o que seja “adorar a Deus em espírito e verdade”, pois passar da periferia ao centro não é tarefa indicada a todos.

Por essa razão é que a mensagem de Jesus não pode cair escrava de ritualismos, mas fazer dessa mensagem uma religião mundial destinada a ensinar para a humanidade a adoração a Deus em espírito e verdade, e não a acabar numa piedosa seita, numa devota irmandade religiosa, com seus regulamentos, constituição, o seu hábito particular, os seus exercícios ascéticos destinados para um grupo de almas místicas segregadas da sociedade.

Não! O Evangelho de Jesus não pode degenerar em nenhuma religião nacionalista, teocrata, com seu deus ciumento, vingativo, com suas prescrições e proibições, rituais e dogmas, com seus sacrifícios, com a sobrecarga asfixiante das suas pompas religiosas vazias de espírito e verdade, como a moral estreita e mesquinha de seus ministros. Não! As divinas centelhas que Jesus espalhava pelas regiões da Palestina foram destinadas a evoluir numa religião internacional, mundial, que congregaria não apenas uma raça ou um punhado de almas devotas, mas todos os espíritos sedentos da verdade, todos os caráteres sinceros, todos os homens desejosos da espiritualização pela fé em Deus e na imortalidade, o materialismo da vida presente. Para todo e qualquer homens de boa vontade, o Evangelho de Jesus deve ser o farol orientador e energia alentadora, na longa e incerta travessia da vida terrestre.

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Em Mateus 23:27, “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois vocês são como túmulos caiados de branco que de fato parecem bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos de homens mortos e toda a impureza.”

O termo era uma figura de linguagem usada por Jesus ao se dirigir aos fariseus, significando um túmulo que foi pintado de cor branca. A cal era usada na época como corante, como uma tinta, mas o real significado consiste na forma com que os fariseus se apresentavam no templo, ornados de luxuosas vestes como supostos e justos doutores da Lei, mas que, no entanto, eram verdadeiros cadáveres ambulantes, vazios de conteúdo moral e ético, hipócritas e cheios de iniquidades por dentro.

Texto revisado, extraído do livro Paulo de Tarso

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