Friday 2 July 2021

O CONHECIMENTO DE BRAHMAN

“Não engane seu semelhante, não desprezes ninguém, nunca desejes que alguém sofra dor, seja por palavras ou pensamentos. Assim como uma mãe que mantém seu único filho com a própria vida, mantenha um imensurável amor por todas as creaturas.

Acima e abaixo de ti, por todos os lados, mantenha com todo o mundo, tua simpatia e imensurável amor, sem nenhuma intenção de ferir ou de inimizade.

Estar habitado por semelhante estado de espírito, seja andando, sentado, deitado e até que o sono te supere, se chama viver em Brahma, ou o Supremo Espírito.” Buda

 

Guenther Zuehlsdorf, em seu ensaio, “Vivência Espiritual como Realidade”, afirma que pela palavra Brahman, os hindus entendem como o Espírito Absoluto, a Suprema Realidade, a Consciência Todo-Penetrante, o único substrato não-dual e sem forma de tudo o quanto existe, da qual emanaram todos os seres, como centelhas de uma fogueira, como gotas saídas do mar. Pelo conhecimento de Brahman, dizem, o iniciado atinge o “summum bonum”, o sumo bem, a libertação, a imortalidade, o bem maior que o ser humano deve buscar, o objetivo final, e uma paz indestrutível. Na Bhagavad Gita (a Sublime Canção, ou a Canção de Deus), Krishna descreve o conhecimento de Brahman como o “mistério régio”.

Brahman não pode ser conhecido porque ele mesmo é o princípio que conhece. O conhecimento de Brahman supõe profunda intuição. Não pode ser alcançado nem por via intelectual, nem por conduta moral. Ele é atingido somente pela fé, pela meditação e pela pureza do coração. O ideal das Upanishades (escritura Hindu que apresenta a essência dos Vedas), não é o homem inteligente, nem o asceta, mas sim o sábio, aquele que alcançou essa intuição.

O conhecimento de Brahman transforma o homem em um Deus. Pelo fato de lhe revelar a sua verdadeira natureza divina, ele se perde na visão do Infinito; e desaparece a ilusão de estar separado do Todo, da qual nascem todas as fraquezas e imperfeições. Sendo que Brahman é a última e única Realidade, nada podemos tirar nem acrescentar ao seu Ser. Brahman se revela por si mesmo quando a ignorância desaparece - do mesmo modo que uma corda se revela como corda, quando a ilusão de que ela seja uma cobra desapareceu.

E não depende de forma alguma do homem, isto é, dos seus conceitos e das suas ideologias, que, em última análise não são outra coisa senão as imagens de algo existente. O conhecimento desperta no momento em que o homem desvia o seu espírito das coisas do mundo fenomenal e o dirige para o seu interior, quando ele cessa de perceber os ruídos e mergulha no silêncio, em cuja profundeza se revela a identidade, a essência do Ser.

Conhecimento vem expresso nas palavras: “Brahman Eu sou”, isto é, a alma individual e Brahman são idênticos e essa sua identidade não é simples fantasia ou imaginação; com outras palavras: a alma se conhece a si mesma como sendo Deus em Deus. Por esta razão nunca se deve relacionar Brahman ou o conhecimento de Brahman com alguma espécie de atividade, porque Brahman nunca pode ser objeto, das atividades, e nem do conhecimento humano. Nos Vedas se lê muitas vezes que o sol é Brahman, ou que se deva meditar sobre o Espírito. Frases como estas não contêm verdadeiro conhecimento, são apenas recomendações e culto. Brahman em si mesmo nunca pode ser objeto de devoção, de adoração ou meditação, porque Brahman não é uma entidade que o homem deva venerar.

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Os Vedas são os quatro textos das escrituras dos hindus: Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda e Atharva Veda. Eles são essencialmente uma literatura de canto, ritual e recitação para vitalizar e espiritualizar todas as fases da vida e atividade do homem. Nesse imenso texto, os Vedas (raiz sânscrita que significa “conhecer”) são os únicos escritos aos quais nenhuma autoria é atribuída. O Rig Veda atribui uma origem celestial aos hinos e que eles vieram de “tempos antigos”, recitados em uma nova linguagem. Divinamente revelado de era em era, para os videntes, dizendo-se que os quatro Vedas possuem uma finalidade atemporal. 

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