Monday 12 July 2021

POLÍTICA

Os regimes políticos que melhor se adaptaram a um estado de consciência ainda não evolvido da humanidade podem ser incompatíveis com os ideais de uma camada da humanidade mais evolvida. Assim, a forma monárquica, ou monocrática, era normal para a humanidade infantil, ao passo que o regime democrático condiz com o estado atual de uma grande parte da humanidade politicamente adolescente, embora não se possa afirmar que a democracia seja simplesmente a melhor forma de governo.

Vai chegar um tempo em que a humanidade modificará, conforme sua evolução superior, na idade madura, os regimes chamados democráticos hoje vigentes.

A função do Estado não é preencher o que falta na personalidade humana, mas criar ambiente de paz e segurança em que a personalidade possa desenvolver normalmente todas as suas potencialidades latentes. Poder não quer dizer violência, nem absolutismo, estado policial ou ditadura; mas, no momento, o poder é necessário para promover a harmonia social entre todas as partes do Estado, desde que sempre orientado pela razão, até que o próprio indivíduo seja capaz de se orientar por si mesmo. O poder público é um meio, e não um fim em si mesmo. O Estado não deve substituir ou limitar a personalidade, mas auxilia-la para que a pessoa possa atingir a plena dinamização de suas potencialidades, de tal modo que da perfeição de cada indivíduo resulte na perfeição da sociedade.

Benedito de Espinosa, famoso filósofo e pensador do século XVII, filho de judeus portugueses que, fugindo da perseguição católica, foi viver em Amsterdam, defende, implicitamente, o ideal da “Cosmocracia”, regime político em que cada indivíduo plenamente evolvido em si mesmo, se guie seguramente pela voz íntima da sua consciência, sem nenhuma necessidade de leis externas. Essa “Cosmocracia” (governo pelo Cosmos) seria uma espécie de “anarquia”, mas não uma anarquia por falta de leis, e sim, uma anarquia que dispensasse qualquer lei externa pelo fato de cada cidadão ter em si a lei interna, à qual obedeceria espontaneamente, não por medo de represálias ou de esperança de prêmio, mas em virtude de uma compreensão racional que o fizesse amar a lei como amiga, beneficiando a si mesmo e seus semelhantes.

Muitos homens desobedecem a lei, porque a odeiam.

Outros obedecem a lei, ainda que a odeiem.

Outros, porém, obedecem a lei porque a amam, e esse terceiro grupo representaria a Cosmocracia.

Entretanto, para que o homem possa amar a lei, aceitar a lei e cumpri-la espontaneamente - fazer o bem por causa do bem - é indispensável que ele tenha atingido elevado grau de evolução interior, que tenha chegado a “conhecer a verdade”, a verdade que liberta. Assim, o regime cosmocrático representaria o estado da “liberdade pelo conhecimento da verdade”.

“A finalidade do Estado - escreveu Espinosa - não é dominar os homens, nem lhes restringir a atividade pela imposição, terror; mas sim liberta-los para que possam viver e agir com plena segurança e sem perigo, para si e para seus semelhantes. A finalidade do Estado não é transformar seres racionais em brutos ou máquinas; mas sim habilitar o corpo e o espírito dos cidadãos a se integrarem melhor; é levar os homens a viver pela e para a razão livre, para que não desperdicem as suas forças em ódios e fraudes, nem se conduzam deslealmente. De maneira que a verdadeira finalidade do Estado é guiar o homem a ser livre.”

Porém é importante que os que estão à frente do Estado, sejam eles mesmos indivíduos plenamente conscientes de suas funções e que vivam entre si no mesmo grau de honestidade, verdade, justiça e liberdade que desejam de seus cidadãos. A princípio, nada de errado existe na política, pois o ser humano é um ser político por natureza e tem em seu livre-arbítrio, sua causa, sua verdade, mas também o seu juiz; a sua consciência. Errada é a forma oligarca com que se conduz a política em benefício próprio, ou dos grupos de poder com o objetivo de se impor e sobreviver à custa dos demais, prática que se tornou endêmica nas sociedades chamadas modernas. A política das oligarquias, estabeleceu partidos políticos com a mesma finalidade de poder, que se baseiam em divisões, pois a própria etimologia do termo significa divisão, e, portanto, divisão de interesses, e não a união em benefício de toda a coletividade.

A democracia – que já nasceu elitizada e cheia de controvérsias - teria como princípio, a representação e participação do povo no governo e que deve ser exercido pelos representantes eleitos pelo povo; um governo do povo, para o povo e pelo povo, é como a experiência da vida em si mesma, sempre mudando, infinita em suas variedades, dependendo sempre do grau de evolução das culturas. Mas hoje não se pode comparar esse princípio, com o que se passa com a vasta maioria dos países no planeta. Em alguns, a voz de seu povo ainda se ouve, mas no restante, a democracia vale apenas para uns poucos grupos de poder que influenciam e se beneficiam com as decisões ou obrigam decisões a serem tomadas sem a participação do povo, que são os cidadãos que mais trabalham e que menos tem o direito de decidir e os que menos são beneficiados. É uma democracia de rótulos apenas, uma farsa. A verdadeira democracia, nascida há 2500 anos na Grécia antiga, teve vida curta, de duzentos anos apenas, mostrando a realidade de que a humanidade ainda hoje vive em seu primitivo estado de consciência.

Portanto, nenhum regime político no atual nível de consciência da humanidade, ainda se arrastando pelas planícies estéreis da mediocridade, nem mesmo os de força, pois violência, força, gera força igual, de mesma intensidade em sentido contrário - de acordo com a terceira lei da física de Newton – que na metafísica corresponde à lei de Causa e Efeito - vai resolver os problemas gerados pela injustiça dos homens contra os seus semelhantes. Só mesmo uma nova consciência moral e ética, do conhecimento da verdade sobre si mesmo, poderá levar o homem do caos onde ele vive hoje, para um nível de harmonia e paz futura.

A humanidade se baseia no princípio da solidariedade, fraternidade, do altruísmo, entretanto é impossível esse senso de fraternidade universal humana, sem a experiência da paternidade universal divina. É necessário que a ética da vida cotidiana se solidifique na mística da permanente comunhão com Deus. Em realidade, a humanidade é nada menos que um aglomerado de seres humanos concretos, objetivando seus próprios e egoísticos interesses, consequentemente, todo egoísmo é fragmentado, que não integra, centrífugo, caótico. Todo egoísta quer ser um sol por si, e não tolera ser um planeta em companhia de outros planetas. O altruísta, o cultor do amor e da solidariedade, conhece e reconhece a centralidade do grande Sol divino, e sente-se feliz em poder gravitar em torno do astro central em companhia de outros planetas.

A lei do egoísta é caos, desordem, que se expressa nos sistemas políticos do homem do século XXI.

A lei do altruísta, do homem integral do futuro, é Cosmos, ordem, harmonia.

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De acordo com Paul Brunton em seu livro A MESSAGE FROM ARUNACHALA, no capítulo sobre Política, escreve: “Os políticos tentam esquecer a existência de Deus, e do fato das grandes mensagens de orientação e advertência que foram entregues aos homens, pelos Profetas. Há algo nisso que os deixam embaraçados, e, portanto, silenciam, pois segundo eles, Deus está muito distante da Terra para que a Sua presença seja sentida. Eles “lastimam” que a sociedade não possa se basear em leis divinas, e por isso, é melhor fundamentá-la nas leis que criaram para os diferentes sistemas. No entanto, o governo sem Deus não conseguiu fazer o homem feliz, apesar das abundantes promessas dos políticos, com isso, conseguindo formar nações de imensa pobreza espiritual. E eles, assim, fechando cuidadosamente os olhos para as realidades mais profundas da vida, fazem malabarismos com as externalidades do mundo profano. Para eles, ou a vida tem um propósito político ou um propósito divino. Se aceitam o primeiro argumento, forçam o apoio ao partidarismo político; caso contrário, deverão prestar homenagem, tempo e energia, ao Espírito Imortal.”  

Texto revisado e em parte extraído do livro Filosofia Contemporânea, Volume II

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